A Fábula do Bom Tirano


Só para esclarecer, esse termo não se refere a alguma falácia ou termo conhecido, tirei da minha cabeça mesma (e possivelmente exista uma teoria ou algo que o valha com nome melhor).

Empresas funciona à base de dinheiro, não por caridade.
E isto não é novidade; ou não deveria ser.

Eu já comentei na coluna sobre a complexidade dos jogos enquanto produtos artísticos, dado que são um meio termo entre uma produção com fins lucrativos e uma visão artística combinados.


Outras obras artísticas (livros, filmes, séries) são, muitas vezes, criadas com o propósito inicial de contar uma história e/ou passar uma mensagem.
É claro que a parte financeira também impacta, mas a visão primária é a do criador da obra.

Frequentemente, entretanto, estúdios e acionistas “forçam” criadores de conteúdo e roteiristas a gerar continuações destas obras.
O resultado geralmente tende a perder a qualidade gradativamente a cada nova continuação.

Velozes e Furiosos começou com uma gangue de roubo a caminhões…


Conforme mais e mais continuações são feitas sob demanda, os criadores não possuem mais ideias originais para prosseguir e precisam forçar tramas ruins, plot twists forçados e reaparições de personagens que contradizem o argumento inicial.

Porém, como a obra pertence (na maior parte das vezes) ao estúdio/empresa, a franquia fica à mercê do dono da IP, e o criador muitas vezes simplesmente pula fora antes que o barco afunde.
E ele vai afundar, pode ter certeza!
Enquanto o dinheiro estiver entrando nos cofres da empresa, a franquia irá arrastar-se lentamente até sua total aniquilação, não importa quantos reboots e remakes sejam necessários para tal.

Os roteiristas tentaram encerrar de forma digna várias vezes, mas a ganância do estúdio levou Dexter até um triste final na 8ª temporada


Com os games, por outro lado, sempre existe a possibilidade da franquia voltar aos trilhos.
A natureza interativa traz elementos que podem agradar o público alvo ou mesmo criar um novo.
A jogabilidade é um fator diferente de outras obras criativas, trazendo um engajamento muito maior com os consumidores.

Castlevania Lords Of Shadow 2: como arruinar um bom reboot com uma sequência medíocre


Bom, mas onde eu quero chegar com essa conversa?
Já comentei sobre fanboys e sua visão completamente parcial do mundo.
E na indústria de jogos, ela parece crescer cada vez mais: o fã que defende as práticas mais absurdas da sua empresa preferida, mesmo quando ele será lesado pelo que defende.

O Game Pass, da Microsoft, parece ser um destes fatores cegantes na comunidade Xbox.
Praticamente qualquer crítica à empresa será rebatida pelos fanboys da marca sob o argumento do Game Pass.
Como um mantra, eles o repetem e fecham os olhos para todas as decisões estranhas que a empresa toma: e ela vem tomando uma série de decisões estranhas nos últimos tempos.

Comprar jogos? Mas, mas… e o Game Pass???


Mas e a Sony?
A Sony também tem sua (grande) parcela de culpa, especialmente com a gestão Jim Ryan, que pegou a marca em um momento forte e tomou uma série de decisões pra lá de duvidosas…
Aumento do preço da Plus sem grandes benefícios para compensá-lo; remaster/remakes a preço cheio e sem necessidade (olá, The Last Of Us Part 1).
Isso sem falar da onda de jogos como serviço.
Mas experimente conversar sobre com um fanboy da Sony: os exclusivos serão o argumento “infalível”.

E aí eu disse: quem jogaria esses games ultrapassados?


Por fim, temos a Nintendo, a eterna protegida do jornalismo.
A Nintendo vive muito do seu passado de glória, com as práticas mais predatórias entre as três e, mesmo assim, a menos criticada pela fanbase.
Lembra quando a Sony ia tirar a loja do PSVita do ar e as pessoas reclamaram? A Sony resolveu manter funcional por mais tempo.
Lembra quando a Nintendo avisou que desativaria a loja do 3DS? Ela simplesmente desativou.

Lance uma coletânea com poucas cópias físicas para aumentar a procura…


O meu ponto é: empresas não são entidades beneficentes, elas vivem à base de dinheiro.
Antes de pensar no bem estar do cliente, acionistas, CEO’s e diretores pensarão no próprio bolso.
E isso não está necessariamente errado, embora muitas vezes não trilhe um caminho justo.
Afinal, vivemos em um sistema capitalista e o capital, veja só, é a força motriz.

Todavia, isto não faz com que devamos defender de olhos vendados suas atitudes.
Devemos, sim, reconhecer quando nossa empresa favorita comete erros graves e, na medida do possível, não compactuar.

O texto original se chamaria A Fábula do Bom Escravista, mas repensei o título…


O rei, no final das contas, era apenas o detentor de terras sobre as quais seus vassalos trabalhavam, ficando com a maior parte dos lucros.
O rei não se importava com seus súditos, podendo mandá-los para a prisão e/ou execução por qualquer capricho.

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