
O ser humano nasce, cresce, se reproduz e morre.
Essa é uma frase básica que aprendemos na escola sobre o ciclo de vida dos seres vivos, incluindo nós mesmos (ok, como gamers, a parte da reprodução talvez não esteja inclusa).
Entretanto, o curioso é que as pessoas não pensam na morte como algo real até terem uma doença grave ou entrarem na velhice.
Todo ser humano (e praticamente todo ser vivo com exceção de alguns organismos unicelulares) está fadado à morte.

Nós nascemos com uma validade, sem prazo ao certo, mas sabemos que vamos morrer e, mesmo assim, a maior parte da sociedade finge não saber disto.
Há motivos para este “fingimento” ou esquecimento, é claro.
A maior parte da sociedade, especialmente no que tange ao Ocidente, possui medo da morte.
O medo não é exatamente da morte, mas sim do desconhecido.
O que vem depois da morte? Paraíso, inferno? Nada? Algo diferente?

Diante desta incerteza, mesmo que as pessoas clamem aquilo que suas religiões, crenças e/ou propostas lógicas sugiram, há sempre um receio de se estar errado.
Se sua crença estiver errada e nada acontecer, tranquilo.
Mas se existir algo e houver uma forma de punição… será que você se comportou bem durante a vida? Será que você seguiu a entidade correta e respeitou seus preceitos?
É claro que não se resume unicamente ao medo do desconhecido.
Muitas pessoas temem a morte pelo simples fim da vida ou pelo próprio momento em si.
O que nos leva ao tema nos games (essa demorou, hein?).

O conceito da morte nos games é vastamente explorado, seja na narrativa, seja na mecânica.
Morrer em uma cutscene ou CG é fatal, já morrer durante o gameplay não conta.
A morte causada ou sofrida pelo protagonista durante combate, armadilha ou outros momentos não possui o mesmo impacto; já a morte durante uma cena é dramática, significativa e canônica.
Desta forma, muitos protagonistas possuem o famoso “plot armor”, ou seja, a garantia de sobrevivência, ao menos até o final da trama.
E quando isto não acontece e subitamente um personagem importante morre e o jogo segue em frente (olá The Last Of Us 2), muitas pessoas se sentem traídas.
Essa aparente quebra no padrão da “Jornada do Herói” confunde muitas pessoas, mesmo que haja um significado especial para o desenvolvimento do roteiro ou até mesmo uma explicação para um evento passado ou futuro da aventura e/ou franquia.

Entender o peso da morte e seu significado para a vida é essencial para os seres humanos, portanto sendo parte integral da maior parte das produções artísticas, em especial na construção de narrativas mais complexas.
Citando um exemplo pessoal.
Do alto dos meus incríveis 5 anos de idade, morando sempre em apartamentos, eu advertia qualquer criança que fosse para uma das janelas, pois tinham curiosidade quando criadas em casas.
“Não chega perto da janela, porque tu pode cair e virar caveira.”
É, eu era uma criança de 5 anos com esse (estranho) entendimento da morte.
Mais curioso foi que, recentemente, perguntei aos meus pais se algum deles havia me ensinado sobre isto e… não.
Não tivemos nenhuma morte de familiar ou amigo próximo durante minha infância, momento onde geralmente os pais precisam tocar pela primeira vez no assunto da morte ou da “ausência” de determinado indivíduo.

Eu cheguei sozinho à esta conclusão, provavelmente assistindo algo na televisão e fazendo associações.
E por mais incrível que isto possa parecer, não é nada saudável que uma criança tão pequena consiga fazer esta associação.
Não pelo simples conhecimento da morte, isto é saudável e necessário, mas pelo fato de eu ter interpretado de uma forma tão crua e real.
Os pais, avós e responsáveis costumam abordar a morte de formas mais suaves, para que a criança não se choque com tal conhecimento.
Mas em um mundo repleto de informações, muitas vezes crianças descobrem de formas mais brutas sobre o fim da vida: filmes, desenhos, noticiários e, claro, games.

Jogadores possuem uma ligação intrínseca com a morte.
Morrer é algo tão natural nos jogos quanto é na vida e nos ensina a sermos mais cautelosos: evitando entrar correndo em uma sala, verificando com cuidado os arredores e topos de prédios, guardando recursos para momentos de necessidade.
A Morte, com M maiúsculo mesmo, muitas vezes apresenta-se corporificada como um inimigo, algo que devemos derrotar.
Afinal de contas, o que é sobreviver às intempéries da vida, se não derrotar a morte dia após dia?
É claro, na vida real nunca poderemos derrotar a morte indefinidamente, ela sempre vem e nos vence, nem que para isto precise de muitos e muitos anos.
E aqui, não há continues ou checkpoints, o game over é definitivo…