
* Esta análise foi feita com o código cedido pela Capcom (versão PS4/PS5)
Distribuidora: Capcom
Produtora: Capcom
Plataforma: PS4 / PS5 / Xbox One / Xbox Series X / Xbox Series S / PC / Google Stadia
Mídia: Física e Digital
Ano de Lançamento: 2021
Resident Evil Village é a 9ª entrada oficial da franquia (considerando RE0 como o “primeiro”) sobre armas biológicas, passando-se alguns anos após os eventos de Resident Evil 7.
Novamente em formato FPS, o jogo corrige uma série de pequenas falhas de seu antecessor e costura pontas soltas da franquia.
ROSE WINTERS
Após os eventos na Luisiana (EUA), Ethan e Mia Winters mudaram-se para uma pequena cidade na Europa e tiveram alguns anos pacíficos, além de um bebê: Rosemary Winters.
Mia passa por um tratamento e controle devido ao seu envolvimento com o Mofo (substância que infectava sua “família”) e por sua ligação com Eveline.

Tudo vai aparentemente bem até que… em uma noite, um ataque conduzido por Chris Redfield e alguns mercenários resulta no sequestro de Ethan e Rose.
Mas algo acontece durante o transporte e Ethan encontra-se no meio do nada, sozinho.
Rose e Chris sumiram e os outros mercenários estão mortos.
Após vagar na neve e na escuridão, Ethan encontra um vilarejo abandonado (ao menos ao primeiro sinal).
Um senhor escondido lhe entrega uma arma e avisa que “eles” estão chegando, mas antes que possa explicar a quem se refere, é puxado para o telhado da casa e despedaçado.
Ethan é tragado pelo assoalho, por uma garra, e encontra uma série de corpos abaixo da casa: os habitantes do vilarejo foram mortos.

Uma criatura acinzentada morde-lhe a mão esquerda e arranca os dois últimos dedos.
Passado o combate inicial, Winters encontra um grupo de sobreviventes em uma casa, que lhe explicam tratarem-se as criaturas de Licanos*, que agora infestam a região, controlada por Mãe Miranda, no Castelo Dimitrescu.
*Licano, na tradução brasileira do jogo, refere-se aqui ao termo Lycan, usualmente traduzido como Licantropo (ou mesmo Lupino), ou seja, o portador da Licantropia, doença que na mitologia transforma pessoas em Lobisomens. No mundo real, a Licantropia também existe, mas como uma doença de ordem psicológica, a Licantropia clínica, onde o paciente sofre de uma psicose que o faz acreditar estar transformando-se em um animal.
MÃE MIRANDA E SEUS SUCESSORES
Ao adentrar o Castelo Dimitrescu, Ethan é “apresentado” aos seus donos: Mãe Miranda, Alcina “Lady” Dimitrescu, Salvatore Moreau, Donna Beneviento e Karl Heisenberg.
Mãe Miranda é considerada uma criatura sagrada pelos habitantes do vilarejo; Lady Dimitrescu, a dona do castelo que carrega seu nome, é uma mulher gigantesca, de pele pálida; Moreau é um sujeito deformado, com aparência humanoide; Donna Beneviento esconde seu rosto sob um véu e é obcecada por bonecas e Heisenberg, o único com aparência humana, é dotado de poderes magnéticos.

Dimitrescu possui o comportamento de uma vampira (provando inclusive o sangue de Ethan) e possui três “filhas”, também com características vampirescas: Bela, Cassandra e Daniela.
Enquanto Alcina possui a habilidade de transformar as mãos em longas garras, o trio de filhas transforma-se em um enxame de insetos, sendo invulneráveis em combate, salvo quando o ponto fraco é descoberto (spoiler que não darei aqui).

Apesar dos atributos vampirescos, todas as quatro, assim como as demais criaturas presentes no jogo, são na verdade armas biológicas, produzidas através do parasita Cadou, ao qual também não entrarei em detalhes por conta de spoilers.
STRIGOI, MOROI E VARCOLAC
Embora, como já citado antes, Dimitrescu e suas filhas não sejam propriamente vampiras, suas características assemelham-se em muito à raça de vampiros Strigoi, do folclore romeno.
Lembrando que aqui cabe uma comparação com o mito de onde acredito a inspiração para as personagens tenha vindo, embora seja uma mera especulação de minha parte, especialmente pelo sobrenome Dimitrescu, de origem romena.

Strigoi é um espírito reanimado em forma de vampiro ou “zumbi” (morto-vivo) que retorna da morte para atormentar os humanos.
As habilidades da raça consistem em transformar-se em diversos animais, ficar invisível e alimentar-se de sangue.

Já os moroi possuem origem semelhante aos strigoi (vampiro ou morto-vivo que volta para assombrar os humanos e roubar sua vitalidade). O termo pode referir-se também ao filho de uma mulher que engravida de um nosferatu (outra variante romena de vampiro), filho de dois strigoi ou uma criança morta antes do batismo.
No jogo, moroaică (a versão feminina) do moroi é um dos inimigos presentes, considerados vampiros de baixo escalão.

Dentre os inimigos licantropos, destaca-se o varcolac (também conhecido como vricolaca), representado no jogo por um lobo de aparência vagamente humana.
Na mitologia romena, o varcolac é um híbrido entre vampiro e lobisomem. Em sua forma humana, o varcolac possui pele pálida e seca e olhos profundos e ferozes; no jogo, os diferentes estágios dos Licanos parecem corresponder à transformação do varcolac em sua forma pura, o Varcolac Alfa.
Nas lendas, semelhantes ao surgimento de lobisomens em outras mitologias, o varcolac pode se originar de uma criança morta e não-batizada, um filho bastardo, um suicida ou o filho de outro varcolac, que nasce já com a maldição no sangue.

DUKE, O VENDEDOR MISTERIOSO
Quando descobre que Rose foi sequestrada pelos seguidores de Miranda para um ritual, Ethan parte em uma busca pela filha mas, perdido na região, dá de cara com Duke, um estranho vendedor que parece conhecer todos os segredos da região.

Obeso mórbido e de cabelos loiros e ar bonachão, Duke oferece uma variedade de itens para serem comprados, de munição, peças para armas e remédios, além de comprar toda sorte de itens e tesouros encontrados por Winters.

Duke também faz melhorias em armas e cozinha pratos que geram upgrades de vida e força permanentes para Ethan, mediante à matéria-prima animal (peixes, porcos e aves, que podem ser abatidos e caçados ao longo do jogo).
MEDO E ESCURIDÃO
Embora o começo do jogo passe a impressão de mais um jogo de ação do que terror, há momentos de tensão, especialmente na casa de Beneviento, com as bonecas bizarras, manequins e aquilo que te persegue em determinado momento (sem spoilers, mas se jogou, sabe do que estou falando…).

No Castelo Dimitrescu, além da própria gigante Alcina, que o procura pelos dois andares principais, no melhor estilo Nemesis e Mister X, suas três filhas também dominam certas regiões da construção.

Outro ponto de tensão é a fábrica de Heisenberg, que utiliza-se bastante das sombras e luzes apagadas e o uso dos soldats, humanos modificados com o cadou e partes mecânicas.
A fábrica é um dos maiores cenários do jogo, possuindo diversos andares e o acesso via elevador, além de moldes para chaves e artefatos de acesso, acaba por ser prejudicada por um excesso de escuridão, causando a navegação confusa, tornando-se um trecho um tanto quanto cansativo.

Já a área alagada de Moreau, após uma passagem por cavernas infestadas de moroaicãs, possui um interessante level design, baseando-se na movimentação por palafitas e madeiras e telhas flutuantes, enquanto evita-se a investida mortal de Moreau em sua forma “peixe” gigante.
COMBATE E SOBREVIVÊNCIA
Um dos aspectos com consideráveis melhorias em relação ao seu antecessor, a jogabilidade é fluída e prática.
As armas possuem boa precisão para headshots, embora muitos inimigos (em especial os Licanos) possam receber mais tiros e esquivar ataques.

A faca, que não se mostrava tão útil contra os “Mofados” (Molded, no original) de RE7, agora é bastante eficaz e pode lhe salvar de momentos desesperadores onde a munição esgotou.
O combate com a faca é tão bom, que inclusive ela pode ser usada para matar inimigos mais fracos sem receber dano, se você souber os momentos exatos de atacar para manter o “combo”.

Além da faca, pistolas, escopetas, lança-granadas, rifles e rifles de precisão encontram-se no arsenal disponível para Ethan (além de metralhadores e submetralhadoras que podem ser compradas diretamente de Duke).

Os itens como munição e cura, além de poderem ser comprados do mercador, podem ser fabricados com os ingredientes certos.
É sempre bom vasculhar cada canto, especialmente embaixo de caixas ou frestas, para não perder munição e eventuais ervas, além de relatórios que expandem o lore.

Inimigos normais soltam itens eventualmente ou, em outras ocasiões, ossos cristalizados, que rendem boa grana ao serem vendidos para Duke.
Não somente estes, mas também joias podem ser encontradas pelos cenários, especialmente presas no teto ou em estruturas escondidas, devendo ser derrubadas com disparos; algumas podem ser combinadas para adornos mais caros.
A EXÓTICA BELEZA DO LESTE EUROPEU
Certamente um dos aspectos de destaque do título, a arte e os gráficos de Village são impressionantes, com belíssimos cenários fotorrealistas (em especial o Castelo Dimitrescu).

Os rostos possuem mais vida, com personagens como Lady e suas filhas (além de Chris) bastante críveis, sem causar o efeito Uncanny Valley (quando rostos artificiais muito realísticos causam estranheza aos seres humanos).
Chris Redfield aparece em sua versão definitiva: uma evolução do estranho visual de RE5, mais proporcional e realista desta vez (Capcom, por favor, mantenha este estilo).

A trilha sonora orquestrada possui tom sombrio bem aclimatado à arte, destacando-se também os efeitos sonoros para aumentar o clima de tensão.
Não apenas indicativos de perigo e combate, as sessões em que você se esgueira por Lady Dimitrescu possuem leves avisos sonoros de proximidade, mudando de intensidade na música conforme ela se aproxima ou se afasta do local.
PUZZLES E EXTRAS
Os puzzles, marca registrada da franquia para acessar novas áreas ou itens, se fazem presentes com desafios variando entre notas musicais de um piano, uma caixa de música, correto posicionamento de estátuas, coleta de símbolos de pedra e rearranjar frames em um filme de 8mm.

Como novidade, temos os labirintos, puzzles onde uma bola deve ser guiada inclinando um e girando um cenário, evitando que ela caia para fora do circuito, até enfim atingir a linha de chegada.
Tais labirintos liberam esqueletos cravejados de cristais, que rendem muitos créditos com Duke e são ótimos para comprar diversos upgrades de armas.

O modo Mercenaries faz seu retorno, com seu estilo arcade e seus cenários repletos de inimigos que devem ser abatidos por pontos em tempo pré-determinado.
As pontuações ajudam na compra de melhores armamentos e itens.
Um ótimo passatempo para depois de ter zerado a campanha, Mercenaries pode ser altamente viciante… esteja avisado!

A platina é desafiadora, BEM desafiadora.
O modo de dificuldade Village Of Shadows, desbloqueável após zerar o jogo pela primeira vez em qualquer dificuldade (ou automaticamente caso você compre a versão Deluxe do jogo) é certamente o maior obstáculo de dificuldade.
Inimigos em maior número, mais agressivos e causando mais dano neste modo, faz com que zerar nele seja recomendável após desbloquear uma série de facilidades ao longo da primeira campanha, como munições infinitas e armas melhores. Para os compradores da versão Deluxe, que podem ter acesso à dificuldade já na primeira run, NÃO É RECOMENDÁVEL iniciar por ela, salvo para jogadores realmente habilidosos (e/ou masoquistas).

Atenção aos troféus de quebrar todas as janelas do castelo, destruir todas as cabras de madeira e abrir todas as portas do vilarejo.
Os demais troféus não devem ser problemas, especialmente com o New Game + carregando boa parte do progresso.
RESUMO DA ÓPERA:
Resident Evil Village faz um excelente trabalho em continuar a saga de Ethan Winters, corrigindo uma série de pequenos problemas do jogo anterior e resgatando o clima de tensão, porém em cenários mais variados e com maior número de diferentes inimigos (uma falha grave em RE7).
A junção do plot unindo vários momentos da franquia mostra uma boa adaptabilidade de roteiro, com personagens carismáticos (especialmente os novos vilões), um bom embasamento mitológico combinado ao lore da franquia.
Gráficos de ponta e o retorno dos momentos de terror elevam o patamar do jogo na nova geração, tornando-o um dos principais jogos do ano e forte concorrente ao GOTY.
Uma experiência envolvente e que convida o jogador a repetir a dose, com extras para aumentar o fator replay do jogo, como bônus para novas jogadas e o viciante modo Mercenaries, faz do título um jogo obrigatório em 2021.
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