
Uma “evolução” do pinball, as máquinas de arcade surgiram como uma alternativa eletrônica à antiga diversão mecânica de rebater uma bola com a ajuda de pequenas palhetas.
O gosto pelo desafio sempre foi um campo dominado pelos homens, seja pela competitividade inerente ao gênero ou mesmo à configuração social que se estabelecera no passado.
Portanto era natural que os homens tivessem um interesse maior pelos jogos eletrônicos, ao menos no passado.
O interesse feminino pelas diversões eletrônicas começou a crescer nas últimas décadas e apenas a despontar nas mudanças de foco do mercado.
Em um futuro próximo veremos mais adequações ao público feminino, uma vez que as gerações de jogadoras crescerão e tornar-se-ão uma nova geração também de desenvolvedoras.
Mas voltando ao público gamer majoritariamente masculino, era natural que, conforme as gerações passavam, os assuntos começariam a evoluir, seja em mecânicas ou evolução de narrativas.

Agora não mais bastavam os jogos puramente arcade ou objetivos simples como salvar princesas e namoradas raptadas.
Roteiros mais elaborados eram ansiados por novos consumidores e, especialmente, por antigos e apaixonados novos desenvolvedores do mercado, que queriam expandir seu hobbie.
Política, História, Ficção Científica… o mundo era o limite para estas novas mentes que criavam jogos.
E a paternidade cedo ou tarde se tornaria um destes assuntos.

O ano de 2013 marca um passo importante nos chamados “Jogos de Pai”, com dois títulos: The Walking Dead: The Game (Season One) e The Last Of Us.
Estes dois jogos iriam, de maneiras diferentes, influenciar uma nova leva de narrativas com pais como protagonistas, ainda que “pais adotivos” em ambos os casos.
Porém, antes deles, houve um pioneiro no ramo, ainda que de uma forma um tanto quanto atrapalhada.
Em 2010, apenas três anos antes, Heavy Rain narrava um drama/thriller policial interpretado por quatro protagonistas, em torno das mortes do Assassino do Origami, um serial killer que matava meninos afogados durante o período de grandes chuvas.

Scott Shelby, um detetive particular investiga os sequestros de crianças relacionados ao caso; Madison Paige, uma jornalista com problemas de insônia vê-se subitamente envolvida no desaparecimento de um garoto; Norman Jayde, um policial do FBI que sofre os efeitos da realidade virtual utilizada em suas investigações e Ethan Mars, pai que perdeu um de seus filhos em um atropelamento e vive o desespero de ter o outro filho desaparecido.

A trama, dividida em quatro partes, com múltiplas escolhas e finais, gira em torno do sequestro de Shaun Mars pelo Assassino do Origami e as implicações de até onde Ethan iria para salvar o próprio filho.
Em contrapartida, o próprio assassino foi um menino vítima de um pai negligente, que não impediu a morte do outro filho, gerando um trauma que resultou na psicopatia futura do irmão.
Apesar de alguns furos no roteiro e interpretações de qualidade duvidosa em inglês (uma vez que parte do elenco não era de origem anglófona), Heavy Rain foi um primeiro passo nas “narrativas de pais tristes” (como são nomeadas por vezes).

Três anos depois, no entanto, os já citados TWDTG e TLOU criariam o subgênero dos pais tristes com dois homens adultos cuidando de meninas que não eram suas filhas, mas se afeiçoando a elas como se assim o fossem.
Lee Everett, um professor universitário que está sendo conduzido à prisão por ter matado a esposa, durante o começo do apocalipse zumbi e Joel Miller, um contrabandista que teve sua filha morta por militares vinte anos antes e agora precisa atravessar os EUA escoltando uma menina que carrega a possível cura da humanidade em seu corpo.

Ambos os jogos possuem abordagens diferentes em relação à paternidade: enquanto Lee tenta proteger a pequena Clementine dos horrores de uma humanidade decadente, Joel mantém-se frio durante boa parte da jornada, até mesmo antagonizando Ellie.
Fato é que os dois jogos de 2013 influenciaram uma nova leva de jogos onde a paternidade passou a integrar tramas, sendo importante mesmo para aqueles que nunca tiveram filhos (mas ajudei a criar o Atreus).
Menções honrosas para John Marston nas poucas missões onde educa Jack, Booker DeWitt e sua convoluta e complexa paternidade em Bioshock Infinite, Kiryu e sua filha adotiva Haruka em Yakuza e o amor paterno brucutu entre Marcus e JD Fenix (em Gears Of War).

Talvez em um futuro não muito distante, as narrativas de mães e filhas tornem-se presentes nos games, desenvolvidas por mulheres, uma vez que já temos alguns exemplos recentes, mas ainda pelas mãos de homens, como a androide Kara e sua protegida Alice (filha, inclusive, de um pai abusivo, em Detroit Become Human).