* Esta análise foi feita com o código cedido pela 505 Games (versão PS5)

Distribuidora: 505 Games
Produtora: The Beardie Ladies
Plataforma:  PS5 / Xbox Series S / Xbox Series X / PC
Mídia: Física e Digital
Ano de Lançamento: 2023

Miasma Chronicles é um jogo de tiro tático ambientado nos EUA destruídos por uma força chamada Miasma.

EDEZEN

Em um futuro distante, onde os constantes abusos da humanidade sobre a natureza cobraram seu preço com a extinção dos recursos naturais, uma empresa surgiu com a promessa de recuperação do planeta através do Miasma.

Aliando inteligência artificial e nanotecnologia, o Miasma foi capaz de consumir os microplásticos dos oceanos, purificar o ar e devolver os nutrientes à terra.
Tudo parecia resolvido, a Edezen havia entregue a recuperação do planeta; porém, ainda que por motivos desconhecidos, o Miasma aumentou sua força e passou a destruir e consumir cidades e seres vivos.

É neste cenário caótico que Elvis e seu “irmão”, o robô Diggs, residentes da cidade de Sedentary, tentam constantemente romper o Véu, uma barreira de Miasma que impede a passagem para outra região do país.
Para lá foi a mãe de Elvis, Bha Mahdi, que o treinou desde pequeno para utilizar a nano-luva, instruindo-o a dominá-la até poder romper o Véu.

ABSORVENDO MIASMA

Após muitas tentativas infrutíferas de romper o Véu, Elvis frita os circuitos da luva e precisa retornar à sua cidade para consertá-la.
Aqui temos o primeiro contato com Mason, o prefeito de Sedentary, uma figura peculiar…

Mason é um sobrevivente, como ele mesmo se autodenomina, sendo apenas uma cabeça humana em um corpo robótico, que substituiu as partes que ele perdeu ao longo dos anos.
Mason acredita no potencial do garoto e em sua habilidade com a luva, ajudando-o à recuperá-la.

Elvis entra em contato com os Rãmeiros, sapos humanoides e tribais que habitam ruínas e cultuam o Miasma.
Ao enfrentá-los em combate, junto de Diggs, o guerreiro sente-se atraído pelo vórtice de miasma e sua luva acaba por absorvê-lo.
É assim que Elvis aprende a manipular a energia, podendo agora utilizá-la como um poder pessoal para afetar inimigos e mudar condições no campo de batalha.

COVER PARA QUE TE QUERO

Navegação e exploração são livres pelo título (e muito importantes na obtenção de recursos).
Ao entrar em combate, o estilo muda para o combate tático por turnos, sendo que cada personagem possui duas ações disponíveis.
Caminhar em qualquer direção custa uma ação, dentro da delimitação em branco; caso avance deste ponto, a marcação em laranja surge, indicando que o deslocamento utilizará duas ações.

Utilizar itens consome uma ação, mas habilidades e poderes podem consumir uma ou duas ações, dependendo de sua complexidade, e que precisarão de turnos para serem recarregadas.
Atirar custa duas ações, porém se você caminhar na primeira ação, ainda poderá atirar ao custo de duas ações (a caminhada, neste caso, tem seu gasto ignorado).

Cada disparo possui uma chance de acerto, dependendo da arma e da distância, bem como de possíveis obstáculos: covers são essenciais para a sobrevivência!
Esta chance é representada pela porcentagem de acerto exibida em branco na barra de energia vital do inimigo e a chance de um acerto crítico é mostrada em laranja.

É possível equipar duas armas por personagem, sendo possível trocá-las apertando Triângulo durante o combate. Para alternar entre o personagem da jogada, utiliza-se o R1 e o alvo é alternado com R2 (entre aqueles disponíveis no raio de alcance da arma em questão).
Caso deseje encerrar o turno do personagem sem utilizar todas as ações, basta segurar Círculo.

Tiros e habilidades, poderes e itens como as granadas ou partes explosivas dos cenários podem causar dano adicional por mais turnos, como efeito ácido ou queimaduras.
A habilidade de Vigília coloca o personagem de prontidão, podendo atacar qualquer inimigo que se mova dentro de seu campo de visão, mas apenas se ele caminhar (o tiro protegido por cover não conta).

Como estratégia adicional, é possível emboscar personagens mais afastados de seu pelotão.
Para tal, você deve pressionar Círculo, o que faz o grupo se abaixar, ficando menos visível atrás de cover (a visão e audição inimigas são representadas pelos quadrados amarelos no chão, que se tornam vermelhos conforme o jogador vai sendo detectado).

Ao preparar uma emboscada, é possível dividir o grupo, pressionando R3, o que fará apenas o personagem da vez avançar; ao pressionar R3 novamente, eles irão reagrupar-se (os outros dois retornam automaticamente à sua volta). Já o L3 funciona como um scanner, realçando inimigos, itens e o cenário (além de indicar a direção a seguir para a missão selecionada).

Pressione Quadrado e a emboscada se inicia.
Caso consiga abater o inimigo com armas silenciosas (como o rifle sniper de Jade), a emboscada é finalizada, sem que o combate propriamente dito tenha início.
Do contrário, o pelotão será alertado pelos seus tiros ou o chamado do inimigo.

Para certificar-se de estar emboscando um adversário solitário, antes de acertá-lo, verifique se ele não possui nenhum linha em vermelho apontada para sua cabeça; se houver uma, significa que ele está no campo visual ou sonoro de outro inimigo.
Para afastar potenciais alvos solitários de seu grupo, jogue uma garrafa de vidro ou utilize distrações sonoras do cenário.

VIAGEM PELO KENTUCKY

O jogo se passa no estado americano do Kentucky, onde é possível explorar as ruínas dos Originais, modo como os humanos pré-apocalipse causado Miasma são chamados.
Parque temático, estação de trem, aeroporto e um hospital são algumas destas localidades.

A exploração (como citador anteriormente) é um fator essencial para localizar mais recursos, sendo o plástico a moeda atual.
Consumíveis como itens de cura, granadas e garrafas também pode ser encontrados, bem como novas armas (caixas fechadas com uma luz roxa saindo de seu interior) e melhorias para elas. Armas e equipamentos podem também ser comprados nas cidades.

Entre os coletáveis que expandem o lore, encontramos notas e gravações em áudio sobre o mundo atual e algumas referências aos Originais.
Terminais de computador possuem logs sobre a origem do Miasma e a extinção do povo antigo, bem como o surgimento de novas raças.

Alguns locais e itens podem ser utilizados apenas por personagens específicos: Elvis pode reativar a memória de robôs antigos para conversas sobre a sua criação e função; Jade pode hackear terminais e mecanismos mais complexos e Diggs pode quebrar tábuas de madeira que bloqueiam passagens.
Os outros dois personagens disponíveis, que surgem mais à frente na aventura (e que não mencionarei por questões de spoiler), não possuem habilidades exploratórias, embora participem das conversas automáticas ao investigar locais e nas transições entre alguns mapas e missões, onde os personagens conversam ao redor de uma fogueira.

Há também trajes especiais para cada personagem, os quais mudam apenas esteticamente o personagem, em grande parte desbloqueados através de sidequests.
Estas são representadas por triângulos azuis no mapa e envolvem favores para os moradores locais ou algum item que precise de identificação.

Podem incluir chips de modificação para as nano-luvas e que permitem adicionar efeitos aos poderes de Miasma adquiridos, como dano adicional de choque, ácido, fogo, encolhimento dos inimigos, etc.

Já as armas podem receber duas melhorias, uma mira que agregue bônus de dano para tipos de inimigos ou distância e modificações no carregamento, como espaço para mais munição ou dano diferenciado de bônus.

MIASMA E POEIRA

Graficamente, Miasma Chronicles possui personagens e cenáriosbem detalhados, em um mundo cinzento, com cores frias e pesadas.
Apesar do bom humor de Diggs e das piadas de Elvis, o mundo de MC é melancólico e morto, o que é bem representado nesta ausência de cores quentes gerais, com exceção dos neons aqui e ali.

Através das ruínas, percebemos resquícios da humanidade apagada pelo Miasma, com representações humanas “petrificadas” nos locais de sua morte.
Os personagens tecem comentários sobre os Originais, tentando entender o funcionamento de suas estruturas, como um hospital, que eles chamam de Local de Morte.

Os vórtices de Miasma, carregados de partículas voadoras e eventuais relâmpagos, entretanto, causam algumas quedas de frame ao girar a câmera, pontuais em raros momentos, mas acontecem.
Estas quedas e “engasgos”, entretanto, não prejudicam o gameplay e não ocorrem durante o combate, ficando relegadas à movimentação livre pelos cenários, acontecendo em momentos onde há muitos elementos em tela.

O jogo faz um excelente uso de sintetizadores e música industrial com um aspecto sombrio e rápido, com um destaque especial para as lutas finais do jogo.

A dublagem em inglês possui boas atuações, mas quem rouba a cena é Byron Marc Newsome (fazendo a voz de Diggs), com comentários hilários e reações espontâneas, além de uma ótima localização para o português, como “Namastê é o meu rabo”.

PLATINA PARA OS FORTES

Você é uma pessoa persistente?
Caso deseje platinar Miasma Chronicles, você terá de ser, pois os troféus deste jogo podem ser amedrontadores.
O maior desafio, sem sombra de dúvidas, é finalizar o jogo na dificuldade Manipulador Alfa (o equivalente ao Iron Man de outros jogos táticos), onde o dano é massivo e as opções de salvamento manual são desabilitadas.

Combinado a este troféu, temos a escolha entre opções táticas Leve e Completa.
Na dificuldade Leve, as chances de acerto são maiores, baseadas nas estatísticas e o flanqueamento dos inimigos concede melhores bônus; já a Completa reduz as chances de acerto e cria mais tensão no ambiente.
E claro, eu estou falando destas opções pois obviamente a platina exige que o jogador termine a campanha na dificuldade Manipulador Alga com a opção tática Completa.

Ademais troféus não são grande problema, baseando-se em achar os coletáveis e completar as sidequests, além de ações específicas e abates em condições especiais.
Não há troféus relacionados à evolução de personagem e ao deck de habilidades (que podem ser resetados via menu, sem nenhum custo).

RESUMO DA ÓPERA:
Miasma Chronicles é mais um acerto do estúdio The Beardie Ladies, os mesmos produtores de Mutant Year Zero: Road To Eden (outro excelente jogo de tiro tático).
Aqui, o estúdio sueco apostou em uma maior quantidade de opções de dificuldade, aumentando assim a acessibilidade para um público maior, já que Mutant é um jogo realmente hardcore.

O título possui personagens carismáticos e um lore sólido e instigante, com uma série de mistérios sobre o surgimento do Miasma e os Originais, além da enigmática Primeira Família.
O gráfico faz bonito no console, com cenários extensos e complexos, carregados de um clima soturno e ameaçador. Apesar das opções de Desempenho e Gráfico, mesmo em desempenho o jogo sofre de alguns engasgos quando muitos elementos estão presentes em tela, mas são momentos mais esparsos e que não ocorrem durante o combate, apenas na parte exploratória.

O stealth é um elemento essencial para reduzir as fileiras inimigas com emboscadas que podem fazer a diferença na hora de iniciar um combate longo e desafiador.
A máquina é impiedosa e o fará xingar constantemente seus personagens quando um tiro decisivo de 50% de chance atingir a parede e colocá-lo em situações complicadas.
Mesmo assim, com um sorriso nos lábios e uma nova tática na mente, você retornará triunfante para derrotar os inimigos desta vez.

Apesar de alguns pequenos deslizes na parte do desempenho, Miasma Chronicles consegue entreter e hipnotizar o jogador em um mundo imersivo e cruel, fruto da própria ganância humana, com um combate eletrizante.