A Bethesda Parou No Tempo?



Houve um tempo com jogos simples, onde os bugs eram mínimos ou mesmo inexistentes.
Um tempo onde dinossauros e cartuchos conviviam em harmonia. Os jogos para PC viviam em isolamento, separados dos jogos para video game.

Mas as eras passaram e o mercado de jogos para PC integrou-se aos games em geral, coexistindo em parcial harmonia.
Os jogos tornaram-se mais complexos e, consequentemente, mais problemáticos.
Os bugs eram uma constante e as atualizações pareciam incapazes de erradicar completamente o problema.

Todd Howard começa a operar seus milagres dentro da Bethesda


Um homem, entretanto, já havia se afastado deste caminho muito tempo antes.
Todd Howard tinha uma visão diferente: um mundo onde os jogos abraçassem seus bugs, as tramas e diálogos sobrepujassem o gameplay e a programação fosse apenas um artifício febril.

(Às vezes eu me pergunto o que estou fazendo da vida quando escrevo estes textos…)
Bem, como você já deve imaginar, este é um texto sobre Starfield.
Porém, não um review, mas um texto opinativo sobre o estado do jogo e como ele repete grande parte do histórico da Bethesda.
E não, eu não joguei o jogo, seja pela falta de interesse, seja por não possuir um Xbox Series (ainda tenho o meu One aqui). Então se isto é um impeditivo ou descredencia minha opinião sobre o assunto, fique a vontade para simplesmente não ler o texto a seguir.

Os três mosqueteiros do marketing mentiroso nos games


Starfield foi vendido como um jogo inovador e revolucionário pelo já conhecido Todd Howard, o tio da mentira (o pai é Peter Molyneux, como bem sabemos).
Todd vende sempre seus jogos muito bem, com promessas exageradas e marketing sensacionalista, entregando sempre um produto final abaixo do prometido.

E não seria diferente com o título espacial da Bethesda, um jogo que está sendo planejado, e preste atenção no planejado, há 25 anos.
Não, o jogo não está sendo feito há 25 anos, obviamente.
O que ficou claro é que a Bethesda tinha interesse no assunto espacial, mas não sentia que tinha capacidade tecnológica para tanto.

Vinte e cinco anos de planejamento foram o suficiente?


Aí já começam os problemas, pois o escopo foi muito exagerado: 1.000 planetas para serem explorados…
Conforme a data de lançamento foi se aproximando (após inúmeros adiamentos), Todd resolveu explicar que apenas 100 seriam habitados, sendo todos os outros planetas desertos, com conteúdo gerado proceduralmente.

E o que se faz nestes planetas desérticos?
Coletar recursos, é claro! Explorar eventuais cavernas e minerar material para upgrades e venda…
Nossa, que “divertido”!

Uma parte do mapa espacial do jogo: planetas não habitados possuem geração procedural


Ao ser lançado, a empresa respondeu que os planetas eram vazios pois é o que ocorre no universo, tornando assim a experiência mais realista.
Espere aí, Todd, então quer dizer que Starfield é um simulador???
Achei que estivéssemos falando de um jogo de ficção científica.

E como prometido nos primeiros vídeos, onde era dito que você poderia descer em qualquer ponto do planeta, mostrou-se uma mentira, pois após escanear há pontos que podem servir de pouso para a nave pré-definidos, as pessoas começaram a explorar os planetas e se depararam com paredes invisíveis.
E tudo bem não ser possível circundar o planeta, afinal sabemos que consoles e mesmo o PC possuem suas limitações.

Paredes invisíveis mascaradas pela distância que o jogador não atingiria normalmente


Mas isto foi mascarado com a inexistência de veículos terrestres, que permitiriam explorar mais facilmente o solo e perceber as paredes invisíveis e o fato da nave não poder circular pelos céus dos planetas.
Ou seja, as paredes invisíveis, as quais você só percebe após percorrer em torno de 14 minutos caminhando em uma direção, estão em locais onde teoricamente os jogadores não iriam e então este “defeito” não seria notado.
Entretanto, não há limites naturais, como uma área de gás corrosivo, alguma matéria impenetrável ou algo do gênero, que pudesse justificar a inacessibilidade da área. O jogador simplesmente esbarra em uma parede invisível e recebe a mensagem de que atingiu o limite do planeta
Paredes invisíveis em 2023!

E os bugs?
Bem, esse é um jogo clássico da Bethesda, então eles estão por toda parte.
Dos mais engraçados aos mais problemáticos, incluindo o impedimento de continuar jogando seu save após a última atualização (sempre salve manualmente em múltiplos slots em TODO JOGO DA Bethesda), Starfield é um festival de bugs e glitchs e, infelizmente, isso já é uma “marca” da empresa.

Os bugs e glitchs gráficos são uma das infames marcas registradas da empresa


Patches futuros irão reduzir isso, é claro, mas sabemos pelo histórico da empresa que não serão completamente removidos.
E que, no PC, mods feitos pelos usuários irão melhorar em muito o desempenho e o gráfico do título, como já acontece nos outros jogos deles.

Isso acontece pois a Bethesda usa um engine própria, a Creation Engine, agora modificada para Creation Engine 2, mas não exatamente uma nova versão da original e sim uma versão com modificações.
Não bastasse isto, a programação dos jogos da Bethesda costuma ser repleta de remendos e gambiarras (quem não lembra do trem que era o chapéu de um NPC que corria abaixo dos trilhos em Fallout 3?).

Uma solução, no mínimo, diferente


A empresa é notória por ter bons roteiristas na construção do lore e mesmo das sidequests.
No caso de Starfield, curiosamente, as pessoas elogiam a campanha principal (algo que geralmente era fraco nos jogos da empresa), mostrando aquilo na qual a Bethesda é realmente boa: criar mundos imersivos.

Então, se Starfield é justamente um jogo dentro dos padrões do que se esperava para a empresa, por que a recepção mais negativa que o habitual?
Bem, aqui temos alguns fatores, sendo o primeiro deles a exclusividade do título para o Xbox, nos consoles.
Sabemos que isto influencia alguns reviews e mesmo contribui para o review bombing, prática tão famigerada nos agregadores de conteúdo e já comum aos jogos exclusivos.
Lembrando que este jogo não é um título desenvolvido diretamente para o Xbox, ele já estava sendo planejado e produzido anteriormente à compra pela Microsoft, sendo, portanto, um projeto parcialmente desenvolvido como exclusivo.

Ok, algumas situações até ficam melhores com bugs…


Outra questão é a maior exigência dos jogadores atuais.
Fallout 4, o último grande jogo single player da empresa foi lançado em 2015, tendo já reclamações pela simplificação de escolhas, mas com uma boa recepção, apesar disto.
Depois dele, Fallout 76 teve um lançamento desastroso, fruto de péssimas decisões de negócios, como focar uma franquia famosa pelo single player entrar em um universo multiplayer, sem NPC’s em seu lançamento e com uma série de restrições de gameplay.

Este foi um momento nefasto dentro da companhia, com memorabilia e itens de colecionador de baixa qualidade, incluindo qualidade inferior ao que fora prometido na sacola da edição de colecionador, a garrafa de Nuka Dark Rum que “esconde” uma garrafa real com a bebida dentro dela (essa foi bem ok, vai) e o capacete em tamanho real no qual foi encontrado mofo devido ao armazenamento em estoque.
Isso que eu nem entrei no assunto do serviço de assinatura que dava uma “mesada” mensal para os jogadores…

Na esquerda, a sacola da edição de colecionador como prometido, de lona, enviada seis meses após as reclamações; na direita, a sacola de nylon, enviada junto com a edição, contrariando o que fora anunciado na propaganda da edição
O serviço de assinatura mensal prometia benefícios como servidor privado


No fim das contas, Starfield não foge ao padrão dos jogos da Bethesda, mas os jogadores aparentam cansaço com o pouco polimento dos títulos dela, bem como a falta de inovação no gênero, pecando na baixa intuitividade do jogo, o excesso de menus e o velho problema do peso no inventário.
Parece que o padrão de (baixa) qualidade da empresa não satisfaz mais sua fanbase como antigamente.
O jeito é esperar (e torcer para) The Elders Scrolls 6 ser um jogo mais inspirado e com melhor polimento, mas claro, nunca se deixando levar pelas promessas do falso profeta Todd Howard…

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