Crescer sendo alguém diferente não é fácil.
O ser humano é, por natureza, um animal social. Buscamos constantemente a integração com os demais semelhantes, mesmo quando não admitimos isso.
Sentir-se parte de uma família, um grupo de amigos, um clube ou até mesmo um culto/religião.
No intuito de fazermos parte de algo maior, unimo-nos aos nossos iguais, seja por laços de sangue, gostos pessoais ou até juramentos de honra.
Mas há sempre aqueles que não se enquadram.
Desde pequeno eu fui o “estranho no ninho”.
A criança que fazia os comentários sombrios/irônicos na aula, o filho que passava muito tempo com os livros, o primo que preferia brincar sozinho.
No “exílio social” surge a necessidade de refúgio e logo descobri a cena underground, seja em bandas obscuras de metal, livros menos conhecidos, filmes mais caóticos e, como não poderia deixar de ser diferente, nos games.
Foi no PlayStation 2 que eu tive contato com muitos jogos diferentes, experiências que a maioria dos jogadores desprezavam pela estranheza, mas que justamente por isto eu adorava.
Mister Mosquito – um jogo onde você controla um mosquito e deve picar os membros de uma família japonesa; Bobobo-bo Bo-bobo Hajike Matsuri – um jogo rítmico, baseado no estranho anime homônimo, no qual você precisa acertar inimigos com o bigode do protagonista e outros jogos do mesmo quilate.
É claro, os jogos AAA não ficaram de lado por isto, mas sempre encontrei um certo acolhimento nas estranhas experiências menores no orçamento, mas grandes na variedade dos temas e na insanidade das propostas.
E é justamente aí que se encaixam os jogos indie.
No início encarei-os com desconfiança, mas aos poucos fui descobrindo títulos incríveis, feitos por equipes minúsculas (até mesmo jogos feitos por apenas uma pessoa).
O documentário Indie Game – The Movie mostra o fim da jornada de desenvolvimento e a publicação de Super Meat Boy, Fez e Braid.
Três dos primeiros e principais jogos da cena indie, eles pavimentaram a estrada para uma “indústria paralela” aos jogos AAA.
Experiências únicas, abordando temas por vezes controversos ou incomuns, os indies conquistaram um lugar no mundo dos games.
A escassez de recursos dá espaço à criatividade dos desenvolvedores indie, que não possuem restrições por parte de acionistas, como ocorre nos grandes estúdios.
Ideias inovadoras ou o resgate de estilos antigos com uma nova roupagem, os indies se estabeleceram como parte importante (e grande) dos lançamentos da indústria, ocupando as lacunas deixadas pelo lançamento de menos jogos AAA, dado o tempo e o esforço para tais títulos serem lançados.
Por isso hoje, mesmo deslocado na vida e na sociedade, sei que nos games sempre encontrarei refúgio entre os indies.
Um comentário sobre “A Importância do Underground (ou Uma Carta de Amor Aos Indies)”