Shiva E O Sol Artificial


“Eu me tornei Morte, a destruidora de mundos.”
A citação do Bhagavad-Gita, em que Arjuna conversa com Krishna (uma das encarnações de Vishnu), ficou famosa por ser proferida por Julius Robert Oppenheimer.

Oppenheimer foi diretor do Projeto Manhattan e responsável pela criação da bomba atômica


Físico norte-americano, Oppenheimer dirigiu o Projeto Manhattan, que desenvolveu as primeiras bombas atômicas durante a Segunda Guerra Mundial, em uma ação conjunta entre EUA, Reino Unido e Canadá.
Após o primeiro teste de uma delas, entretanto, Oppenheimer começou a “temer” sua criação, arrependido pelo surgimento de uma força que modificaria completamente o mundo.


O impacto das bombas atômicas, muito mais do que destruir Hiroshima e Nagasaki, transformaria o imaginário da população mundial para sempre.
O horror atômico pairou no pós-Segunda Guerra e Guerra Fria, com a ameaça nuclear sempre às voltas com a destruição mundial.

Mas eu falei sobre Arjuna, Kirshna e Vishnu e não falei ainda sobre Shiva, certo?
Bem, Shiva, ao lado de Vishnu e Brahma, compõe a Trimúrti (trindade hinduísta), sendo ele o Destruidor, mas também o Regenerador, pois através de sua destruição, o novo surge.

Brahma, Vishnu e Shiva, os três principais deuses do Hinduísmo


Shiva é, portanto, o Transformador.
Uma característica humana muito importante é a transformação, a criação que procede a destruição.

A Era Atômica influenciaria a arte de muitas maneiras diferentes, seja pela reinvenção dos japoneses através da tecnologia, reconstruindo o país agora devastado pelas duas bombas, seja pelo surgimento dos kaijus, criaturas gigantes surgidas nos cinemas principalmente pelas experiências atômicas, dentre eles sendo Godzilla o mais famoso.

Godzilla, o rei dos Kaijus, desperta após as bombas atômicas


Do outro lado, justamente dos “atacantes” (por assim dizer), o cinema seria inundado com décadas de mutantes e insetos gigantescos, também frutos do poder atômico.
Oppenheimer lamentou sua criação, mas ela transformar-se-ia em algo diferente, como uma borboleta radioativa nascendo de um casulo devastado pela guerra.

Os insetos gigantes eram tema comum aos filmes americanos das décadas de 50 e 60


Os quadrinhos beneficiaram-se da radioatividade, seja com Hulk sendo criado após Dr. Banner ser atingido pelos raios gama, seja por Peter Parker picado por uma aranha radioativa e tornando-se Spider-Man.
O Japão traria Gen, Pés Descalços, mostrando a radioatividade por outro ângulo, muito mais cru e assustador.

As bombas trouxeram à tona também uma realidade mais niilista de mundo, convergindo em obras do universo Cyberpunk, que surgiria por volta dos anos 80, onde um mundo distópico e tecnológico era muitas vezes dominado pelos japoneses (que reconstruíram seu país exportando tecnologia massivamente e dominando o mercado Ocidental no pós-guerra).

A dominação das zaibatsus mostra o domínio japonês da tecnologia no gênero cyberpunk


Não seria diferente nos jogos, é claro.
Fallout surgiu justamente deste terror nuclear que assolou o mundo (especialmente os EUA) durante a Guerra Fria.
E se os soviéticos, de fato, tivessem atacado o país com as bombas?
Nesta realidade, aqueles que sobreviveram em seus Vaults, não tiveram contato com os sobreviventes da superfície, afetados por inúmeras mutações e doenças.

Mutantes no mundo pós-apocalíptico de Fallout


A bomba atômica como arma de destruição em massa utilizada no fim de Call Of Duty: Modern Warfare (2007) ou como “solução final” em Civilization (ironicamente utilizada com frequência por Gandhi), mostram a transformação que o período nuclear operou na mente humana.

A explosão nuclear em Modern Warfare trouxe realismo à glamurização bélica da série


O “final secreto” de Metal Gear Solid: The Phantom Pain, obtido apenas quando os jogadores cooperassem para acabar com todas as bombas nucleares no modo online nunca aconteceu, mas mostra a esperança de Kojima na humanidade, ainda que falha pelo seu livre arbítrio digital.

Oppenheimer certamente tornou-se Morte pela sua criação, mas é verdade que seu feito foi transformado em energia criativa.

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