
* Esta análise foi feita com o código cedido pela PQube (versão PS5)
Distribuidora: PQube
Produtora: Dual Effect / Abstract Digital
Plataforma: PS5 / PC (já disponíveis)
PS4 / Xbox One / Xbox Series S / Xbox Series X / Switch (em breve)
Mídia: Física e Digital
Ano de Lançamento: 2021

Tormented Souls é um jogo de terror em terceira pessoa, com forte inspiração em Resident Evil e Silent Hill (e uma pitada de Alone In The Dark?) sobre a jovem Caroline Walker, que investiga o desaparecimento de duas irmãs.
ENTRANDO NO PESADELO
Caroline Walker recebe uma carta com a foto de duas meninas, fato que a leva a ter constantes pesadelos.
Decidida a desvendar o acontecimento, ela vai até Winterlake, investigar a mansão/hospital onde as duas irmãs desapareceram, mas é nocauteada.

Caroline acorda em uma banheira, nua e com uma atadura em um de seus olhos, além de um tubo enfiado na boca (que parece muito um tentáculo ou eu preciso de tratamento?).
Removendo a atadura, ela descobre que o seu olho esquerdo foi removido.
O TERROR ESTÁ DE VOLTA
O gênero do terror está renascendo nos video games, em uma boa leva de novos títulos.
Tormented Souls aposta em uma fórmula voltada à nostalgia, com forte inspiração em Resident Evil (trilogia inicial) e Silent Hill.
Esta fórmula não é novidade, mas ao contrário dos antecessores, que apostaram em uma nostalgia forçada, TS acerta a mão nas qualidades do passado, evitando os erros das limitações antigas.

Até mesmo o sistema de saves possui uma “sala segura”, ambiente no qual o jogador não precisa se preocupar em ser atacado. Lá, um gravador de som em rolo pode ser usado, bastando para isto que Caroline possua um rolo de fita.
Isto não apenas limita o uso do save, como pede estratégia do jogador ao utilizar a mecânica.
Outro ponto interessante é o posicionamento das câmeras, em ângulos que desfavorecem intencionalmente o jogador, causando apreensão ao avançar, dependendo do som para localizar os inimigos previamente.

O jogo também possui o sistema clássico de “movimentação tanque” da personagem, para os fãs dos antigos REs.
Mas não se preocupe, o sistema de movimentação 3D normal, com o uso de analógico, também está disponível e totalmente funcional, sem o problema da conversão de movimento tanque para 3D (ao contrário de um certo remaster da Capcom…).
Os objetos interativos confundem-se no cenário, praticamente sem indicações, fazendo com que o jogador precise testar o que pode ou não ser importante (demorei para entender que as velas em castiçais poderiam ser acesas pois o jogo não usa dicas óbvias), o que certamente nos mostra como ficamos mal acostumados com acessibilidade excessiva nos games.
QUEM SÃO AS ALMAS TORTURADAS?
Enquanto navega pela mansão, Walker terá de lidar com algumas estranhas criaturas humanóides, com corpos aparentemente torturados (Tortured Souls, sacou?), alguns em cadeiras de rodas, outros utilizando muletas (inclusive como armas, não se engane) e alguns rastejando pelo chão, todos parecendo vítimas de procedimentos médicos (?) malfadados.
Tais criaturas possuem partes metálicas presas aos corpos e alguns portam sacos com sangue pendurados em suportes, sendo estes últimos capazes de longas cusparadas de sangue como ataque à distância.

Para enfrentá-las, a protagonista conta com um pequeno arsenal de armas improvisadas, como uma parafusadeira, uma shotgun criada com duas peças metálicas, uma lança elétrica utilizando dínamos e uma chave inglesa, a arma melee do jogo.
A munição é escassa, então atenção aos disparos! Mas se você souber dosar bem, não deve haver problemas, já que a quantidade de inimigos não é exagerada e uma vez mortos, eles não voltam por algum tempo (os corpos permanecem nas salas, onde foram mortos, então quando eles desaparecerem, saiba que voltarão).

Importante ressaltar a importância da chave inglesa, que ajuda a economizar munição, embora o risco da aproximação seja grande.
Próximo ao final do jogo, ela me ajudou tremendamente, contra inimigos novos: grandes encapuzados com martelos, fortes e resistentes a vários tiros.
Apesar de pouco ágil, Caroline pode realizar uma pequena esquiva para evitar ataques próximos.

Existe ainda um espectro voador, que persegue a personagem através das salas, sendo possível apenas atrasá-lo.
DIMENSÕES PARALELAS
A mansão, que foi um hospital no passado, possui algumas áreas médicas (aparentemente ainda em funcionamento).
É possível visitar algumas delas no passado, através de espelhos, aos quais Caroline atravessa como se fossem portais.

O recurso das diferentes dimensões espaço-temporais também pode ser acessado através da sala de reuniões, utilizando fitas VHS colocadas em um retroprojetor.
Semelhante aos espelhos, os bolsões temporais são limitados, dando acesso a um número pequeno de salas.

Muito importante na solução de alguns puzzles, mudar o tempo dos locais não apenas dá acesso a rotas que estão bloqueadas em outra época como também ajuda a desgastar ou congelar objetos. Deixando algo no passado, o efeito do tempo modificará o funcionamento no presente.
O PADRE PERDIDO E A FAMÍLIA AMALDIÇOADA
Personagem curioso no jogo, um padre pode ser encontrado diversas vezes.
Ele parece alheio aos acontecimentos macabros, falando com Caroline como se nada estivesse acontecendo, ou mesmo não enxergando eventos próximos.

Em alguns momentos, sua mente parece confusa com relação aos eventos presentes, acreditando que ações de Caroline foram perpetradas por um médico ou mesmo confundindo o nome, como se sua mente estivesse misturando acontecimentos em diferentes épocas.
Afora o padre, não há mais NPC’s para interagir, mas Caroline encontra diários relatando a vida da família cujas filhas desapareceram (fato que a levou ao local).
Funcionando como os coletáveis do título, tais diários descrevem os acontecimentos do passado na família, geralmente narrados pelo pai, embora também haja um diário de uma das gêmeas.

Documentos médicos podem ser encontrados, bem como alguns jornais, relatando acontecimentos no hospital e na cidade, bem como citando lendas locais (o padre também possui conhecimento sobre o folclore).
Obviamente não posso entrar em mais detalhes aqui, por conta de possíveis spoilers.
O CLÁSSICO RENOVADO
O jogo se passa todo dentro da mansão/hospital, alternando diversos ambientes bem construídos e claustrofóbicos, com bom uso de escuridão e sombras.
A escuridão, aliás, deve ser evitada por Walker, que utiliza um isqueiro por boa parte do jogo, dependendo da luz local para poder operar suas armas (sim, você precisa alternar entre luz e arma), até encontrar uma lanterna portátil para ser presa ao peito.

O gráfico possui belos cenários com arquitetura e decoração mais pomposa da mansão e das áreas médicas, além de áreas mais obscuras e/ou conspurcadas pelas trevas.
Os modelos de personagens possuem um gráfico mais cartunesco, em especial da protagonista, que flerta com uma estética mangá/anime (incluindo o olho coberto).

A engenharia de som se destaca pelo uso inteligente de ruídos para indicar a aproximação ou existência de um inimigo próximo, sem revelá-lo.
A trilha sonora é pontual, construindo a tensão aos poucos, seja no seu surgimento ou ausência, muitas vezes deixando o jogador em estado de alerta para o que poderá vir.
As salas com o local de save possuem um tema mais relaxante, representando a segurança do local para o jogador.
PUZZLES E DESAFIOS ADICIONAIS
O jogo envolve bastante backtraking e bom conhecimento da mansão, já que não há minimapa na tela e os mapas encontrados não mostram a posição do jogador, revelada apenas em mapas fixados em murais (no melhor estilo você está aqui).

Os puzzles são bem elaborados e complexos, fugindo das habituais soluções na cara do jogador.
Alguns puzzles utilizam dicas/guias escritos, com charadas escondidas nas frases.


Já outros valem-se de lógicas geométricas e/ou sequenciais, além de ações (não necessariamente consideradas puzzles) baseadas em observações.
TORTURA PLATINADA
A platina de TS não é tão complexa, embora haja aquele troféu para arrancar os cabelos do jogador: zerar o jogo sem utilizar itens de cura.
Não é um bicho de sete cabeças, mas requer bastante paciência e planejamento (especialmente sobre quando usar o save).

Afora este, um dos finais (o jogo conta com três) possui troféu próprio, e requer atenção do jogador para algumas ações necessárias no ciclo de encerramento (eu mesmo perdi tal final por não ter pego previamente um item).

Os demais troféus consistem em números de inimigos mortos, obtenção de todos os grupos de coletáveis e troféus relacionados ao avanço da campanha.
RESUMO DA ÓPERA:
Tormented Souls é um jogo de terror baseado nos clássicos do início da era de jogos 3D, resgatando a nostalgia dos jogadores de forma saudável.
O jogo possui desafio na medida certa, pedindo estratégia e atenção do jogador, além de punir os afobados que correm nos corredores e podem ser surpreendidos por ataques indesejados.
Trilha e parte sonoras contribuem para o clima de apreensão, deixando o jogador na ponta dos dedos, incerto do que está por vir.

A munição escassa e o número limitado de inimigos possuem bom equilíbrio e o desafio dos puzzles é alto, sem apelar para obviedades nas soluções.
O roteiro, que pode parecer morno e clichê de início, possui um interessante crescente, com plot twists inteligentes revelados nos diários coletáveis.
O estúdio chileno Dual Effect parece saber exatamente onde e como os jogos antigos agradavam os jogadores e onde era preciso atualizar o gênero, acertando na nostalgia, sem cair em sua armadilha.
Tal precisão faz de Tormented Souls um sucesso garantido aos fãs do gênero, sendo título indispensável aos nostálgicos e ao novo público.