* Esta análise foi feita com o código cedido pela Epic Games (versão PS4/PS5)

Distribuidora: Epic Games
Produtora: Remedy Entertainment
Plataforma:  PS4 / PS5 / Xbox One / Xbox Series S / Xbox Series X / Switch / PC
Mídia: Física e Digital
Ano de Lançamento: 2021

Alan Wake Remastered é o remaster (como o nome sugere) do título de terror original do Xbox 360, lançado para as plataformas atuais, incluindo seus dois dlc’s (The Signal e The Writter), abordando o caso de Alan Wake, um escritor que se vê preso em uma dupla de realidades sombrias.

BLOQUEIO CRIATIVO

Alan Wake é um aclamado escritor de romances sobre terror, que enfrenta um severo bloqueio em sua escrita, tendo um hiato de seu processo criativo que já dura dois anos.
Para tentar relaxar sua mente, ele embarca em um passeio com a esposa, Alice Wake, para a pacata cidade interiorana de Bright Falls*.

* O jogo conta com uma série de trocadilhos, seja pela cidade de Bright Falls, referência às “quedas d’água (cataratas) brilhantes”, mas também ao brilho (luz) que desaparece da cidade. Outro trocadilho recorrente é o sobrenome do personagem Wake (acordar), uma referência ao fato do protagonista ver-se preso entre duas realidades às quais ele não consegue acordar. O sobrenome do protagonista faz referência ao seu problema, assim como originalmente Max Payne, também da Remedy, fazia referência ao drama existencial do detetive.

A viagem para seu relaxamento, entretanto, é interrompida por uma ligação de seu produtor, Barry Wheller, que acredita ser este o caminho para que o bloqueio criativo de Alan acabe.
Esta visão é secretamente corroborada pela esposa do escritor, Alice, que leva uma máquina de escrever para o passeio, como um incentivo para a tentativa da retomada do novo livro.

Após uma discussão do casal, Alan abandonada a cabana, não sendo seguido por Alice, que possui medo patológico do escuro, motivo pelo qual eles sempre carregam lanternas.
O escritor escuta os gritos da esposa na cabana e retorna rapidamente, sem encontrá-la.

ACIDENTE DE PERCURSO

Ao mergulhar no lago, atrás de Alice, Alan acorda em “outra realidade”, onde sofreu um acidente de carro. Ele não lembra como chegou lá, mas ao descer do veículo se depara em uma estrada vazia, com pouca luz à sua volta.

Explorando a região, ele se encontra com um sujeito envolto em sombras, que tenta atacá-lo com um machado. É seu primeiro encontro com a Presença Obscura, uma entidade que habita a cidade de Bright Falls.
Alan é contatado por uma luz, que lhe ensina como combater os inimigos possuídos pela escuridão: antes de atacá-los diretamente, é preciso utilizar uma lanterna para remover a Presença de seus corpos, só então ferindo-os com tiros.

A Presença Obscura não possui apenas seres humanos, mas também pássaros (que atacam em grandes revoadas) e objetos inanimados, podendo arremessá-los no personagem.
A base de combate do título, portanto, gira em torno de enfraquecer os inimigos com o uso da lanterna (L2) e em seguida atirar neles com o R2. Perceba que o simples direcionamento do feixe de luz sobre o inimigo vai lentamente removendo sua camada de escuridão, mas isto pode ser intensificado segurando o L2, o que também foca a mira para os disparos mais precisos, entretanto consome as pilhas da lanterna rapidamente.

As pilhas precisam ser coletadas e são trocadas com Triângulo, mas você pode poupar-se deste trabalho constante utilizando menos o foco da lanterna (ao menos para os inimigos normais).
Os pássaros são facilmente derrotáveis somente passando o feixe de luz sobre eles, enquanto os objetos duram mais tempo, precisando de foco direto, mas em ambos os casos, não é necessário atirar contra eles.

Além das armas convencionais, como revólveres, escopetas e rifles de caça (que podem ser recarregados mais rapidamente pressionando Quadrado repetidamente durante a ação), pistolas sinalizadoras que, embora possuam apenas um tiro por carga, tem alto poder de destruição e podem quebrar camadas de escuridão mais facilmente e mesmo derrotar automaticamente inimigos mais fracos, sem precisar remover a camada antes de atacá-los diretamente.

Os itens manuais permitem lutar de formas diferentes, como os Sinalizadores, que podem ser segurados (R1) acima da cabeça, afastando os inimigos próximos e removendo lentamente sua escuridão. Já as granadas de atordoamento podem matar inimigos comuns automaticamente ao serem arremessadas (também com R1).

A luz, elemento de proteção e ataque de Wake, pode ser utilizada por projetores encontrados em alguns locais.
Em alguns casos, geradores precisam ser ligados previamente, através de um quick time event, ao pressionar X quando o medidor passa no ponto específico, conforme o escritor puxa a corda de arranque. Estes geradores também servem para ligar a luz de postes, que serve como checkpoint e recuperação de vida.

Wake pode desviar de ataques inimigos com o L1 + direcional esquerdo, escolhendo um lado para o movimento. Se feito no último segundo, a esquiva gera um movimento em câmera lenta, que permite observar melhor o ambiente e planejar a rota. Os inimigos humanos não possuem armas de fogo, mas podem arremessar picaretas e facas em direção ao escritor.

COMBUSTÍVEL DE PESADELO

Durante a sua investigação, ele passa a encontrar páginas que descrevem eventos pelos quais passará.
Estas páginas de manuscrito são, não apenas dicas do que ocorrerá em seguida, como também parte dos coletáveis do jogo (mas algumas delas estão apenas na dificuldade Pesadelo).

As garrafas de café também são coletáveis do jogo, afinal o que seria um escritor sem garrafas térmicas repletas de café?
E temos também os programas de televisão, que tecnicamente não são coletáveis, mas podem ser assistidos nas televisões do jogo, sempre com um episódio de Night Springs, um programa com contos de terror e ficção científica (filmados com atores reais), aos moldes de Além da Imaginação.

Os dois DLC’ contêm coletáveis próprios, sendo em The Signal os Despertadores e as Figuras de Papelão dos personagens da trama original e em The Writer os 10 jogos de Night Springs.

NOVA EDIÇÃO

Graficamente, Alan Wake envelheceu bem, a remasterização dá uma polida leve nos modelos de personagens e corrigiu o problema de “gengivite” que os personagens possuíam no original (quem jogou no 360 vai lembrar dos personagens com gengivas enormes).

O casaco de tweed (com proteção nos cotovelos) do protagonista ganhou uma boa repaginada na fibra do tecido, um detalhe simples, mas que aparece bem em algumas tomadas mais próximas, especialmente sob a luz dos postes.

Apesar da correção na boca, os modelos dos personagens possuem alguma defasagem, que fica mais evidente nos NPC’s comuns durante a aventura.
Os inimigos, cobertos pela escuridão, possuem um visual mais discreto, que disfarça eventuais “problemas”.

O jogo também se beneficia da escuridão presente em grande parte do título; os trechos durante o dia geralmente são curtos e mais focados em cutscenes.

Embora um título mais linear, Alan Wake possui bastante exploração em pequenos trechos e desvios, como os estoques de itens extras nos baús.
Os cenários possuem momentos amplos, incluindo as partes onde é possível dirigir pelas estradas, mas fica bastante concentrado em florestas, que podem incluir armadilhas para urso no chão.
Destaca-se a fazenda dos irmãos Anderson, onde o palco da Old Gods Of Asgard vira um campo de batalha contra grandes hordas de possuídos.

A dublagem destaca-se pelo trabalho de Matthew Porretta (que dá voz a Alan Wake, mas a aparição nas TV é do ator Ikka Villi), Fred Berman (a voz de Barry Wheeler), Kate Weiman (Barbara Jagger), Cliff Carpenter (Odin Anderson) e Lloyd Floyd (Tor Anderson e o narrador de Night Springs).

A trilha sonora dá um show a parte, com músicas de Poets Of The Fall, Roy Orbison, Harry Nilsson e David Bowie, entre outros artistas. A OST variada encaixa bem no clima cinematográfico da obra.

PLATINANDO A ESCURIDÃO

A platina de Alan Wake é um pouco burocrática e também difícil.
Para começar, os coletáveis são as páginas de manuscritos (sendo algumas somente na dificuldade Pesadelo, desbloqueada após finalizar o jogo pela primeira vez), os pontos de interesse de Bright Falls, as garrafas de café, os episódios de Night Springs e os rádios (sendo que destes todos, apenas os manuscritos podem ser facilmente rastreáveis via seleção de capítulos).

A dificuldade Pesadelo em si, onde os inimigos causam mais danos, precisa ser encarada depois. Além dela, troféus relacionados a ações específicas do jogo, como recarregar 100 vezes a lanterna, obter números de abates por armas, troféus de speen run em algumas áreas, etc., completam a lista.

Adicionalmente, dois sets de troféus separados, um para cada DLC, estão disponíveis, não influenciando a platina em si.
Estes dois DLC’s são mais difíceis que o jogo padrão, com menos recursos e modificações de gameplay.

RESUMO DA ÓPERA:
Alan Wake Remastered é o retorno triunfal do escritor/atirador uma década após seu lançamento original, agora para mais plataformas, trazendo uma versão atualizada e bem polida, sem perder o charme.

O pacote conta com as duas DLC’s de expansão da trama, The Signal e The Writer, onde a dificuldade aumenta e os recursos são mais escassos.
American Nightmare, entretanto, não está inclusa, por tratar-se de um spin off voltado para o modo arcade.

As melhorias gráficas são sutis, como as texturas do casaco de Wake e o tratamento dentário que consertou as gengivas dos personagens (é sério, isso incomodava muito no original).
O jogo faz um bom uso da luz e sombra, beneficiando-se da escuridão constante, essencial para a mecânica da lanterna, ao mesmo tempo em que mascara eventuais cenários menos detalhados.

A jogabilidade envelheceu bem, embora o fôlego do escritor continue curto e seus saltos ainda sejam um tanto atrapalhados.
O desempenho do jogo é bom, com fluidez de movimento durante o combate; algumas cutscenes, entretanto, apresentam pequenas “engasgadas” e quedas curiosas de frame rate.

A narrativa instigante é um dos pontos altos do título, fazendo referências às obras de Stephen King e outros autores de terror, além de brincar com clichês do gênero.
Sam Lake, roteirista do jogo (bem como outros títulos da Remedy), faz uma aparição como ele próprio em um programa de TV, sem falas, apenas reprisando sua expressão em Max Payne (personagem ao qual emprestou o rosto no primeiro jogo); Lake voltará na continuação como um investigador do FBI.

Um jogo de suspense/terror ainda atual, Alan Wake retorna em sua versão remasterizada, agora para uma audiência maior, pavimentando o caminho para sua tão aguardada continuação.