
Uncanny Valley, ou Vale da Estranheza, é um fenômeno que acontece no cérebro humano quando uma réplica aproxima-se muito do comportamento humano, mas é rejeitada pela mente que a observa.
Crescemos observando rostos humanos e com isto aprendemos suas nuances e formas.
Quando vemos algo que se aproxime muito, mas não seja realmente humano, sentimos uma repulsa natural.

Desta forma, rostos humanos menos realistas, como desenhos e caricaturas, nos parecem mais naturais e acetáveis, embora menos realistas.
Traços mais estilizados ajudam a reduzir o problema do fotorrealismo, como o usado nos jogos da Naughty Dog, por exemplo.
Lá, temos rostos até certo ponto fotorrealistas (em especial em Uncharted 4 e The Last Of Us 2), mas proporções mais exageradas, ainda que sutilmente, de modo que não nos incomodamos com o que vemos, embora não consigamos detectar automaticamente o que está estilizado nestes rostos.
Por outro lado, jogos que apostam no fotorrealismo total, podem nos parecer realistas e sem incômodo quando tratamos de objetos (carros são o melhor exemplo disto), mas personagens humanos com este fator geralmente causam aquele incômodo (e angústia em algumas pessoas).

Este comportamento não é exclusivamente humano.
Um experimento realizado pela Universidade de Princeton expôs cinco macacos a imagens de macacos reais, versões realísticas e versões irreais de rostos simulando faces de outros macacos.
O resultado mostrou que as cobaias reagiam mais negativamente aos rostos realistas, aceitando melhor as versões reais ou mesmo aquelas que não tentavam reproduzir diretamente as faces.
Não há uma explicação detalhada (ou exata) para o que causa o Vale da Estranheza nos humanos e outros primatas, mas provavelmente é um mecanismo de defesa incidental de cérebros mais complexos quanto a possíveis cópias ou detecção de expressões.
Uma mãe que veja o seu bebê com uma expressão estranha no rosto, por exemplo, logo se preocupa com alguma doença acometendo a criança.

Conforme evoluímos como raça e passamos a viver mais em sociedade, nos tornamos mais políticos e, portanto, mais suscetíveis a enganações por nossos correspondentes.
Buscando possíveis expressões de mentira ou falsidade, analisamos profunda e subconscientemente rostos humanos.
E um rosto simulando a realidade é um alarme para algo errado à nossa frente.

Recentemente, o episódio final da terceira temporada de Love Death + Robots, Jibaro, ficou famoso por “romper” o Vale da Estranheza.
Embora concorde que o episódio é impressionante, a animação ainda me causa certo desconforto pela “criatura” de aparência humana, sendo que os próprios humanos parecem menos humanos.

O Vale a Estranheza aplica-se não apenas a jogos e animações, mas também robôs humanoides realistas que simulam expressões, enquanto robôs menos realistas nos parecem mais naturais e aceitáveis.


Talvez, em um futuro não muito distante, vejamos finalmente uma animação capaz de romper a barreira do desconforto, mas por enquanto continuamos sentindo ojeriza por simulações de expressões faciais de nossos semelhantes.
Robôs e alienígenas, estamos de olho!
Especialmente no senhor Mark “Reptiliano” Zuckerberg…