Diversão Ou Masoquismo?


O ser humano, enquanto animal (ainda que racional), busca o hedonismo por primazia.
Ou seja, o instinto faz o ser humano buscar o prazer, seja ele em qualquer forma.
O relaxamento e a preguiça encontram-se também dentro deste hedonismo natural.

Sofrimento e dor, por conseguinte, são contrários a este comportamento, não?
Bem, não necessariamente, pois algumas pessoas sentem prazer no masoquismo, a dor e humilhação.

A busca pelo relaxamento e prazer é um das forças motrizes da humanidade


O termo masoquismo deriva da parafilia*, um desvio da norma sexual, neste caso relacionado ao sofrimento e humilhação durante o ato sexual (contrapondo-se e/ou complementando o sadomasoquismo).
Porém, o termo masoquismo estendeu-se para outras camadas da psique humana, referindo-se à busca pelo sofrimento como forma de prazer, independente do campo.

*As definições de parafilia, entretanto, mudam conforme os costumes da sociedade, visto que não há uma “norma” definitiva.

A causa do masoquismo não é explicada atualmente, mas alguns casos extremos possuem teorias.
Por exemplo, grandes CEO’s de empresas e pessoas em posições de elevado poder, por uma falta de estímulo e/ou desafio, encontram a excitação e o prazer através da dor e da humilhação.

Shibari: a forma masoquista de amarração com cordas (minha pesquisa do Google nunca mais será a mesma…)


Ao encenar, viver e fantasiar situações contrárias à sua realidade, colocando-se como subalterno, tais pessoas conseguem receber estímulos que suas vidas convencionais não proporcionam.
Isto classifica-se como uma parafilia, mas esta é apenas uma teoria da causa masoquista.

Porém, existe uma outra classe de masoquistas, pessoas que colocam-se em situações estressantes e difíceis, que muitas vezes podem até mesmo afetar o humor e o sono.
Sim, estou falando dos jogadores de video game

Ghost’n’Goblins, um convite ao inferno pessoal de sofrimento e dificuldade


Games são constantes fontes de desafio e superação, ainda que apenas virtualmente.
Derrotar um chefe difícil, superar um adversário online mais complexo, finalizar um jogo: existe um prazer intrínseco em alcançar tais feitos nos jogos, especialmente quando a dificuldade é alta.

E quando o jogo não é difícil, logo vem a sensação de que o jogo poderia ser melhor.
Mas se o jogo é muito difícil, essa também é a reclamação.
Estamos diante de um paradoxo dos jogadores… não dos jogadores de souls e roguelike, esses assumidamente gostam de sofrer.

Quando a dificuldade tem o nome da danação eterna, talvez você esteja indo longe demais…


Eu não queria usar esse termo, mas… sim, estamos diante da meritocracia gamer!
A ideia de que o prêmio precisa estar atrelado ao esforço e ao constantemente “sofrimento”.
Aspas pois este não é um sofrimento real; não que o cérebro humano saiba diferenciar completamente.

JRPG’s de turno padecem de um mal semelhante: o grind!
Na vida real, quando não conseguimos superar um obstáculo ou desafio, o caminho natural é tentar uma nova abordagem.
Os JRPG’s, por outro lado, instituem uma ideia semelhante ao treino de artes marciais: a repetição LEVA à perfeição.

Como falar de grind sem lembrar de Disgaea???


Quando Vaas Montenegro nos explicou a definição de insanidade em Far Cry 3, “Repetir a mesma coisa todos os dias e esperar um resultado diferente.”, ele certamente não pensou na lógica dos JRPG’s de turno, que é justamente matar constantemente os mesmos inimigos, até avançar de nível.

A definição de insanidade é o grind em RPG’s, Vaas…


Esta lógica própria das artes marciais, do sistema de repetição de movimentos até dominá-los, levando à sua execução perfeita, é aplicada diretamente ao sistema de evolução nos jogos de turno que se baseiam em grind.
Alguns jogos até criam sistemas para amenizar o grind, como aceleração dos combates ou programação prévia de movimentos, para que o jogo automatize o grinding (olá FF XII!)

Vamos programar as ações para não precisar jogar?!?


No fim das contas, o que importa é a diversão: seja ela por algo fácil ou algo difícil.
É claro que existe uma certa credibilidade em vencer chefes e obstáculos complexos, mesmo que você não tenha para quem se gabar.
Afinal, há adversário mais ferrenho do ser humano que sua própria mente?

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