
* Esta análise foi feita com o código cedido pela Square Enix (versão PS5)
Distribuidora: Square Enix
Produtora: Creative Business Unit III
Plataforma: PS5
Mídia: Física e Digital
Ano de Lançamento: 2023

Final Fantasy XVI é a nova entrada na série de RPG japonesa, desta vez como um RPG de ação, ambientado no mundo de Valisthea, dividido entre nações em guerra pelo poder dos cristais e do éter.
A GUERRA DOS CRISTAIS
O mundo de Valisthea possui gigantescos cristais, dos quais emana o éter utilizado como fonte de magia em pequenos cristais, utilizados para as necessidades básicas da população, como fogo e água.
Não é de se estranhar, portanto, que os reinos entrem constantemente em guerra pelo domínio dos Cristais-Máter.


Humanos que nasceram com a habilidade de conjurar pequenas magias são chamados de Portadores, aqueles que podem utilizar uma pequena porção do éter disponível no ar; já os Dominantes possuem maior poder, utilizando a força dos Eikons, poderosas entidades capazes de grandes feitos em combate e magia.


Os Portadores são tratados como criaturas inferiores na maior parte do Império, sendo escravizados em diversas regiões. Já os Dominantes são tolerados pelo seu poder, mas vistos como “máquinas de guerra”.
O GRÃO-DUCADO DE ROSARIA
Você controla Clive Rosfield, filho mais velho do Arquiduque de Rosaria, Elwin Rosfield.
Embora seja o filho mais velho, Clive foi destinado como Escudo de seu irmão mais novo, Joshua, o Dominante da Fênix, destinado à sucessão do pai.


Sem poderes, Clive é rejeitado pela mãe, Annabella, que o vê como inferior e só tem olhos para Joshua, por este ser o Dominante.
No Grão-Ducado de Rosaria, os Portadores são respeitados e o Dominante é tido como uma honraria, sendo ele o governante local.


Sem habilidades relativas ao éter, Clive especializa-se no combate com a espada, preparado para ser um protetor de seu irmão, que tornar-se-a o Arquiduque no futuro.
Mas tudo muda em uma noite, quando o Grão-Ducado é atacado e, em meio ao caos da batalha, Clive acaba por manifestar temporariamente o poder de Dominante, mas não da Fênix, que pertence ao seu irmão, e sim de Ifrit, um segundo Eikon de fogo, o que era inédito até então, sendo apenas um Eikon por elemento.
O ESCRAVO E O REBELDE
O jogo avança alguns anos, com um Clive agora mais velho, marcado como um Portador a serviço do Império, participando de um esquadrão secreto que visa eliminar uma Dominante em meio à guerra.


Após alguns combates, Clive acaba sendo salvo por um rebelde, Cidolfus, que o leva ao esconderijo da resistência.
Cid tem como objetivo libertar o máximo possível de Portadores. No acampamento conhecemos o ferreiro Blackthorne, a comerciante Charon, a curandeira/médica Tarja e o estudioso Harpócrates.


Enquanto um exímio espadachim, Clive usará sempre uma espada longa em combate, sendo controlada com Quadrado, enquanto Triângulo serve para lançar magias. R1 funciona como esquiva, podendo desacelerar o ataque temporariamente e render um contra-ataque poderoso quando executada no último momento; o parry pode ser executado atacando-se o adversário no momento em que o golpe dele irá acertá-lo, paralisando temporariamente o inimigo.


Ao contrário dos demais Dominantes, Clive mostra-se capaz de absorver parte do poder deles, podendo alternar diferentes elementos de magias conforme enfrenta os chefes; porém, seu Eikon continua sendo apenas Ifrit.
Você pode equipar até três elementos por vez, sendo alternados em batalha com L2 e os golpes mais poderosos sendo utilizados com R2 + Quadrado e R2 + Triângulo e Círculo funcionando como uma habilidade eikônica própria de cada elemento (por exemplo, o fogo permite dar um dash rápido e que causa um pequeno dano, enquanto o vento permite lançar uma garra que puxa pequenos inimigos em sua direção).

EXPLORANDO VALISTHEA
O mundo é dividido por reinos, sendo cada um deles composto de grandes mapas exploráveis, embora a passagem entre reinos seja feita por um mapa-múndi, sem exploração propriamente dita.


O jogo é bastante linear nas dungeons, ficando até mesmo corredor puro em várias partes. Já nas áreas abertas, há sempre múltiplos caminhos.
As paisagens são vastas e contam com diversos terrenos, entre florestas, planícies e desertos, com belíssimos gráficos.


O frame rate, curiosamente, cai em algumas partes de exploração, mas roda liso durante o combate.
Para navegar pelos grandes mapas, é possível a utilização de chocobos, sendo Ambrosia (a chocobo branca) a companheira de Clive. Os demais personagens utilizam os chocobos amarelos tradicionais.


Conforme progride na trama, o personagem vai para um segundo esconderijo, agora maior e com mais opções.
Os upgrades de arma e roupa podem ser feitos com Blackthorne e os itens, bem como espadas e roupas, podem ser comprados com Charon.


Hárpocrates ouve as aventuras de Clive e aprende com elas, funcionando como uma enciclopédia ambulante do mundo, já Vivian atualiza o personagem sobre a situação dos reinos e personagens.


As sidequests ficam são organizadas por Gaute (consultando-as com ele, você pode ser enviado diretamente para o local) e Desiree é responsável por distribuir as premiações de patronos da causa, assim que Clive obtém um determinado nível de valor.


Falando sobre as sidequests, a maior parte delas consiste em fetch quests de menor importância, mas conforme avança é possível encontrar algumas que explicam melhor a relação entre certos personagens, o passado deles e mesmo a situação dos reinos.


Ao final de cada combate, além dos pontos de experiência e itens recebidos, você recebe também uma “moeda” especial, que equivale ao seu valor perante os patronos, o que pode ser revertido em itens recebidos no balcão de Desiree, no esconderijo.


Nektar, um moogle, é o responsável pelo Painel de Caça, onde os maiores desafios do jogo encontram-se.
Os alvos funcionam como “chefes secretos” que surgem em determinadas localidades e possuem um alto nível de dificuldade, ao contrário das batalhas da trama, em geral bastante fáceis.
PARTY VOLÁTIL
Ao contrário dos outros Final Fantasy (com exceção do XV), a party é estabelecida pela trama, sendo Torgal, o cão, seu aliado constante e o único a quem você pode dar comandos de ataque ou cura.


Os demais NPC’s entram ou saem conforme os acontecimentos da aventura progridem (com raras exceções onde você pode escolher), variando entre Cidolfus, Jill, Gav (em curtas ocasiões) e alguns outros personagens (que não citarei por motivos de spoiler).


Torgal sobe de nível conforme é usado, mas os demais NPC’s não possuem evolução ou equipamentos aos quais você deva se preocupar.
A árvore de habilidades de Clive é fácil de entender, possuindo uma extensão para cada novo poder de Eikon, consistindo em cinco golpes/magias que podem ser melhorados duas vezes.


Os inimigos possuem grande variedade, congruentes aos reinos específicos, variando de orcs e globins a cavaleiros e bandidos humanos, plantas, escorpiões, etc.
Cada inimigo possui seu equivalente akáshico, uma versão corrompida pelo excesso de éter no corpo, vítimas da Praga que avança pelos reinos.


Os chefes dão um show a parte, consistindo em grandiosas batalhas, especialmente quando os Eikons enfrentam-se diretamente.
As batalhas entre Eikons destroem o lugar onde acontecem, tamanho o poder das entidades, que equivalem aos summons da série.


Durante estas batalhas, há alguns quick time events (R1 para esquiva e Quadrado para ataque, além de uma repetição constante de Quadrado para representar força empregada).
As lutas de Eikons costumam ser longas e mais difíceis que a média do jogo, embora o título não apresenta grande dificuldade (como citado anteriormente).
Caso morra, você pode escolher voltar, geralmente com os itens de energia repostos no máximo.


Além disto, é possível equipar nos itens anéis mágicos que facilitam a sua vida, como um que permite Clive esquivar automaticamente de ataques (mais recomendado para a run no modo Final Fantasy).


No esconderijo há uma Pedra de Areté, onde você pode acessar o Salão da Virtude, um local para treino, com várias opções de customização.
É nesta pedra que também podem ser acessados o Modo Arcade (revisite fases com uma pontuação a cada encontro de inimigos) e a Reprise de Fases (onde você pode jogar novamente um segmento por onde passou, inclusive com a opção de ignorar cutscenes, sem assim desejar).


Afora esta, pedras chamadas Chronolitos podem ser encontradas nos reinos, a princípio desativadas, mas assim que voltam a funcionar, cada uma possui um desafio dividido em quatro arenas de combate onde você pode utilizar apenas os poderes pré-determinados.
Cada Chronolito é marcado com um Eikon, portanto apenas aquele elemento estará disponível durante o desafio.
BRILHANTE POLIMENTO
Final Fantasy XVI é um jogo belíssimo, utilizando bem o poder do PS5, com amplos e detalhados cenários, possuindo uma palheta de cores com tons mais sóbrios e opacos, que combinam com a trama mais madura.
Os efeitos elementais, contudo, possuem cores muito vivas e brilhantes, com um forte uso de motion blur durante as transições (que podem ser ajustado depois de um update).
O jogo possui um sistema de partículas e efeitos de sombra e luz espetaculares, garantindo um deleite visual.


Os personagens possuem um tom que fica entre o realista e um leve toque caricato.
A trama é profunda e possui forte inspiração em Game Of Thrones, até mesmo com algumas cenas sexuais (não tão explícitas) e mesmo a presença de diversos palavrões, algo incomum à série.
O sangue também é fartamente mostrado, refletindo esta visão mais ocidental do título.
Esta ocidentalização, no entanto, parece ter encontrado um ponto de equilíbrio, sendo mais “realista” e menos caricata, mostrando que o Japão conseguiu absorver melhor o clima de Idade Média ocidental, o que pode não agradar alguns fãs mais fervorosos.


Clive Rosfield, igualmente, é um personagem mais maduro e menos impulsivo, contrariando o estereótipo de jovem estudante que salvará o mundo (tão comum aos JRPGs).
Jogamos com ele em três momentos da vida, sendo a adolescência apenas na introdução do título.


A trilha sonora também merece destaque, com esplendorosas composições orquestradas e corais marcando forte presença durante os combates entre Eikons.
O jogo possui uma boa dublagem em inglês, tão boa que, contrariando meu instinto de sempre jogar jogos com a dublagem japonesa, desta vez optei pela versão ocidental, mais condizente com o clima.
Ralph Ineson (A Bruxa), o ator com “a voz mais grave do mundo” destaca-se no papel de Cidolfus, o Cid da vez, um personagem marcante no título. Destacam-se também Ben Starr (no papel de Clive), Nina Yndis (como Benedikta) e Alex Lanipekun (como Hugo Kupka).
CHOCOBO PLATINADO
A platina de FFXVI é relativamente fácil, embora consuma um tempo considerável do jogador; faltando apenas dois troféus, eu finalizei o jogo com 66 horas, mas um dos restantes é justamente finalizar o título no modo Final Fantasy (mais difícil, surge apenas após terminar o jogo uma vez).

Há diversos troféus de combate, relacionados aos diferentes poderes obtidos e suas combinações, além de explorar todas as regiões do jogo, criar a espada Gotterdammerung (não venda nenhum item obtido para isto) e maximizar todas as habilidades de Clive.
RESUMO DA ÓPERA:
Final Fantasy XVI é uma corajosa aventura da série pelo mundo ocidental, desta vez de maneira acertada.
Inicialmente, estava em dúvida se utilizaria ou não o selo de recomendado, pois entre a introdução e a primeira dungeon propriamente dita, o jogo possui uma “barriga”, ficando um tanto quanto arrastado. Entretanto, passado este momento, a trama fica mais densa e os combates mais constantes, melhorando consideravelmente até o fim.
O combate é a grande estrela do título, eficaz, funcional e de uma excelente plasticidade.
Os efeitos de partículas enchem a tela, especialmente nos momentos em câmera lenta e as lutas entre os gigantescos Eikons são magníficas e empolgantes.
Apesar de todas estas qualidades, o título peca na dificuldade baixa em grande parte da trama, com exceção das caçadas, onde os chefes realmente mostram um desafio maior.

O jogo tende a ser mais linear, especialmente nas dungeons, que consistem em corredores.
Já nos mapas abertos, há bastante opções de exploração. É nestes mapas também que o gráfico mostra todo seu potencial, com vastas e belíssimas paisagens.
O título bebe da fonte ocidental, especialmente em Game Of Thrones (série que sabidamente a equipe teve de assistir), com uma ótima localização em um mundo levemente inspirado na Idade Média europeia.
Os diálogos são mais crus, com diversos palavrões e o sangue corre fartamente, bem como as cenas de nudez, apesar destas serem apenas insinuadas.

O elenco varia entre personagens fortes como Clive e Cid e outros mais fracos, como o interesse amoroso do protagonista, Jill, que segue o padrão da moça tímida, tão comum aos RPGs japoneses (e à própria série).
A trama tem reviravoltas interessantes e o mundo, apesar de sua complexidade de lore, é de fácil entendimento.
Uma arriscada inserção da franquia no mundo do RPG de ação, contrariando sua história, Final Fantasy XVI consegue se mostrar competente em muitos aspectos, consolidando-se como um título sólido dentro da franquia, apesar de mudar várias características até então habituais aos seus antecessores.
Uma obra prima digna do nome, Final Fantasy XVI mostra a força da Square Enix em uma nova empreitada, desafiando dogmas do estilo.