Review / Tutorial: The Eternal Castle [Remastered]

* Esta análise foi feita com o código cedido pela Severed Press PTY LTD (versão PS4/PS5)

Distribuidora: Severed Press PTY LTD / Hard Copy Games
Produtora: TFL Studios
Plataforma:  PS4 / PS5 / Switch / PC / Linux / Mac OS / MS DOS
Mídia: Física (futuramente pela Hard Copy Games) e Digital
Ano de Lançamento: 1987 / 2019 / 2021

The Eternal Castle [REMASTERED] é a remasterização do clássico sidescroller de ação de 1987, lançado para MS DOS.
Tão clássico e avançado para seu tempo que poucos lembram de tê-lo jogado, como o diretor do remaster, Leonard Menchiari.

Mas seria Eternal Castle um clássico extremamente polido e realmente um jogo perdido no tempo ou apenas um jogo não lançado?
Estaria o diretor nos pregando uma (genial) peça de ação de marketing ou ele é apenas um profundo conhecedor de pérolas underground dos anos 80?
Ficou confuso (e curioso)?
Descubra a verdade neste review!

UM CLÁSSICO PERDIDO

Mesmo os mais obscuros jogos deixam rastros na internet.
Buscando em foruns e lendo artigos, você certamente descobrirá o nome perdido do jogo que assombra suas memórias, seja ele qual for.
E foi parcialmente o que aconteceu com The Eternal Castle, lançado em 87 e jogado pelo diretor, que teve seu PC estragado e acabou perdendo o disquete danificado que continua o título… ou será que não?

O misterioso disquete danificado


Bem, tudo começa em 15 de Setembro de 2016, quando um usuário chamado JohnM fez upload de screenshots e arquivos de TEC no forum RGB Classic Games (sobre discussões de antigos jogos de DOS e Windows). Os arquivos, contudo, não funcionaram, como apontado por alguns membros.
No dia seguinte, um usuário chamado JMenko publicou arquivos semelhantes no Internet Archive (o site sem fins lucrativos destinado a preservar arquivos multimídia da internet).

A história foi dada como morta até 23 de Outubro de 2017, quando um membro do forum dedicado a Prince Of Persia esbarrou nos mesmos arquivos, mas decidiu investigá-los a fundo e saber porque não rodavam.
E foi aí que ele descobriu não apenas arquivos do Prince Of Persia original, bem como Doom e Star Crusader 2, três jogos posteriores a 1987. Já as screenshots, embora aparentemente realistas, possuíam metadata do Photoshop, que seria lançado somente em 1990.

MAS ENTÃO, O QUE É ETERNAL CASTLE?

Bem, The Eternal Castle [Remastered] é uma homenagem aos jogos de plataforma cinematográficos, que usavam rotoscopia*, como Prince Of Persia e Another World (também conhecido como Out Of This World).

Através do rotoscópio é possível animar frame a frame “desenhando sobre a imagem filmada”


* A rotoscopia é uma técnica de animação que utiliza o rotoscópio, dispositivo que permite redesenhar quadros de filmagens, como se o animador desenhasse sobre a imagem real, podendo ser feita diretamente ou como referência. Inventado por Max Fleischer, o rotoscópio foi usado por ele para criar a série de desenhos Out Ot The Inkwell, a partir de 1914, utilizando seu irmão, Dave Fleischer para a movimentação do personagem Koko The Clown. Nos games, Jordan Mechner também utilizou o próprio irmão para a animação do protagonista de Prince Of Persia, em 1989.
A rotoscopia foi a técnica precursora da captura de movimentos digital e também do chroma key.

Max Fleischer


Ironicamente, o sobrenome de Leonard, diretor de Eternal Castle é curiosamente parecido com os sobrenomes de pessoas envolvidas em Prince Of Persia (Jordan Mechner) e Out Of This World (Éric Chahi).
Menchiari seria a junção de Mechner e Chahi ou o “ARG” de Eternal Castle estaria afetando demais a minha cabeça?

RETORNANDO AO CASTELO (E À TERRA)

Você escolhe um entre dois mercenários (Adam e Eve) que deve retornar ao planeta Terra, após uma revolta de inteligências artificiais.
Durante o voo, sua nave é abatida e você perde quatro “gliders”, peças da nave, antes de alcançar o castelo.

Apenas com os quatro gliders recuperados é possível voar até o castelo

Agora é necessário invadir quatro locais diferentes e enfrentar grupos de inimigos e derrotar os respectivos chefes de cada local, para recuperar os quatro gliders e poder levantar voo novamente.
A IA corrompida, responsável pela revolta, está localizada no castelo.

PSICODELIA 2D

TEC é uma viagem lisérgica que não vai te causar problemas com a polícia ou o governo.
A arte do jogo é certamente um de seus principais aspectos.


Simulando o MS DOS, o jogo utiliza uma paleta de cores limitada.
Ao contráio do sistema operacional, que possuíam apenas três cores: rosa, verde e branco, além do fundo preto (lembro bem de jogar Out Run e Prince Of Persia nesse sistema de cores), em Eternal Castle o laranja também é utilizado, além de uma variedade maior nos tons das cores presentes.


O efeito de luz é impressionante, parecendo um efeito reverso.
Ok, isso será meio complicado de explicar em palavras: imagine um ponto focal de luz, este ponto joga seus raios nas paredes, projetando sombras escuras; agora reverta isto e o ponto focal é na verdade negro, projetando escuridão e as cores estão onde seriam as sombras; eu disse que seria complicado de explicar, mas para isto temos as imagens do post.
Desta forma, o personagem que é representado em preto, projeta “luz negra”, revelando as sombras coloridas em cenários escuros… você entenderá quando jogar!


Com este efeito, fumaça, neblina e mesmo monstros formando-se possuem mais sensação de volume.
Esta criativa técnica causa um bom aspecto de objetos em expansão e movimento, mas acaba por tornar os cenários estáticos mais escuros e, por vezes, pouco definidos.
Pode parecer confuso no começo, mas seus olhos e seu cérebro se adaptam e começam a formar e entender os padrões.
Isto remete aos jogos de MS DOS, mas, principalmente, aos jogos de Atari, onde muitas vezes a imaginação era um elemento necessário para entender o mundo virtual.
O movimento dos personagens também é bastante fluido, parecendo uma rotoscopia mais precisa, com os golpes e saltos com diversos frames de animação.

PSICODELIA SINTETIZADA

A parte sonora também ganha destaque, com um belo uso de sintetizadores, ignorando a sacada do jogo antigo.
A trilha sonora é claramente moderna, embora o uso de sintetizadores remeta aos jogos (e ao mundo em si) dos anos 80.

Composta por kiiro (Giacomo Langella), a trilha sonora mistura temas sombrios e música eletrônica ambientalizada, com um quê de universo cyberpunk (eu ouvi uma pitada de Vangelis?). 

NEM TUDO É UMA AMEAÇA

É possível lutar com qualquer NPC do jogo, que revidará quando atacado, mas nem todos são inimigos, então pense bem antes de sair batendo em tudo que se move pela tela, pois grandes grupos podem derrotá-lo facilmente.

Momento Oh Dae-su (Oldboy)

Os inimigos variam entre humanos, mutantes, robôs e pequenas aranhas explosivas.
Os chefes são em geral grandes e possuem excelentes animações, incluindo o efeito volumétrico citado anteriormente, como um grande “monstro tóxico” esverdeado ou um ciclope de sombras com um tacape, passando por um cientista transformado e uma mulher fantoche/robótica.

O chefe ciclope das sombras (é assim que eu chamo ele!)

Há também armadilhas espalhadas pelos cenários: serras circulares nas paredes e estacas retráteis no chão. Até mesmo uma bola gigante descendo uma ladeira, no melhor estilo Indiana Jones, se faz presente.

UMA DEVASTADA E VARIADA TERRA

A Terra de TEC é dividida em quatro grandes localidades (além do castelo em si), passando por uma cidade com prédios escaláveis, cavernas escuras, um deserto onde uma rebelião está acontecendo e uma mansão “assombrada”.

Eu não diria exatamente romântico…

É importante destacar que, semelhante aos jogos que homenageia, saltos precisam ser calculados e descidas precisa ser planejadas pois, mais do que os inimigos e as armadilhas, quedas podem ser fatais e comuns, caso não tome cuidado. Mas não se preocupe: pedras para meditação servem de checkpoint.

Esta espada é uma das melhores armas do jogo

Upgrades de vida, munição e furtividade estão escondidos pelas fases, além de diversas armas, sendo a maior parte podendo ser coletada de inimigos mortos, mas apenas uma carregada por vez.
Pistolas, shotguns, rifles e metralhadoras fazem companhia a machados, facas, maças e uma espada elétrica. Granadas são mais raras, mas também existem, ocupando o espaço de uma das armas; se estiver sem armas, pedras podem ser arremessadas facilmente. As armas brancas equipadas também podem ser arremessadas.

PLATINA

A platina de TEC é desafiadora, envolvendo zerar o jogo, derrotar os chefes, ver o final e o final verdadeiro (ao coletar os 30 fragmentos do mundo), um troféu para cada arma diferente coletada e um por conseguir todos os equipamentos em uma jogada.

Além destes, jogar com Adam e Eve gera dois troféus; completar três runs inteiras e, prepare-se, zerar sem morrer (é, é claro que um jogo retrô teria esse tipo de desafio).

RESUMO DA ÓPERA:
The Eternal Castle [Remastered]
é uma impressionante obra retrô, simulando conceitos de rotoscopia e gráficos antigos.
A arte usando poucas cores, mas abusando do efeito de luz e sombra, cria interessantes paisagens.
A bela trilha sonora retro wave usa os sintetizadores para nos levar de volta aos anos 80.
O desafio alto nos remete aos antigos jogos de DOS e traz uma dose alta de nostalgia.
O estranho e criativo marketing do jogo também merece destaque, simulando um jogo perdido do passado.
Uma obra exótica, que moderniza antigos conceitos e mostra o verdadeiro amor e dedicação de seus produtores pelos clássicos da “plataforma cinematográfica”.
Para quem jogou Out Of This World, Prince of Persia (o original) e Flashback, The Eternal Castle [Remastered] é um título obrigatório, mas não se prende apenas aos saudosistas; para quem não conheceu os títulos citados e não quer voltar aos jogos antigos, TEC é uma excelente apresentação de um estilo e tecnologia antigos.

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