
* Esta análise foi feita com o código cedido pela Bethesda Softworks (versão PS5)
Distribuidora: Bethesda Softworks
Produtora: Arkane Lyon
Plataforma: PS5 / PC
Mídia: Física e Digital
Ano de Lançamento: 2021

Deathloop é um FPS com elementos de stealth e puzzle sobre dois assassinos presos em um looping temporal de 24 horas.
QUEBRANDO O CICLO
Colt está preso num looping temporal.
Ele acorda em uma praia, em meio a garrafas e lixo, sem saber o que está acontecendo.
Após vasculhar o local, achando uma arma, um cartão-postal e um rádio comunicador, Colt tenta descobrir um código para a porta “que ele já sabe” como dizem as mensagens que ele enxerga nas paredes.
Confuso, ele é contatado por uma voz feminina, que o questiona sobre a falta de memória do acontecido.

Colt está preso num looping temporal.
Ele acorda em uma praia… ok, ok, você entendeu o funcionamento.

Agora Colt precisa quebrar o ciclo; para isto, é necessário eliminar 8 alvos em quatro localidades, no período de 24 horas. Caso falhe e o dia termine, ou morra, ele inicia um novo looping, mais uma vez acordando na praia. E sem o equipamento conquistado no dia.
MANTENDO O CICLO
Julianna, a voz feminina que conversa com Colt, e um de seus 8 alvos, parece ser a única pessoa com plena consciência do ciclo vigente na Ilha de Blackreef.
Ela caça Colt em alguns momentos e parece interessada em manter o ciclo.
Juliana é jogável também, sendo este o componente online do jogo, já que um jogador pode assumir o seu papel, para tentar matar outro jogador, controlando Colt na campanha “normal”.

Assim que Julianna adentra o cenário para caçar Colt, uma antena é acionada e as saídas do cenário são fechadas.
Ela pode também ser controlada pela IA, embora os embates contra outros jogadores sejam mais comuns (salvo se você desabilitar a oção online).
Ao contrário dos demais Visionários, Julianna não está fixamente em nenhum dos quatro cenários principais.
CONHECIMENTO É PODER
O jogo se passa durante 24 horas, separadas por quatro períodos: manhã, meio-dia, tarde e noite. É possível visitar apenas um dos quatro locais (The Complex, Fristad Rock, Karl’s Bay e Updaam) a cada período do dia.

Os Visionários, no entanto, têm suas próprias rotinas e interesses. Saber onde cada um está em cada período do dia ajuda a planejar suas mortes.
Para tal, procurar pistas pelos cenários, como documentos, gravações, mensagens no computador e ouvir conversas dos habitantes de Blackfreef (os Eternalistas) ajuda a montar o plano de onde eliminar cada um dos alvos.

Mas nem só de conhecimento se vale Colt: a sabotagem de equipamentos e experimentos altera a rotina dos personagens.
Os alvos podem ser eliminados em diferentes locais; em casos específicos, preservar a vida do alvo em um local mais cedo e/ou sabotar algo dele pode fazê-lo estar em um mesmo local que outro alvo.
ETERNALISTAS
Os Eternalistas são os NPC’s comuns do jogo, sendo facilmente executados sozinhos, tornam-se bastante perigosos em grupo.
Cobertos de cores extravagantes, seja nas roupas ou mesmo tinta sobre os corpos, eles possuem suas próprias rotinas: patrulhando locais, conversando sobre os acontecimentos de Blackreef, dormindo no chão ou mesmo andando embriagados, podem ser abatidos sorrateiramente (a maneira ideal) ou vão chamar reforços próximos.

Embora a maior parte use diferentes armas de fogo (as quais podem ser coletadas após a morte), alguns carregam facões e até granadas. É possível hackear à distância torretas para eliminar os Eternalistas.
BERLOQUES E PLACAS
Upgrades nas armas e no personagem, os berloques possuem uma variedade de diferentes habilidades/poderes.
Aumento na velocidade, melhor mira, redução do coice dos disparos, redução de dano, etc.

Já as placas são os poderes equipáveis, que concedem habilidades especiais, como pulo duplo, invisibilidade, invulnerabilidade, teleporte, etc.
Cada poder pode ser imbuído de duas melhorias, que adicionam efeitos extras.
As placas assemelham-se aos poderes de Dishonored em sua execução, porém o gasto de energia não precisa ser reposto com itens, sendo recarregado automaticamente.

Embora sejam inicialmente perdidos a cada ciclo, assim que Colt aprende a infundir os objetos com residuum, a energia residual do ciclo no deslocamento temporal, tanto armas quanto berloques e placas podem ser preservados no inventário.
É a partir do processo de infusão que o progresso começa a ser notado mais claramente.

Berloques podem ser achados, obtidos durante abates de personagens, forjados ou mesmo adquiridos através de pequenos objetivos.
Já as armas podem ser encontradas e/ou tomadas de inimigos mortos.
As placas são conseguidas ao se derrotar um dos Visionários, sendo que este também possui melhores berloques e armas especiais.
MEMORANDOS E PUZZLES
Conforme avança, você perceberá que as investigações são complexos puzzles, muitas vezes envolvendo alguns ciclos para serem concluídos e a constante checagem de memorandos, cartas e conversas registradas em computadores.

As dicas coletadas não são perdidas, facilitando a progressão conforme se reinicia os ciclos, já que os puzzles são resetados.
Puzzles lógicos, como ativação de painéis com o uso de alavancas e distribuição de energia de geradores estão presentes em Blackreef, alguns passíveis de serem operados apenas em determinado período de tempo.
Existem ainda desafios de tempo e movimentação e testes de conhecimento sobre o lore do jogo.
A ARTE DA REPETIÇÃO
O gráfico cartunesco, característico dos personagens da Arkane (marcante em Dishonored), dá lugar aqui há um gráfico mais puxado para o realista, embora ainda haja um quê de cartoon, escapando do fotorrealismo.

Os cenários bem coloridos e vivos, com foco no contraste entre amarelo, laranja e preto, possuem uma estética forte nos anos 60.

Já a trilha sonora segue uma linha mais anos 70, misturando jazz, funk e blues, acompanhando bem o ritmo psicodélico da aventura.
A dublagem em português, muito bem dirigida e adaptada, possui um elenco famoso de dubladores locais, fluindo de maneira natural com os acontecimentos.
A OUTRA FACE
Jogando como Julianna, você invade o mundo de outros jogadores, com o objetivo de caçar Colt.
A antena que bloqueia as saídas precisa ser protegida.

Modo à parte, possui um ranque de caçadora, com diversos feitos a serem executados.
Quanto maior a pontuação, melhores os prêmios disponíveis, como novas armas e trajes.

O tempo de resposta para uma partida ser criada é longo, mas a conexão é completamente estável e não existe lag.
Assim que entra no cenário, a busca por Colt se torna sua prioridade, mas lembre-se que você invade a partida a qualquer momento, então localizar o jogador pode ser difícil, dependendo do que ele estiver fazendo no momento.
Não há indicadores da localização do jogador adversário, para nenhum dos lados, mantendo o desafio equilibrado.
O CICLO DA PLATINA
A platina de DL é um tanto quanto complicada.
Muitos dos troféus são spoilers ou pseudo spoilers, o que me impede de comentar sobre eles.
No entanto, o que posso falar é dos troféus complicados:
Mightier Than The Gun – matar todos os visionários no mapa, sem usar armas;
Silent Disco – matar todos os Visionários presentes no mapa e sair sem ser visto;
Only The Guilty – matar todos os Visionários no mapa e sair sem matar nenhum Eternalista (esse troféu pode ser combinado com o Silent Disco);

Clean-ish Hands – esse é o maior desafio do jogo: você precisa matar todos os Visionários em um ciclo e nenhum Eternalista.
Não apenas o stealth tem de ser praticamente perfeito, como o planejamento em si para executá-lo.
Ah sim, caso reconfigure uma torreta para passar por ela, lembre-se de desativá-la depois, do contrário ela pode atacar algum Eternalista e o troféu será perdido.
RESUMO DA ÓPERA:
Deathloop é um FPS que parece, a princípio, um roguelike, mas não o é, ao menos não exatamente.
Como no Dia da Marmota, de Feitiço do Tempo (Groundhog Day), o ciclo é sempre o mesmo, até que o protagonista interfira nele, causando variações temporais.
Planejar e executar o plano perfeito pede muita experimentação e investigação, o que pode tornar-se enfadonho em alguns momentos, mas o jogo usa e abusa do fator “Síndrome de Estocolmo”, fazendo com que o jogador fique “refém” da situação.
A progressão lenta da investigação cansa mas, ao mesmo tempo, instiga. Por diversas vezes me peguei fechando o jogo pela frustração, mas voltando em seguida para tentar resolver algum puzzle ou cadeia lógica.

Os personagens esbanjam carisma, tanto nos alvos, mas (e principalmente) por parte de Colt e Julianna.
As interações entre ambos pelo comunicador costumam ser hilárias, com provocações de ambos os lados e tiradas sarcásticas.
São inúmeras linhas de diálogo diferentes, com comentários sobre os Visionários mortos, incluindo os protagonistas, descobertas de Colt sobre o ciclo, etc.
O trabalho de dublagem merece destaque, tanto em inglês como em português.
Mesmo que eu não seja muito afeito a jogar no meu próprio idioma (irônico, não?), acabei por optar pelo português brasileiro aqui, pela bela adaptação e pelas vozes conhecidas da dublagem, com falas naturais e bem encaixadas (ponto para a direção da dublagem).
A trama demora um pouco para engrenar, mas possui um interessante plot twist. E quando eu digo que demora um pouco, isto depende do avanço de jogador para jogador, uma vez que a natureza do título pode alterar a média de tempo para finalizá-lo.
Jogar como Julianna, invadindo linhas temporais de outros jogadores é bastante divertido, embora o tempo para encontrar uma partida seja um tanto demorado.
Ela possui um berloque próprio, que permite assumir a forma de um Eternalista.

Personagens e cenários mesclam um estilo anos 60 e 70, inclusive na belíssima trilha sonora.
O título possui também um leve ar de 007, inclusive com um tema cantado nos créditos, que parece bastante inspirado nos filmes de James Bond.
O alto desafio ao entender puzzles e coletar todas as informações necessárias para executar o último ciclo levam um tempo considerável, dependendo da percepção do jogador.
Talvez este seja o fator que impactou alguns reviews e notas dadas por usuários, que parecem não ter entendido totalmente a proposta do jogo.
Ou não estejam familiarizados com a Arkane: se você jogou algum Dishonored, sabe que o estúdio foge dos FPS comuns e adiciona diversas camadas de exploração e descoberta de segredos.
Algumas ideias parecem tão óbvias depois de executadas, que nunca entendemos como ninguém pensou nelas antes: Deathloop é um destes casos.
O jogo brilha com um conceito relativamente simples, mas feito de maneira intrinsecamente complexa, mantendo o jogador curioso e sempre querendo mais.
O estúdio Arkane novamente nos congratula com um FPS/stealth/puzzle genial, adicionando diversas camadas de entendimento, humor ácido e ficção científica, neste que é um dos fortes concorrentes a Jogo do Ano.