* Esta análise foi feita com o código cedido pela Frontier Developments (versão PS4/PS5)
Distribuidora: Frontier Developments
Produtora: KeokeN Interactive
Plataforma: PS4 / PS5 / Xbox One / Xbox Series S / Xbox Series X / PC
Mídia: Física e Digital
Ano de Lançamento: 2023
Deliver Us Mars é um jogo narrativo de exploração espacial, continuação direta de Deliver Us The Moon, com foco na busca pela salvação da raça humana e a relação entre uma jovem astronauta e seu pai.
O ÚLTIMO SUSPIRO DA TERRA
Os recursos naturais do planeta Terra entraram em colapso e a humanidade está à beira da extinção.
Investindo na exploração espacial como forma de tentar obter energia, a missão lunar Fortuna (Deliver Us The Moon) obteve sucesso com o sistema de distribuição de energia MPT, criado por Isaac Johanson.
Porém a situação na Terra continuou em decadência e, mesmo com o sistema MPT em funcionamento, plantas e animais começaram a entrar em extinção num ritmo assustador.
Isaac, que integrara o Conselho Lunar após a morte da esposa, tendo deixado a filha mais velha (Claire) na Terra e tendo obtido a guarda da filha mais nova (Katy) e a levado para a Lua.
A criação das ARCAS foi um passo importante para tentar a colonização em outros planetas, mas uma cisão no Conselho Lunar e a falta de espaço e recursos para levar a população terrestre selecionada na missão para popular Marte acabou resultando na criação de um grupo interno: Outward (incluindo a Dra. Rosa Laverde e William McArthur).
Eles partiram da Lua levando uma das ARCAS e foram para Marte, na esperança de conseguir fundar uma nova colônia.
No início do jogo vemos Isaac fugindo de um grupo de astronautas, incluindo sua filha mais velha, enquanto tenta escapar com Katy.
No processo, ele acaba abandonando Katy e indo sozinho com a última ARCA.
SOBREVIVENDO À TERRA
Alguns anos mais tarde, Kathy Johanson, agora já próxima de entrar na vida adulta, trabalha na manutenção das estações MPT, junto de Ryan, seu colega na WSA, a agência espacial.
Ryan é casado com Sarah Baker, astronauta que foi abandonada por Isaac na Lua, onde ficou sozinha por 6 anos.
Junto ao grupo encontra-se Claire Johanson, irmã mais velha de Kathy e que foi responsável por resgatar a garota durante a fuga de seu pai.
Sem as ARCAs, no entanto, a equipe ficou sem formas de atingir Marte.
Mas tudo muda quando uma mensagem é recebida diretamente do Planeta Vermelho, na qual um fragmento da voz de Isaac chama pela sua “Ursinha Lunar”, apelido que ele dera à Kathy na infância.
Após anos sem contato com o planeta, uma missão de emergência é formada para tentar alcançar Marte com a nave Zephyr, a última disponível na WSA que pode ser capaz de tal feito.
No entanto, a equipe formada por Claire, Ryan e Sarah precisa de mais um membro; invadindo a reunião no qual isto estava sendo decidido, Kathy acaba por ser escolhida, apesar da desaprovação da irmã mais velha.
O grupo parte, sob protesto da população local, que ataca o transporte até a nave espacial.
A missão é clara: recuperar as nave-colônias ARCAs e retornar para a Terra, na tentativa de embarcar o maior número possível de seres humanos e tentar uma nova colonização espacial antes que a raça seja extinta.
Kathy, no entanto, possui um interesse extra: localizar seu pai.
CORPO NO ESPAÇO, MENTE NO MUNDO DA LUA
O jogo se passa em “duas realidades”: a missão onde Kathy deve operar parte dos instrumentos da Zephyr e fazer reparos necessários na nave e suas memórias de infância com o pai.
As partes de operar a espaçonave são muito interessantes e, embora simples, impressionam pelo realismo (talvez um verdadeiro astronauta ache muito simplório, mas somos meros jogadores de video game).
Controlar a rotação do motor, desacoplar módulos, acionar turbinas, entre outras funções são feitas pelo painel, durante o lançamento.
Cada membro da nave possui suas funções, então você fará uma série de tarefas, mas não todas.
Mesmo assim são vários procedimentos, com a ajuda visual do realce na parte do painel que você precisa acessar.
Kathy também é responsável por cortar destroços de lixo espacial que eventualmente acertam os propulsores, para isto utilizando a ferramenta de corte, com o R2, que dispara um laser contínuo, precisando contornar o metal até removê-lo.
Antes disso, contudo, é preciso acessar o painel de energia para não explodir os motores.
Tudo isto, é claro, enquanto navega pelo espaço com o traje espacial.
Já de volta para dentro da nave, é possível explorar alguns compartimentos com a gravidade desligada.
Uma vez em Marte os desafios mudarão, com o uso de rovers (grandes veículos com rodas) para se locomover por terra e operar puzzles de transferência de energia (semelhantes ao do início do jogo, com a energia MPT), porém mais complexos agora.
Um “canhão” de energia dispara um feixe que deve ser direcionado para os receptores.
Porém, nem sempre a energia está na força correta: nestes casos, existem dois objetos úteis para auxiliá-lo.
Um repetidor móvel, que pode lançar dois feixes simultâneos (apenas quando alimentado pelo canhão) e um intensificador de energia que, ao ser atravessado, aumento a potência.
Além destes, AYLA, um simpático “robô” voador (A.S.E.), semelhante ao ACE de DUTM auxilia, podendo ser equipado com triângulo, assumindo assim o controle direto dele em primeira pessoa, podendo passar por tubulações e ativar comandos para abrir portas, além de poder carregar alguns objetos.
Como citado anteriormente, outra parte se passa nas memórias de Kathy com sua família, especialmente a relação com o pai.
Nestes memórias vemos como Isaac era um workaholic, que constantemente partia em missões e abandonava a família.
Após a morte da esposa, ele transferia a guarda temporariamente para Claire, enquanto se ausentava.
Esta tensão constante alimentou um sentimento negativo na filha mais velha, que passou a fazer o papel de “mãe” para a irmã mais nova.
As memórias de Kathy com relação ao pai envolvem o treinamento para viver na Lua que recebeu desde pequena, incluindo mergulhar para conhecer destroços de espaçonaves e habituar-se a mover-se simulando a falta de gravidade, e escalar paredões com a ajuda de Picaretas para Escalada.
Hologramas também podem ser acessados, com a ajuda de AYLA, onde três encaixes precisam ser conectados simultaneamente ao holograma do A.S.E., puzzle este que envolve a movimentação em 3D.
ARTE ESPACIAL
O gráfico de DUM sofre de alguns pequenos problemas, como a constante falha nas sobrancelhas e cabelo de alguns personagens.
O jogo possui um estilo 3D caricato, com proporções de personagens levemente exageradas.
O interior da Zephyr e o visual da nave, do espaço sideral e de Marte é bastante impressionante.
Infelizmente, ao explorar áreas abertas em Marte, o frame rate sofre quedas bruscas, com alguns engasgos quando há muitos elementos em tela.
Dentro das estruturas não há este tipo de problema, que parece ser mais afetado pela renderização de grandes cenários.
A trilha sonora, assinada por Sander van Zanten, possui temas grandiosos, porém discretos, com o ar de mistério que cabe bem ao tema da exploração espacial.
A dublagem é sólida e ganha destaque nas vozes de Ellise Chappell (Kathy), Neil Newbon (Isaac), Bryony Tebbutt (Claire), Nicole Tompkins (Sarah Baker) e Edward Reekers (William McArthur).
PLATINA VERMELHA
A platina de DUM é tranquila e envolve uma série de coletáveis: assistir todos os hologramas, coletar todos os gibis, ler todos os AstroTalks e escanear todos os objetos de interesse.
Há três troféus de time attack, envolvendo realizar atividades em algumas fases dentro de um tempo específico, mas por motivos de spoiler, não entrarei em detalhes sobre tais atividades, bem como os outros troféus, relacionados à narrativa.
RESUMO DA ÓPERA (ESPACIAL):
Deliver Us Mars é um jogo que impressiona pela narrativa madura e complexa, englobando não apenas o destino da humanidade após o esgotamento de recursos naturais, mas as traições da natureza humana e uma relação conturbada da família Johanson.
Embora não seja necessário jogar o título anterior (Deliver Us The Moon) para entender este, as tramas se complementam e trazem mais detalhes sobre os personagens e seus destinos, especialmente Isaac Johanson.
O jogo possui uma belíssima e atmosférica trilha sonora, além de um ótimo trabalho de dublagem e puzzles desafiadores, mas sem fazer com que o jogador perca muito tempo.
Há um grande foco em coletáveis que, embora sejam opcionais, agregam bastante à experiência narrativa em geral.
O gráfico possui seus deslizes, como os já citados sobrancelhas e cabelos, mas apesar disto não faz feio no estilo cartunesco em modelagem 3D.
A engine infelizmente sofre de alguns momentos de quedas de frame rate notáveis nas áreas mais abertas, durante a exploração em Marte, mas nada que realmente atrapalhe o gameplay.
Uma trama melancólica e ao mesmo tempo fantástica, Deliver Us Mars é um excelente jogo narrativo de ficção científica, tratando de dramas humanos como poucos títulos conseguem fazer.