
* Esta análise foi feita com o código cedido pela Square Enix (versão PS4/PS5)
Distribuidora: Square Enix
Produtora: H.a.n.d.
Plataforma: PS4 / PS5 / Switch / PC
Mídia: Física e Digital
Ano de Lançamento: 2022

The Centennial Case: A Shijima Story é um FMV (full motion video) de investigação sobre a relação de vida e morte entre a Família Shijima e Tokijiku (A Fruta da Juventude).
A ESCRITORA
Haruka Kagami é uma famosa escritora de romances sobre mistério.
Durante uma sessão de autógrafos de seu novo livro, junto de sua editora, Akari Yamase, ambas são convidadas por seu amigo, o cientista Eiji Shijima (que estuda o processo de envelhecimento celular), a visitarem a casa de sua família, onde uma ossada foi encontrada enterrada próxima a uma cerejeira.

Chegando à propriedade, o trio entra em contato com a família Shijima e seus criados.
Eiji e o pai, Ryoei, possuem uma rixa, pois o filho abandonou a tradição da família para tornar-se um cientista.

Dada a descoberta do esqueleto enterrado sob a cerejeira da família, o patriarca contratou um detetive para investigar o caso.
Aprendemos aqui um pouco sobre a família e seu ritual de sucessão…
TOKIJIKU – A FRUTA DA JUVENTUDE
A família Shijima é responsável pela Tokijiku, a fruta que supostamente concede vida eterna àquele que a comer.
Esta tradição centenária acompanha o Ritual da Flor de Cerejeira, realizado a cada 100 anos, quando o sucessor da família recebe a Tokijiku de seu pai.

Haruka e Akari presenciam parte do ritual, mas não por completo.
A escritora tem acesso a um romance documental escrito por Yoshino Shijima, ascendente do clã, relatando no livro sua experiência em 1922.

A partir deste ponto, passamos a acompanhar Yoshino e o detetive Josui Kusaka, que deparam-se com mortes possivelmente ligadas à Tokijiku.
É lá também que temos o primeiro contato com Camélia Escarlate, o assassino (ou grupo de assassinos), que parece perseguir a família Shijima.

Envolvido em uma série de assassinatos durante muitos anos, Camélia Escarlate possui este codinome por deixar junto aos corpos de suas vítimas uma Camélia Vermelha.
Josui dedica sua vida a buscar por Camélia Escarlate e tentar desvendar sua identidade.
TRÊS TEMPOS, UM MISTÉRIO
Acompanhamos o mistério que envolve as mortes do clã Shijima e as ações de Camélia Escarlate através de três linhas temporais diferentes: 1922, a época de Yoshino; 1972, época de um assassinato ocorrido em um clube noturno (ao qual evitarei maiores menções por possíveis spoilers) e 2022, o tempo atual, onde Haruka encontra-se na residência da família.

Após uma dica de sua editora, Haruka passa a imaginar os personagens dos livros, enxergando-se como parte das histórias.
Esta interessante dinâmica nos mostra a faceta de alguns dos atores, que interpretam diferentes papéis em diferentes tempos.

E que atores!
O elenco dá um show de atuação, com personagens convincentes e carismáticos, além de diálogos bem escritos e uma direção primorosa.
Destaca-se também a produção de altíssimo nível, com figurinos e cenários impecáveis.
Outro ponto a se notar é que, em “The Centennial Case…”, é possível avançar e retroceder facilmente pelos gatilhos, seja sessões inteiras ou apenas 5 segundos.
Isto ajuda a voltar para entender melhor algum trecho ou mesmo algo que passou despercebido.

As informações ficam registradas e podem ser facilmente consultadas nos menus.
Falando nos menus, aliás, outra boa opção é a possibilidade de suspender o jogo a qualquer momento, criando um save interino, para retomar o jogo do ponto exato em que você parou.
Sabe quando toca o telefone ou você precisa fazer algo urgente? Aqui não temos problema, pois o título permite parar de jogar a qualquer momento, sem perder nada do progresso.
“O CAMINHO DA LÓGICA ALINHA-SE”
Durante a Investigação, assistimos os diálogos dos personagens, captando pequenas pistas (e capturando também, aperte triângulo para registrar manualmente cada uma) e escolhendo opções de diálogo.

Finalizada o Investigação, passamos para a fase do Raciocínio.
Aqui, a parte de Investigação é mostrada em pequenas sessões, que podem ser assistidas para consultar algum ponto em específico.
Todas as Pistas coletadas estão disponíveis em pequenos hexágonos, que podem ser pegos e arrastados até um Mistério, criando assim uma Hipótese.

As Pistas corretas, no entanto, apenas encaixam nos Mistérios corretos, sendo que alguns deles precisam de mais de uma Pista para criar uma Hipótese e cada Mistério pode ter várias Hipóteses diferentes.
Caso você se perca, pode segurar L2 em cima do Mistério (caso já possua um hexágono laranja) para revelar todas as Pistas que pertencem a ele.

Algumas Hipóteses irão gerar novos Mistérios, sendo o ideal completar todas as Hipóteses, pois elas serão úteis na próxima fase.
Finalizadas todas as Hipóteses, um hexágono roxo indicará que o Raciocínio já pode ser concluído.
Para isto, arraste o outro hexágono roxo, criando uma Conclusão.
O Sumário é uma fase intermediária, onde a personagem será questionada sobre alguns fatos.
As respostas escolhidas no Sumário não afetam o caso, apenas servem para ajudar o jogador a organizar seu pensamento.

Por último, temos a Solução, onde devemos revelar as Hipóteses que sabemos (ou acreditamos) serem as corretas, até que o caso seja concluído.
Nesta fase, os outros personagens questionarão suas escolhas, em especial o assassino, quando é revelado.
A argumentação precisa ser correta para encerrar o caso.

Mas se você errar…
Não se preocupe, o jogo entra em uma tela de “Game Over”, onde você pode reiniciar, refazendo o Raciocínio e o Sumário (caso deseje) e voltando ao trecho anterior à última escolha.
Ou seja, o jogo não te obriga a refazer todo o processo, o que por si só já ajuda na dinâmica, além de evitar que o jogador esqueça as respostas corretas anteriores (o que já me aconteceu em outros jogos investigativos, acredite).

Há, ainda, a opção de usar uma Revelação, que é uma dica direta da resposta correta, mas que irá reduzir a pontuação final, junto dos erros cometidos.
A ESCOLA JAPONESA DE CINEMA
Já entrei em muitas discussões sobre cinema japonês (e oriental em geral) com pessoas que têm uma certa dificuldade em entender as diferentes escolas de atuação do mundo (não que eu seja um especialista no assunto).

No ocidente, estamos muito habituados ao cinema americano de Hollywood, que possui um estilo próprio de roteiro e atuação. Mesmo o cinema europeu, apesar de suas particularidades, segue um estilo semelhante, dadas ao estilo semelhante de sociedade e visão geral de mundo.

Só que o Japão e outros países orientais possuem estilos muito diferentes dos padrões ocidentais, exatamente por serem sociedades diferentes.
Isto acarreta em escolas diferentes de atuação e roteiro, com formas diferentes de reagir em cenas de drama, ação, etc.
Por isto algumas vezes temos uma impressão de exagero nas interpretações.

Posto isto, em “The Centennial Case…” é mais “controlado”.
As interpretações são mais concisas, ainda dentro do estilo japonês, mas sem tantas expressões exageradas e, como citado anteriormente, com ótimas atuações e com um roteiro impecável, que, diga-se de passagem, possui menos redundâncias que as habituais tramas de animes, por exemplo.
(para aproveitar melhor as interpretações, recomenda-se o áudio em japonês, apesar de também existir a opção de dublagem em inglês)

Afora isto, há um cuidado especial com as diferentes cenas gravadas, seja cada uma as hipóteses levantadas ou mesmo as cenas quando você escolhe errado e tem sua credibilidade questionada.
São dezenas (possivelmente centenas) de diferentes variações, passando inclusive por cenas engraçadas (como quando errei uma resposta e um personagem ameaçou dar uma cadeirada na protagonista).
Este cuidado mostra o refinamento do roteiro, que possui inúmeras nuances de interpretação.
ETERNA PLATINA
A platina de TCCASS não é difícil, dada a natureza narrativa do jogo.
Ela consiste na conclusão da trama e na completude de todos os mistérios e hipóteses, bem como na captura de todas as dicas (lembrando sempre de apertar triângulo quando uma dica for realçada na tela) e obter rank S em ao menos um caso.

Após finalizar a história completa (incluindo o epílogo), é possível selecionar os capítulos para repetir um caso. O recurso de avançar e retroceder cenas é bem útil aqui, facilitando ao jogador ir direto ao ponto de interesse.
RESUMO DA ÓPERA:
The Centennial Case: A Shijima Story é um FMV de alta qualidade, combinado com um intrigante jogo investigativo.
Através de três diferentes épocas, acompanhamos o desenrolar de misteriosas mortes na família Shijima e a relação entre Tokijiku, A Fruta da Juventude, e o assassino Camélia Escarlate, que parece perseguir os membros do clã.
O elenco impressiona pelo nível de comprometimento e entrega aos diferentes personagens interpretados, com destaque para as atuações de Nanami Sakuraba e Yuta Hiraoka, os “protagonistas” em diferentes linhas temporais, além de Gaku Sano, Wakana Matsumoto, Sei Matobu, Motoki Fukami e Mansaku Ikeuchi, além do elenco de apoio.
O roteiro também ganha destaque, com uma trama retratada através de três tempos, que se conectam ao mistério principal, com inúmeras horas de filmagem e possibilidades individuais, além de um excelente plot twist final.
As mecânicas de Investigação e Raciocínio são dinâmicas e bem integradas, com uma “permissividade” rara no estilo, fazendo com que o jogador retome rapidamente o ritmo, mesmo após um erro fatal na argumentação.
Um banquete visual para os seus olhos e mente, The Centennial Case: A Shijima Story é uma bela aposta da Square Enix no gênero do FMV, com alta qualidade cinematográfica (depois do estranho, mas ao meu ver injustiçado, A Quiet Man).