Review / Tutorial de Imp Of The Sun

* Esta análise foi feita com o código cedido pela Fireshine Games (versão PS4/PS5)

Distribuidora: Fireshine Games
Produtora: Sunwolf Entertainment
Plataforma: PS4 / PS5 / Xbox One / Xbox Series S / Xbox Series X / Switch / PC
Mídia: Digital
Ano de Lançamento: 2022

Imp Of The Sun é um metroidvania inspirado na Mitologia Inca, onde você encarna Nin, um imp responsável por resgatar o poder do Sol.

O ECLIPSE COMO O APOCALIPSE PRÉ-COLOMBIANO

Os povos pré-colombianos abrangem as civilizações indígenas das Américas, desde a pré-História até a chegada dos europeus.
Dividem-se em dois grupos: Povos Mesoamericanos (olmecas, toltecas, teotihuacanos, zapotecas, mixtecas, astecas e maias) e Povos Andinos (incas, moches, chibchas, cañaris).

Macchu Picchu, a lendária cidade Inca, hoje ponto turístico

Como povos indígenas do mesmo continente, possuíam crenças comuns entre si.
Inicialmente a adoração aos totens, que foi posteriormente sendo substituída pela adoração ao Sol e à Lua.

O Império Inca foi o maior na América pré-colombiana

Neste ponto, Incas, Maias e Astecas destacam-se, tendo como o Sol (Inti, Kinich Ahau e Tonatiuh, respectivamente) uma de suas (se não a principal) divindade e a Lua (Mama Quilla, Ixchel e Coatlicue*, respectivamente).

* A mitologia Asteca é mais complexa neste ponto e, além de Coatlicue, temos também Metztli, deus ou deusa da lua, mas isto é assunto para outro texto.

Sendo Sol e Lua as principais divindades (ou figurando entre o grupo principal do panteão) destas culturas, é natural que o Eclipse fosse visto como algo aterrador, uma vez que o Sol era a luz que dava vida às plantas e aquecia os seres vivos, ao mesmo tempo em que a Lua era geralmente vista como sua deusa consorte e/ou irmã, responsável pela feminilidade e fertilidade.

Apu Inti, o deus inca do Sol

Neste ponto é importante ressaltar que embora politeístas e “pagãos”, o Sagrado Feminino era existente nos povos pré-colombianos, mas possuía um caráter diferente dos povos europeus e africanos, sendo uma figura masculina geralmente superior à feminina.

Mama Quilla, a deusa Lua

Portanto, a Lua sobrepor-se ao Sol assustava tais povos não apenas pelo caráter da “noite durante o dia” e pela escuridão mas, inconscientemente, como uma quebra da hierarquia social entre masculino e feminino. Semelhante ao que as religiões monoteístas trariam para suprimir as religiões politeístas e a utilização do Sagrado Feminino, como o caso de Lilith na mitologia judaico-cristã e muçulmana, a primeira mulher de Adão, feita à imagem e semelhança de Deus (ou Alá), que é banida por rebelar-se contra Adão, sendo Eva feita da costela do Homem, para que lhe fosse subserviente.

OS FILHOS DE VIRACOCHA

Viracocha é o deus primordial da mitologia inca, tendo criado tudo que é visível e invisível no universo e organizando-o em três mundos:
Hanan Pacha: o mundo superior, morada dos seres celestes, constelações, astros, raios, estrelas, arco-íris e nuvens;
Kay Pacha: o nosso mundo, lar dos seres terrestres, montanhas, lagos, homens, animais e plantas;
Uchu Pacha: o mundo subterrâneo, onde “vivem” os mallquis, os ancestrais em forma de “sementes”, que “plantados” darão vida aos novos homens (o que originaria a mumificação inca).

Viracocha, o deus primordial

Bom, mas vamos ao que interessa: Viracocha deu origem aos outros deuses, incluindo Inti (o Sol) e Mama Quilla (Lua).
Em Imp Of The Sun, o poder do Sol foi roubado por quatro Guardiões; com suas últimas forças, Inti cria o diabrete (Imp), mais tarde nomeado Nin, para recuperar a luz e acabar com o Eclipse eterno.

Nin desce à Terra com uma importante missão

Nin é uma pequena fagulha humanoide, utilizando uma lança como arma, tanto para ataques normais e aéreos (bem importantes para combos maiores e a facilidade em atordoar os inimigos) ou para ser arremessada (que serve tanto como arma quanto ferramenta para resolver puzzles).

Tem fogo?
Tenho!!!

OS ÚLTIMOS HUMANOS

Ao ser criado e descer à Terra, Nin tem contato com duas humanas: a pequena Suyana e sua avó, Izhi.
Ambas possuem funções secundárias para a aventura: Suyana paga por artefatos encontrados, além de dar dicas e avisos através do comunicador e Izhi lê os Quipos, artefatos que contêm a história de seu povo (baseados nos Quipos reais, que os Incas utilizavam para contabilidade, escrita e registros da mitologia).

Izhi desconfia de Nin no começo da jornada
Suyana coleciona artefatos da civilização… e paga um bom preço por eles

Além da dupla, Qari, o fantasma de uma explorador morto é responsável pelo sistema de upgrades, checkpoints e fornece a opção de viagem rápida entre pontos, sempre que você encontrar o mapa do local (Qari era também um cartógrafo?).

Qari é o guia de Nin
Cada mapa coletado permite a viagem rápida através da magia de Qari

EXPLORANDO O REINO

As regiões inóspitas onde estão os Guardiões e os fragmentos de poder são repletas de desafios de plataforma e puzzles, envolvendo botões e alavancas, também o uso da habilidade de acender tochas que Nin ganha mais para a frente.
Os puzzles são muitas vezes ditados pelo fator velocidade, ativando plataformas e passagens que se fecham com o tempo, por exemplo, ao arremessar a flecha para ativar um botão e correr enquanto placas de pedra mudam de lugar, liberando algum caminho ou impedindo que a água apague a chama do pequeno imp.

Cuidado com a água!
Habilidades e golpes disponíveis

Lembre-se, você precisa do fogo para progredir, seja para curar-se, ficar intangível e atravessar paredes mais finas ou acender as tochas.
Nin possui o pulo duplo como habilidade primária, mas recebe outras habilidades de deslocamento conforme progride, como realizar saltos na parede (ajudando a acessar áreas mais altas, desde que em superfícies verticais) e um impulso aéreo, maximizando a altura atingida após os saltos, além de um deslizamento que serve para atravessar áreas menores.

Plataformas móveis são uma constante nos desafios
Com o modo fumaça, você atravessa paredes e pode pisar em plataformas destrutíveis sem se preocupar

Os cenários variam entre florestas, rios e lagos e ruínas, todos com bastante verticalidade e desafios de salto, além de armadilhas com espinhos.
As paisagens são belamente adornadas com muita cor e um estilo artístico que parece desenhado à mão.

Chegando no deserto
… um dos cenários mais bonitos do jogo

Os personagens são carismáticos, tanto os aliados e Nin quanto os inimigos e chefes.
Falando nos inimigos, eles variam entre mortos-vivos (provavelmente os ancestrais mallquis), espíritos das águas, condores, esqueletos, totens flutuantes, fantasmas, entre outros.

A arte do jogo é belíssima
Não dá pra discordar…

O idioma falado pelos personagens soa diferente, não consegui captar se Quíchua (a língua nativa dos incas e ainda falada em algumas regiões da Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador e Peru) ou um idioma criado, como o Simlish (em The Sims).

A palavra é: verticalidade! (afinal, estamos nos Andes)
O belo (e macabro) cenário do mundo inferior

A trilha sonora mescla temas suaves com épicos, dando bom ritmo à aventura, com parte orquestrada, como você pode conferir no vídeo abaixo:

Os chefes variam em tamanhos e formas de ataque, indo de um pequeno guerreiro até um gigante de pedra, com um alto nível de desafio.
Cada um deles guarda uma das habilidades do Sol, como a cura instantânea (de três barras de vida) e um “hadouken” de fogo.

Essa é a apresentação de um dos chefes… boa sorte!
Estes cubos podem ser destruídos com o poder do fogo… e criar plataformas

PLATINA ILUMINADA

A platina de IotS é COMPLICADA.
Esteja preparado para sofrer se decidir encará-la!

Os Quipos registram as lendas do povo Inca
Aqui o sistema de upgrades… zere sem comprar nenhum e ganha um troféu

Além dos troféus por derrotar cada chefe e coletar todos os Quipos, há troféus para finalizar o jogo sem morrer, finalizar em menos de três horas, finalizar sem fazer upgrades (é sério?) e finalizar o jogo no modo Eclipse, liberado após acabar o jogo pela primeira vez, onde todos os cenários ficam na escuridão (fazendo jus ao nome).

Perdi a noção de quantas vezes morri nesse desafio… e lá se vai a platina!

RESUMO DA ÓPERA:
Imp Of The Sun é uma experiência impressionante em termos de metroidvania, com boa duração e desafio alto.

A arte transporta a mitologia andina (inca) em belíssimos gráficos e cores pelas mãos do estúdio peruano Sunwolf Entertainment (ao qual agora irei prestar muita atenção).

Um passeio de barco para relaxar…

Imp Of The Sun é uma gostosa aventura, recomendada para todas as idades (o jogo possui violência bem cartunesca e moderada), com personagens carismáticos, uma trama interessante e boa execução de gameplay.






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