* Esta análise foi feita com o código cedido pela Koei Tecmo (versão PS4/PS5)
Distribuidora: Koei Tecmo
Produtora: Omega Force / Kou Shibusawa / Type-Moon studio BB / Aniplex
Plataforma: PS4 / PS5 / Switch / PC
Mídia: Física e Digital
Ano de Lançamento: 2023
Fate/Samurai Remnant é um RPG de ação ambientado no Japão, onde uma nova Guerra pelo Santo Graal eclode durante a Revolta Keian.
REVOLTA KEIAN
Tokugawa Ietsuna, herdeiro do clã Tokugawa, assumiu o cargo de xogum (líder militar) com apenas 10 anos de idade, em 1651 (ano 4 da Era Keian).
Sendo menor de idade, ele governaria com a ajuda de cinco regentes até atingir a maioridade. No entanto, um atentado vinha sendo planejado contra o bakufu (governo militar japonês), mas foi descoberto após a morte de Tokugawa Iemitsu (pai de Ietsuna).
O clã Tokugawa iniciava o governo japonês já em sua quarta geração (desde a unificação por Tokugawa Ieyasu), mas vinha sofrendo um declínio, o que motivou dois ronin (samurais sem senhores), Yui Shosetsu e Marubashi Chuya, a planejarem um ataque no qual a capital (Edo) seria totalmente queimada e os membros do clã Tokugawa assassinados.
O que viria a se chamar Revolta Keian (ou Conspiração Tosa) foi brutalmente reprimida pelo governo, sendo Chuya assassinado e Shosetsu tendo escolhido o seppukku (suicídio ritualístico).
O DISCÍPULO DE MUSASHI
Iori foi o primeiro discípulo de Miyamoto Musashi (Joutaro, do romance, é provavelmente um personagem fictício), tendo sido adotado como seu filho, tornando-se Miyamoto Iori, o personagem que controlamos no jogo.
Tendo nascido em um pequeno vilarejo, Iori foi poupado pelo grupo de bandidos que chacinou todos os habitantes.
Um dia, um samurai surgiu e matou todo o bando, salvando o garoto.
Este homem era o famoso samurai Miyamoto Musashi, que adotou Iori e passou a treiná-lo no uso da espada. Porém, Iori tinha uma natureza pacífica, motivo pelo qual seu mestre não lhe passou todos os conhecimentos do Niten Ichiryu (estilo de duas espadas criado por Musashi).
Após a morte do mestre, Iori continuou seu treinamento sozinho, vivendo com sua irmã adotiva, Ogasawara Kaya (aqui também uma filha adotiva de Musashi) e o “avô Códice Carmesim” (Crimson Codex), um livro senciente que passou de Musashi para Iori e lhe ensina sobre magia.
Certo dia, ao se deparar com um grupo de ninjas próximos à sua casa, Iori é atacado por um grande samurai de armadura roxa (Rider) que o desarma em combate e o deixa à mercê de uma jovem chamada Yui Shousetsu (o rebelde da Revolta Keian, aqui em versão feminina).
Quando Yui está prestes a executar Iori, uma luz vermelha brilha no dorso de sua mão, deixando uma marca, e ele é defendido por uma jovem espadachim (Saber).
O RITUAL DA LUA CRESCENTE
Samurai Remnant faz parte do universo Fate (como o nome sugere), que envolve uma série de jogos, visual e light novels, mangas e animes.
O arco Samurai é exclusivo do jogo em questão, mas possui um manga que funciona como prólogo.
Em Fate/Samurai Remnant, a Guerra pelo Santo Graal (habitual da série), é substituída pelo Ritual da Lua Crescente, uma disputa de poder entre sete Mestres e sete Servos, muitos dos quais Espíritos Heroicos, que buscam serem os sobreviventes e que poder realizar um desejo. Os Espíritos Heroicos variam entre personagens históricos reais personagens mitológicos.
Os Servos estão ligados magicamente aos Mestres através de um contrato. Entretanto, há outros Servos invocados durante o Ritual, os Rogue Servants (servos sem mestre), que são mais livres por não possuírem o contrato que os liga e podendo interferir diretamente nas lutas se assim o desejarem (embora possuam ligação com o local onde surgiram durante o ritual).
No jogo controlamos Miyamoto Iori, um praticante que utiliza duas espadas para combater, técnica aprendida com seu mestre, embora pupilo não domine completamente o Niten Ichiryu de Duas Espadas.
O ataque básico é feito com Quadrado, enquanto o golpe forte com Triângulo. R2 funciona como dash e esquiva e, reagindo no tempo certo, o prompt para Riposte surge na tela (Quadrado), que quebra a defesa e o ataque do inimigo. Círculo executa o ataque Valor, quando a energia estiver carregada, um especial forte que causa dano massivo.
Sendo este um título produzido pelo estúdio Omega Force, famoso pelas séries de musou da Koei, a estrutura de combate é semelhante, embora aqui as lutas fiquem restritas às arenas temporárias que se formam ao encontrar inimigos.
Iori pode também usar magias (com o consumo de gemas) pressionando L1 e um dos quatro botões principais. Estas magias podem envolver ataques, efeitos de cura, buff e debuff.
Enquanto um discípulo de Miyamoto Musashi, Iori pode usar até cinco posturas diferentes de combate, embora algumas estejam bloqueadas inicialmente. As cinco posturas são baseadas nos cinco elementos (Godai) do Budismo Japonês e que são mencionadas no Gorin No Sho, o Livro dos Cinco Anéis, tomo de estratégia escrito em vida por Musashi.
As cinco posturas são selecionadas com L1 + as quatro direções no analógico: Terra, Água, Fogo, Vento e Vazio (que fica centralizado), sendo apenas as posturas de Terra e Vento com o uso de uma espada. Cada postura possui características e atributos referentes ao seu elemento: por exemplo, o fogo permite receber mais dano e fica mais forte conforme a energia do personagem cai, já a postura de vazio é tão rápida que o personagem “desaparece” entre os movimentos.
Saber, a Serva de Iori, pode ser invocada com especiais rápidos através de R1 + os quatro botões principais e, uma vez que a sua barra esteja cheia, pode ser controlada temporariamente pelo jogador com o uso de R1 + L1.
Ela utiliza uma espada com o poder elemental da água e um dos ataques mais poderosos do jogo com o seu Noble Phantasm, que só fica disponível a partir de certo ponto da trama.
Conforme avançamos, alguns Rogue Servants vão se unindo a causa, podendo ser usados nas lutas ao serem equipados, ou durante as disputas de poder telúrico.
OFICINA DE MAGIA E LINHAS LEY*
* Linhas de Ley são, supostamente, caminhos criados entre pontos de interesse pelos povos do Neolítico, facilitando assim a navegação pelos locais importantes.
Agora que o Ritual da Lua Crescente está em andamento, é importante fortalecer a sua casa. Desta forma, o Códice Carmesim monta uma oficina de magia, que pode ser evoluída com materiais coletados e dinheiro, muito dinheiro.
A oficina possui algumas funções diferentes: a Renovação da Oficina, a Montagem (que permite melhorar as partes da espada), Criação de Gemas (tanto para magias quanto evolução de personagem) e Criação de “Códigos” Místicos (pergaminhos de poder usados durante invasões pelas linhas de Ley), além de permitir a troca de Rogue Servants e a evolução de habilidades (funções que também estão disponíveis no menu de pause).
Na casa, junto da Oficina de Magia, há outras duas atividades: polir espadas, através de um minigame com quick time events (onde você deve apertar o botão X sempre que o círculo móvel passar por dentro do círculo azul), gerando bônus de experiência em algumas batalhas subsequentes e esculpir estátuas em madeira. As estátuas esculpidas funcionam através de sequências de botões dentro do tempo determinado, produzindo estátuas de deuses budistas, habilidade que Iori aprendeu com o mestre Musashi.
Estas estátuas geram bônus de experiência ao serem confeccionadas e podem ser vendidas ao Rogue Servant da loja Babilônia, uma loja diferente das outras, que vende itens raros (e bastante caros), úteis para a renovação da oficina.
Durante a navegação, alguns locais do mapa podem estar inacessíveis devido ao controle da energia telúrica por parte dos magos.
Para poder avançar nestes casos, é necessário dominar pontos de fonte de energia menores e quebrar barreiras através da locomoção pelas Linhas de Ley (leylines). Ao avançar e conquistar novas fontes de energia, o território vai sendo conquistado e interligado pelas linhas, mas o inimigo avanço de forma semelhante, sendo necessário interceptá-lo caso ele avance em direção à sua base.
É possível separar-se de Saber, para cobrir direções diferentes, além de mandá-la interceptar inimigos que estejam em outra rota. Os Rogue Servants também ficam disponíveis em alguns locais, podendo defender uma área, serem enviados em rotas específicas ou acompanhá-lo em combate.
Ao encontrar-se com um inimigo em uma fonte de poder, você entra em uma arena de combate.
Os pergaminhos místicos funcionam como suporte, com habilidades como dobrar os movimentos de Iori, transportar-se para um local já dominado, impedir temporariamente o movimento do inimigo, etc…
Ao conquistar a base desejada, as linhas são desabilitadas e você absorve toda a energia telúrica, que concede bônus de ataque, vida, defesa, etc…
Cada localidade possui uma lista de tarefas para serem executadas, como acariciar cachorros e gatos, livrar-se de bandos de inimigos e coletar itens especiais, sendo exibidas em placas de madeira.
As Comissões de Edo são tarefas relacionadas ao combate e exploração, que devem ser entregues aos personagens correspondentes quando completadas, gerando dinheiro e itens.
Já as Digressões são missões relacionadas ao Rogue Servants, onde podemos enfrentá-los ou utilizá-los, dependendo de cada missão, o que irá criar laços entre Iori e os Servos, liberando novas habilidades e pontos de evolução para habilidades de ambos.
Também é possível interromper disputas entre moradores, bastando apertar L1 ou R1 para interceptar o soco do primeiro a atacar.
A BELEZA DA LUA CRESCENTE
Fate/Samurai Remnant possui gráficos 3D com uma aparência que lembra cell shading nas texturas, porém mais suave nos traços.
A paleta de cores é diversificada e super colorida, lembrando bastante um anime jogável.
Boa parte dos diálogos acontece por um sistema “visual novel”, porém com movimentos labiais constantes.
O jogo também possui trechos com pinturas japonesas ao estilo Yamato-e, que representam momentos dos personagens e são “convertidas” para animações estilizadas.
Os inimigos possuem grande variedade, entre samurais, ninjas, magos onmyoji, europeus com sabres, autômatos e uma grande variedade de onis.
Inimigos maiores e mais fortes, incluindo os Mestres e Servos, possuem um círculo roxo sobre a cabeça, que indica uma proteção extra que precisa ser quebrada para que os ataques causem mais dano.
As batalhas contra os chefes são grandiosas e pirotécnicas, com explosões de cores e movimentos rápidos.
Os Noble Phantasms (o Valor dos Servos) possuem animações complexas, incluindo a mistura da engine e desenhos com hachuras intercalados.
A trilha sonora mistura música orquestrada, música tradicional japonesa (com destaque para o uso do shamisen) e hard rock/metal (tradicional dos títulos do estúdio Omega Force).
É uma trilha épica e que coloca o jogador no estado de euforia compatível com a velocidade dos combates.
A dublagem em japonês também possui ótima qualidade, com muitas horas de gravações, já que todos os diálogos dos personagens principais possuem som.
O RITUAL DA PLATINA
Ok, essa é uma platina complexa e burocrática!
Para começar, o jogo possui 3 finais + 1 final secreto e cada um dos 3 compreende um último episódio com objetivo diferente (baseado em escolhas de capítulos anteriores).
Outros troféus envolvem completar todas as Digressões, forjar aliança com todos os Rogue Servants, executar todos os Noble Phantasms (necessita descobrir o nome de cada Servo previamente), aprender todas as posturas, desbloquear todas as habilidades e magias de Iori e todas as habilidades de Saber, matar 5 mil inimigos, controlar 500 fontes espirituais, compra todos os tipos de comida nas barracas e atingir o nível máximo da oficina, entre outros.
Estamos falando de uma platina com mais de 50 horas de duração, dependendo de como você jogar e planejar os saves.
O New Game + permite recomeçar com todas as habilidades, comissões, listas de tarefas locais e digressões já concluídas.
RESUMO DA ÓPERA:
Fate/Samurai Remnant é o novo RPG da franquia Fate, ambientado no Japão de 1651 (era Keian), onde controlamos Iori, o discípulo de Miyamoto Musashi, que se vê envolvido no Ritual da Lua Crescente, uma batalha entre Mestres e Servos, com personagens históricos e lendários renascidos (alguns com gêneros trocados).
O título possui belos gráficos e uma trilha sonora soberba, além de diferentes tipos de animações e estilos, com um traço leve.
O ritmo dos combates, em especial as lutas de finais de capítulos, é frenético.
O estilo de combate se assemelha aos títulos musou (séries Dynasty e Samurai Warriors) do estúdio Omega Force, que aqui adapta sua jogabilidade em um RPG de ação.
As conversas no estilo visual novel (porém completamente dubladas em japonês) podem ser longas e um pouco cansativas, mas dão bastante contexto sobre as intenções e diferentes origens dos personagens.
Aliás, o elenco é composto por heróis de várias localidades e épocas diferentes; uma boa diversão é tentar descobrir a identidade de cada um, o que traz algumas surpresas, em especial um personagem cuja representação eu nunca havia visto no universo de animes, mangás e jogos…
Recheado de conteúdo, Fate Samurai/Remnant é uma pérola do estilo, talvez ainda desconhecida de um grande público, mas que merece atenção e é, sem sombra de dúvidas, um dos meus concorrentes a jogo do ano (e também o melhor título da franquia Fate que já joguei).
Indispensável para os fãs do gênero e, especialmente, para os fãs e conhecedores de Miyamoto Musashi…