
Quando eu tive a ideia para esse texto, estava um pouco em dúvida sobre qual seria o título.
Mas a escrita é uma “entidade viva” e, uma vez que você comece, mesmo planejando estritamente, as ideias fluem de maneira completamente livre e dificilmente você consegue encerrar um texto como pretendia.
Porém, isso não vem ao caso agora, prossigamos.
Recentemente eu escrevi o review de Assassin’s Creed Mirage (que você pode ler aqui) e no processo de jogar o título para criar o texto, veio à cabeça essa ideia de quão justo pode ser um review de algo que somos fãs.

Geralmente aqui no site tentamos ser o mais imparciais possíveis, mas a imparcialidade completa é uma utopia: sempre seremos tendenciosos, a questão é o quanto!
Assim que os primeiros reviews e impressões sobre Mirage surgiram na internet, muito se falava como o jogo era uma mentira, mais do mesmo, chato, bugado… a ladainha de sempre com relação aos jogos da Ubisoft.
Só que eu sou fã de Assassin’s Creed desde o primeiro jogo da franquia, joguei praticamente todos os títulos principais (ainda devo para mim mesmo finalizar Rogue) e, embora eu concorde que de fato a série tem um problema de identidade, eu ainda gosto dos jogos!

E enquanto eu jogava e cada vez mais entrava de cabeça na Bagdá do século IX, mais eu me questionava o quanto realmente estava analisando tudo de maneira fria e o quanto minha paixão pela marca estava afetando meu julgamento.
Análise/reviews são sempre complexos no quesito isenção.
O ser humano é influenciador e, principalmente, influenciável: motivo pelo qual não costumo ler reviews antes de jogar algo sobre o que pretendo escrever.
Se você fizer isto, indiretamente algo visto ou lido irá conduzir a sua opinião.

E enquanto experiência com grande interação e “modificação” por parte de cada jogador, games costumam ser peças complexas de serem avaliadas.
Ao contrário de um livro ou filme, aqui o consumidor do produto tem uma experiência diretamente ligada à execução. De igual forma, enquanto um produto com interação ativa, cada pessoa o experiencia de uma maneira muito diferente.
Quando assistimos um filme, por exemplo, embora seja possível notar e conceber percepções diferentes com relação à nossa carga cultural, o filme em si não se modifica.
A visão do diretor, as atuações e o roteiro estão gravados nessa peça única e imutável: o que muda é a recepção (passiva) de quem assiste.

Já nos jogos, não apenas tomamos decisões e temos habilidades diferentes, como podemos ser vítimas de diferentes bugs ou passar incólumes por eles.
Além disso, o fato de agirmos e modificarmos a experiência nos liga emocionalmente de uma forma maior: nós incorporamos temporariamente um personagem (ou um grupo); nossas mentes registram nossos feitos virtuais.
Então não apenas experiência e bagagem pessoais impactam a opinião de quem joga, mas também o estado do jogo, uma vez que patchs, correções e dlc’s alteram constantemente o status do jogo.
A minha jornada em 2013, em The Last Of Us (PS3), no mês de lançamento do jogo, foi diferente de quem jogou meses depois, de quem jogou pela primeira vez no remaster de PS4 e de quem só teve contato com o jogo no remaster/remake, já no PS5.

E quem jogou no PC, teve uma experiência ainda mais diferente e (possivelmente), repleta de bugs, glitchs e erros. Esta pessoa pode muito bem ter tido uma jornada traumática com relação ao estado do título e ficará gravada como ferro em brasa na mente.
Jogar The Last Of Us no PC, na data de lançamento, é completamente diferente de quem jogou no lançamento de PS3, mesmo que a trama seja basicamente a mesma.
Desta forma, é perceptível o quão diferente pode ser a experiência (e eu já não aguento mais repetir essa palavra) de uma mídia interativa e ativa como um jogo de video game.
No final das contas, enquanto finalizava o review de Assassin’s Creed Mirage, essa “preocupação” já havia desaparecido, pois quem lê (e confia) nos meus reviews, provavelmente tem uma visão mais parecida com a minha.
As pessoas escolhem não apenas o que jogar, mas também qual opinião considerar e qual descartar…

ThiagoMusashi cirúrgico novamente