
* Esta análise foi feita com o código cedido pela Dear Villagers (versão PS4/PS5)
* título disponível no Gamepass
Distribuidora: Dear Villagers
Produtora: Modern Storyteller
Plataforma: PS4 / PS5 / Xbox One / Xbox Series S / Xbox Series X / PC
Mídia: Física e Digital
Ano de Lançamento: 2021

The Forgotten City é um jogo narrativo de investigação com looping temporal, ambientado em uma cidade da Roma Antiga.
UM VIAJANTE DO TEMPO
Você acorda na margem do rio Tibre, sem saber exatamente como chegou até lá.
Uma mulher chamada Karen pede sua ajuda para encontrar o amigo, Al Worth, desaparecido enquanto investigava ruínas romanas próximas.

Neste ponto, enquanto Karen pergunta sobre seu passado, o jogador pode escolher o sexo e o tom de pele, além de quatro backgrounds:
– Arqueólogo: mais conhecimento sobre mitologia e História, abre também mais opções de diálogo;
– Soldado – possui uma pistola, porém com apenas 10 balas;
– Fugitivo – corre 25% mais rápido;
– Amnésico(a) – 50% a mais de resistência

Ao entrar em um pequeno santuário, você cai por um túnel no que parece ser uma antiga piscina, localizada nas ruínas.
Avançando pelas ruínas, repletas de estátuas de ouro (que parecem encará-lo), você passa por um portal e surge em uma cidade da Roma Antiga.
FAZENDO ANTIGOS NOVOS AMIGOS
Na saída do portal, Galerius lhe introduz aos conceitos básicos da Regra de Ouro e lhe convida a acompanhá-lo por um tour pela cidade, até apresentar-se a Sentius, o Magistrado local.
Você pode ignorar o tour com Galerius, bem como boa parte de sua conversa (mas não faça isso por enquanto, é importante localizar-se).

Sentius está preparando-se para uma eleição contra Malleolus, que promete remover A Regra de Ouro caso seja eleito.
A Regra de Ouro, já estabelecida quando os habitantes chegaram à cidade, diz: “Muitos sofrerão pelos pecados de um.”

Não se sabe ao certo qual deus estabeleceu tal regra, mas Sentius acredita nela e a mantém em vigor.
Desta forma, a cidade permanece sem crimes (ou ao menos assim parece), pois não é claro o que é ou não considerado pecado e todos temem morrerem caso alguém rompa A Regra.
Sentius é o responsável por conjurar o portal e pede sua ajuda para descobrir quem irá quebrar A Regra.
Além disso, sua filha mais jovem, Sentilla, está desaparecida e você também pode ajudá-lo a desvendar este mistério.
AJUDANTE DO FUTURO
O jogo gira em torno de resolver quests para os NPC’s da cidade, aprendendo seus segredos e obtendo importantes itens.
Estes itens são preservados durante o looping temporal, bem como o conhecimento obtido. A memória dos NPC’s, no entanto, é resetada com o dia. Você pode cortar diálogos contando as informações que já sabe, o que irá confundir os personagens. É possível revelar a verdade a eles ou mentir, decisão que cabe ao jogador.

Dentre as quests (e aqui não posso ser muito específico, para evitar spoilers), encontrar um antídoto, impedir um suicídio, libertar um prisioneiro, reunir um casal e evitar a perseguição de um personagem estão entre as side quests.

O objetivo central do jogo é aprender a quebrar o looping da viagem no tempo e descobrir quem está rompendo A Regra de Ouro.
Outros mistérios serão descobertos durante a trama, alguns potencialmente imensos e megalomaníacos… mas esses você terá de jogar para descobrir.
QUANDO EM ROMA…
O Império Romano foi conhecido pela “romanização”, o processo de aculturação e assimilação cultural, ou seja, os romanos levavam seu conhecimento e estilo de vida aos povos conquistados, mas também absorviam costumes locais, integrando-os à sua realidade.
O caso mais famoso de absorção foi o do panteão grego, “convertido” no panteão romano (Zeus torna-se Júpiter, Ares > Marte, Afrodite > Vênus, Hades > Plutão, etc…).

Alguns costumes romanos integraram-se permanentemente à sociedade ocidental, especialmente através da disseminação pela Igreja Católica (Apostólica Romana), o que pode ser visto, por exemplo, na oração Ave Maria (sendo ave a saudação romana).

Pelos seus diferentes territórios conquistados, o Império Romano era constituído de diversos povos, representados no título pelo alfaiate grego (Gregorius) e pelo arquiteto batavo* (Vergil).

*Os Batavos eram um povo de origem germânica, correspondente aos holandeses atuais
DIA DA MARMOTA
A Regra de Ouro possui pecados não conhecidos, mas os dois principais que podem ser observados e/ou cometidos são: roubo e assassinato.

Quando um destes é cometido por você ou um dos NPC’s, uma voz em alto e bom tom profere: “Muitos sofrerão pelos pecados de um.”
Algumas das estátuas de ouro espalhadas pela cidade ganharão vida, com brilhantes olhos azuis, disparando flechas que transformam em ouro suas vítimas.
Sentius irá correr até o local de início do ciclo temporal e conjurar um novo portal, morrendo no processo.

Portanto, sempre que precisar reiniciar o ciclo, seja para consertar um erro cometido ou colocar um plano em ação de posse de novas informações e/ou itens, basta quebrar A Regra de Ouro.
Inicialmente só é possível fazê-lo através do roubo de dinheiro ou itens, uma vez que apenas o Soldado começa com alguma arma.

Após uma determinada quest, um arco é obtido e logo após o arco de Diana (Ártemis, na Grécia), capaz de transformar seres e plantas em ouro.
Além de servir como arma, ele será importante para alcançar determinadas áreas, mas eu já falei mais do que devia aqui…
UM TRABALHO HERCÚLEO
Há uma quest com esse nome, mas não é sobre ela que falarei agora.
The Forgotten City foi originalmente criado como um mod para The Elders Scrolls V: Skyrim.

O mod fez um tremendo sucesso e recebeu um prêmio pelo roteiro, da Australian Writer’s Guild, feito inédito para um mod.
O criador, Nick Pearce, que largou a carreira na advocacia para dedicar-se à sua verdadeira paixão, gastou 1700 horas para criar o mod.

Pearce assumiu o papel de diretor, produtor, designer e roteirista, além de chamar Alexander Goss (programador) e John Eyre (artista) para a jornada de recriar o mod como um jogo completo, processo que levaria 4 anos nas mãos do estúdio Modern Storyteller, com a ajuda da Film Victoria (agência estatal australiana de apoio à cultura).
BELEZA MULTIFACETADA
O jogo possui um belo gráfico 3D, com detalhes arquitetônicos sob consultoria de dois especialistas na área.
Os NPC’s possuem rostos detalhados, embora haja pouca variação de modelos, em especial dos homens.
Os traços originais do gráfico de Skyrim foram superados.


O jogo conta com dublagem completa (em inglês) para cada uma das inúmeras linhas de diálogo.
O roteiro é extenso e bem trabalhado, mostrando o empenho da equipe em fazer uma obra única no título completo, diferenciando-o facilmente no mod original.

A trilha sonora composta por Michael Allen possui estilo épico, incluindo alguns usos de corais e instrumentos clássicos, como a lira (ok, ok, eu estou chutando baseado no que ouvi).
BURACO DE MINHOCA PLATINA
A platina de Forgotten City não é exatamente difícil, porém pede múltiplas runs.
O sistema de save permite salvar a qualquer momento, o que é útil para testar combinações. Caso comece um novo jogo, os antigos saves permanecem lá, agrupados no nome do personagem da vez.

Por ser um título fortemente sustentado na narrativa, muitos dos troféus seriam spoiler.
Deixo uma dica:: salve constantemente, para evitar cair em armadilhas e ficar preso em alguma parte do jogo.
RESUMO DA ÓPERA:
Por onde começar?
The Forgotten City é uma história dupla de sucesso, recebendo uma premiação pelo roteiro no seu país de origem (Austrália) e, mais tarde, tornando-se um título mais complexo.

Com roteiro refeito, novo cenário e dublagem profissional, o título retorna com força, possuindo uma bela trama, com referências a diferentes mitologias.
NPC’s carismáticos e side quests interessantes, além de um intrincado mistério a ser resolvido.
O jogo possui alguns diálogos bastante filosóficos e contemplativos próximos ao final.

A nova engine e a ambientação aprimorada tirando-o da sombra de seu antecessor, dando uma bela e vistosa roupagem para o título-solo.
Um dos melhores jogos de 2021, que vergonhosamente fui jogar apenas no ano seguinte.
Um mod que nasceu em Skyrim e cresceu para se tornar algo único, The Forgotten City é obrigatório para quem gosta de jogos de investigação.