
* Esta análise foi feita com o código cedido pela Krafton (versão PS4/PS5)
Distribuidora: Krafton
Produtora: Striking Distance Studios
Plataforma: PS4 / PS5 / Xbox One / Xbox Series S / Xbox Series X / PC
Mídia: Física e Digital
Ano de Lançamento: 2022

The Callisto Protocol é um jogo de survival horror espacial, passado na prisão Ferro Negro, em Calisto, satélite de Júpiter.
A LUA MORTA
Calisto é a segunda maior lua de Júpiter, perdendo em tamanho apenas para Ganimedes.
No jogo, o satélite natural é base da prisão espacial Ferro Negro, destino de uma carga de medicamentos que o piloto Jacob Lee e seu co-piloto, Max Barrow, estão transportando.


A carga é um grande passo para Jacob e Max, prometendo um pagamento capaz de aposentá-los, mas quando a nave é invadida por um grupo de terroristas, liderados por Dani Nakamura, Jacob acaba prisioneiro na Ferro Negro.

Agora encarcerado e com o Núcleo, um chip de controle implantado em sua nuca, Jacob consegue escapar de sua cela durante uma aparente rebelião.
Elias Porter, outro prisioneiro local, chama sua atenção, oferecendo-lhe uma faca improvisada (uma ferramenta com o cabo afiado em formato pontiagudo) e pedindo ajuda para escapar de sua cela, dizendo que sabe como fugir e que precisará de um piloto para o processo.
PRISON BREAK
Elias é um prisioneiro antigo e já conhece bem o local, conseguindo inclusive hackear um canal de comunicação entre ele e Jacob, através do Núcleo.
Através deste canal, Porter guia o jogador, que controla Jacob pela navegação na prisão.

A fuga da cadeia, no entanto, não será tão simples, pois estranhas e agressivas criaturas estão atacando prisioneiros e guardas.
Jacob consegue, inicialmente, uma picareta para defender-se, mais tarde trocado por um bastão de atordoamento.


Após o reencontro da dupla, Elias encontra parte de uma pistola no corpo de um guarda morto e a passa para Jacob, que pode agora acessar Reforjadores (impressoras 3D), capazes de imprimir diferentes armas, que são acopláveis no punho e gatilho, incluindo canhão de mão, pistola tática e rifle de assalto. A escopeta é a única arma de fogo individual, sem partes removíveis.
Vale lembrar que, com os diferentes tipos de armas de fogo produzidas na impressora, a cada vez que se alterna entre elas, Jacob irá remover a antiga arma e construir a nova, o que leva apenas alguns segundos, mas pode ser o bastante para a morte, no meio do combate intenso.


As “impressoras” funcionam também como mercado, onde é possível vender itens para conseguir mais créditos e comprar injetores de saúde e munição para as armas, além de criar melhorias que são impressas sobre a arma original.
Estes pontos de venda são raros e o inventário possui pequeno espaço (sem opção de aumentá-lo), então pense bem no que carregar.
COMBATE
Este é o ponto de ruptura nos reviews, onde o jogo recebe a maior parte das críticas.
Embora entenda as reclamações, eu mesmo tendo feito muitas delas no início do jogo, posso afirmar que é questão de costume.


No combate melee, colocando o analógico esquerdo para trás, defende-se um golpe, e para esquerda ou direita, desvia-se dos ataques. O que causa confusão no começo é que não há um botão para entrar em posição de combate: assim que o inimigo inicia o ataque, é preciso reagir com o analógico. Também não é recomendável repetir o movimento para esquerda ou direita, pois o inimigo fatalmente irá acertá-lo.

Especialmente nos primeiros encontros, onde ainda não há armas de fogo ou outras opções, nem upgrades, apenas a arma de corpo-a-corpo, o desafio é realmente cruel.
Além de ser difícil desviar dos ataques, sempre que mais de um inimigo se aproxima, você sabe que terá problemas.

O stealth é uma excelente opção, sempre que possível.
Aproximando-se sorrateiramente de um monstro, o prompt com X aparecerá em suas costas, para que você possa esfaqueá-lo com a ferramenta improvisada, matando em um único ataque.
Este método é especialmente útil em inimigos cegos que surgem em um ponto mais avançado do título.

Assim que disponíveis, as armas de fogo ajudam no processo, mas não é recomendável descarregar a munição nos monstros: a arma de fogo também funciona de modo tático, sendo uma ótima opção como dano extra após um combo bem executado.
Só que o jogo vai introduzir os inimigos com tentáculos e estes, uma vez aparecendo no corpo, precisam ser acertados rapidamente, impedindo que o monstro sofra uma mutação e fique ainda mais forte.


Além das armas melee e de fogo, Jacob encontra uma manopla de GRP, capaz de puxar inimigos e objetos em sua direção, além de arremessá-los.
Imprescindível em áreas com aberturas laterais, a manopla permite arremessar inimigos para fora do cenário ou em armadilhas, como ventiladores e brocas, sendo destroçados no processo.

HORROR ESPACIAL
TCP utiliza muito bem a claustrofobia como seu elemento de terror.
Na esmagadora maioria do tempo, você encontra-se em ambientes pequenos e apertados, com pouca iluminação e diversos pontos para possíveis emboscadas.
Cada janela ou duto de ventilação pode ser uma porta de entrada para inimigos.

Há alguns sustos providenciais, os famosos jump scares.
Vou ser sincero: talvez por estar muito habituado aos jogos de terror, boa parte desses sustos não me surpreenderam, pois eu já os previa.
Mas sim, ao menos cinco sustos fortes eu sofri; dois, em especial, que eu chamo de sustos que “falham o batimento cardíaco”.

O grande mérito de Callisto Protocol, no entanto, não são estes sustos, mas sim o seu clima de angústia.
Aquele medo de perder o progresso ou boa parte da vida em um ataque surpresa.
Todo combate é arriscado aqui, qualquer falha sua pode mudar drasticamente o rumo da luta ou mesmo o seu estoque de itens.
Qualquer monstro pode matá-lo facilmente, se você descuidar-se.
AS CRIATURAS
Bem, eu já citei os monstros que surgem na prisão, mas afinal de contas, o que eles são?
Existem alguns tipos diferentes, sendo os de tamanho humano e bípedes antigos prisioneiros e guardas transformados por um motivo que vai sendo revelado ao decorrer da trama.

Seus corpos possuem a carne macerada e com pústulas, podendo avançar mesmo depois de perderem algum membro ou mesmo a cabeça.
Atacam com socos e podem matá-lo com agarrões, pisadas, mordidas e tantos outros métodos, representados em carnificina bem visual.

Um dos tipos humanoides é também capaz de cuspir jatos de ácido à distância.
Uma dica que já passo é que esse ácido pode ferir também os outros monstros, então usar um inimigo de escudo com o poder da manopla, ou simplesmente tentar colocar ele entre você e a linha de fogo do cuspidor pode salvar sua munição, sendo inclusive possível que o atingido morra com o ácido.


Afora estes, temos uma espécie de lagarta, que salta em Jacob e precisa ser removida com um quick time event e um tentáculo com cabeça, que te morde e também precisa ser removido na base do QTE (no hard, esse tentáculo é resistente e leva uma parte considerável da sua vida).
Ambos os tipos saem de “casulos” de carne no chão ou nas paredes, que podem ser destruídos à distância antes que eclodam.
Essas “lagartas” também podem estar dentro de baús de itens ou armários, então cuidado ao abrir.

Já o “siamês” (apelido pelo qual eu carinhosamente o chamo) é a junção de dois humanoides, parcialmente unidos pelo tronco, ainda que não totalmente e com grandes dentes (ou seriam costelas?) emergindo de seu interior.
Esse, em especial, é tremendamente forte e não pode ser enfrentado com golpe de bastão, sendo necessário derrubá-lo a tiros, até que fique vulnerável.
Inicialmente achei que ele fosse um tipo de chefe, tamanha a resistência da criatura: para derrubá-lo a primeira vez, são 20 tiros normais e depois do combo melee ele entra na segunda forma.
Até dá pra considerar como um subchefe, já que esse tipo de criatura faz algumas aparições, mas o chefe mesmo é outro.

COLÍRIO GORE
TCP é absurdamente bonito e isso vindo em um ano com jogos de gráficos impressionantes, mesmo assim o título consegue surpreender.
Os claustrofóbicos cenários são escuros, com luzes intermitentes piscando e desorientando (propositadamente) o jogador.
O trabalho de luz e sombra é impecável, contribuindo muito na imersão e no sentimento opressor que o jogo causa.


Grande parte do título acontece nos corredores de Ferro Negro, onde corpos mutilados são comuns e robôs de segurança jazem em seus restos mecânicos. A corrupção espalha-se como uma infecção pelas paredes da prisão, com material purulento e tentáculos.
Há também áreas mais amplas, como a estação de tratamento de água e mesmo sessões ao “ar livre”, onde a neve acumula-se pela fria superfície de Calisto, com diversos monstros congelados expostos às intempéries, incluindo alguns ainda ativos, que saem da hibernação forçada para atacá-lo.


Os personagens possuem ótima modelagem, em especial os principais, interpretados por um talentoso elenco hollywoodiano: Josh Duhamel (Jacob Lee), Karen Fukuhara (Dani Nakamura), Sam Witwer (Capitão Leon Ferris), Zeke Alton (Elias Porter), James C. Mathis III (Diretor Duncan Cole), Louise Barnes (Dra. Caitlyn Mahler) e Jeff Schine (Max Barrow).

O design de som também se destaca, pelos constantes sons de rastejar, grunhidos dos monstros e ruídos “pegajosos” das lagartas e ao caminhar sobre a massa purulenta espalhada pelo chão.
A trilha sonora é imersiva e atmosférica, contribuindo muito para a sensação constante de angústia.
Ela é bem trabalhada, começando e terminando nos momentos certos, gerando momentos silenciosos para que o jogador foque no som ambiente.
Sons graves alertam sobre perigo iminente (bem como o rumble do Dual Sense), embora acabem por entregar alguns dos sustos; em outros momentos, são justamente estes sons graves que intensificam os sustos, quando combinados com as súbitas aparições dos monstros.
PLATINA LUNAR
A platina de TCP é paradoxal: ela é fácil em termos dos troféus exigidos, sendo grande parte baseados no avanço da trama e com troféus sobre ações pontuais, mas ao mesmo tempo é difícil, justamente pelo domínio dos controles e por pedir que o jogador finalize o jogo na dificuldade Segurança Máxima (o Hard).


Os coletáveis do jogo são os arquivos contidos no Núcleo de alguns cadáveres e em gravações de áudio em pequenos discos de metal.
Os arquivos nos Núcleos, geralmente também gravações de áudio ou mensagens de texto (incluindo aí senhas e códigos de acesso que você precisa para progredir) precisam ser removidos dos corpos à moda antiga: cortados diretamente da nuca.

O jogo pede que apenas uma arma seja reforjada ao máximo, o que é um alívio, mas você precisa focar em não distribuir demais os recursos em upgrades de diferentes armas.
Já o troféu para realizar cinco esquivas perfeitas pode dar algum trabalho ao jogador, embora eu tenha conseguido naturalmente durante o decorrer da minha primeira jogada, no normal, sendo que a última esquiva perfeita eu consegui na luta final.
RESUMO DA ÓPERA:
The Callisto Protocol é um jogo que pede dedicação do jogador e atenção completa.
Se você pretende jogar algo leve e para aliviar o stress, deixe Callisto para outro momento; a experiência é propositalmente estressante e desesperadora, como um bom survival horror deve ser.
Parte das críticas que o jogo recebeu provavelmente foram por conta de reviewers com pressa para entregar os textos a tempo e também por conta de jogadores desavisados.
TCP não é um jogo fácil, não mesmo! Especialmente nos momentos iniciais, quando a arma melee é a única opção e você ainda está se adaptando aos controles e sem upgrades, você VAI MORRER. E MUITO!
Mas isto faz parte da experiência do jogo, que possui uma curva de aprendizado tensa, praticamente um drift de aprendizado.
No começo, eu estava xingando muito o jogo e com uma opinião negativa sobre ele, mas conforme fui me adaptando e aprendendo melhor o timming das esquivas, meu julgamento sobre o título mudou drasticamente.
Ao recomeçar o jogo no Hard, eu já me esquivava com facilidade e tinha aprendido a administrar melhor meus recursos e rever o posicionamento nos cenários.
O jogo é um deleite visual, com gráficos impactantes (especialmente no PlayStation 5) e belíssimas atuações, além de uma trilha sonora atmosférica impecável e uma engenharia de som que contribui muito para a atmosfera do jogo.
Uma experiência brutal, The Callisto Protocol possui alto desafio e pede boa adaptabilidade do jogador, além de, claro, paciência para aprender.
Pode até ser que no espaço ninguém possa ouvir você gritar, mas dentro da sua casa, enquanto joga o título, pode ter certeza que as pessoas te ouvirão!