Lançado em 1995 no Japão, King’s Field II é o segundo jogo da principiante na época From Software, continuação do jogo de mesmo nome que iniciou esta saga de jogos, e indiretamente veio a influenciar mais tarde outros jogos famosos da empresa, como Demon’s Souls.
O primeiro jogo da série não chegou a ter um lançamento fora do Japão, e disto o segundo jogo foi lançado apenas como King’s Field no mercado americano e europeu, em 1996 e 1997 respectivamente. Cada região recebeu sua capa com arte diferente. Aqui usarei a numeração japonesa, logo, quando falo King’s Field II me refiro a King’s Field (América e Europa).
A ideia é fazer um review do jogo, bem como dar pequenas dicas no caminho, mas diferente da ideia dos Reviews/Tutoriais do site. Para contextualizar melhor, um breve overview sobre a série.
A série
King’s Field tem 4 jogos principais lançados, e um pequeno jogo promocional extra (falarei mais dele no final do review). A maior parte foi lançada para o Playstation 1, enquanto o quarto jogo saiu para o Playstation 2, e na América perdeu a numeração e ganhou o subtítulo The Ancient City.
Já anos depois, no PSP a From Software resolveu lançar King’s Field: Additional I e II, totalmente diferentes da jogabilidade da série principal, sendo estes dungeon crawlers mais tradicionais, na linha de jogos como da série Wizardry. Além destes, recebeu 3 jogos mobiles.
Outro lançamento que merece menção é Sword of Moonlight para PCs, que basicamente consiste em um dev toolkit para criar jogos seguindo a linha do primeiro jogo da série. Existem alguns jogos criados nele por fãs da série.
Uma curiosidade é que apesar de não terem ligação com séries recentes como Dark Souls, temos uma arma famosa originária de King’s Field e que é recorrente em jogos recentes, a Moonlight Sword.
E agora vamos ao review de fato do jogo.
Enredo – iniciando a jornada
Nas profundezas das florestas de Verdite há uma caverna. Nela há um monumento, cujo somente descendentes diretos dos elfos podem decifrar. Este monumento contem a seguinte inscrição:
“Um grande navio caiu dos céus, atingindo a Ilha de Melanat, e foi enterrado nas suas profundezas. Aqueles que vem de terras distantes para encontrar seus tesouros enterrados nunca sairão vivos.
“Nunca se aproxime da ilha, pois uma besta adormecida na escuridão aguarda o seu grande despertar.”
Há três países no continente do norte: Granatyki, Egret e Verdite. Entre estes 3 países está a mística ilha de Melanat, controlada por forças do bem e do mal.
Há muito ela foi descoberta pelos high-elves, que construíram um templo sagrado nela. Porém logo após a construção do templo, monstros vindos das profundezas da ilha atacaram e dizimaram quase toda população élfica. Os que sobreviveram, morreram de um misterioso veneno logo após.
Milhares de anos após o incidente, o rei Harvine tentou contruir seu castelo na ilha, mas novamente, monstros atacaram fazendo ele perder boa parte de seu exército. Sem poder, a guerra veio e com isto a divisão em 3 países.
Legiões de monstros emergiram de Melanat e cruzaram para dentro do continente, enquanto Egret e Granatyki foram destruídos ficando em ruínas, Verdite ainda perdura, mas com sua população apavorada.
Anos após o desfecho de King’s Field I, ataques de monstros voltam a ocorrer no reino de Verdite, porém Alfred descobre que a espada Moonlight não está mais em seu poder. Uma pista surge de uma carta encontrada, onde afirma “Necron controla a ilha de Melanat e busca o poder da espada Moonlight”. Soldados do exército são enviados a ela, mas nenhum retorna.
King’s Field II se passa inteiramente na ilha de Melanat, com o jogador sendo Alexander, que pela amizade com o rei Alfred (o protagonista do primeiro jogo), acaba decidindo encarar a missão de buscar a espada Moonlight para combater a nova ameaça ao reino. Só que sua embarcação com destino a ilha naufraga. Mas ele acaba de fato indo parar no seu destino, sendo o único sobrevivente do acidente. A única certeza é, quem adentra a ilha raramente volta. Será que Alexander sobreviverá e desvendará os mistérios da ilha e recuperará a espada Moonlight?
O Jogo
King’s Field é um RPG de ação em primeira pessoa, que para começar, não gosta de dar explicações. Praticamente tudo fica a critério do jogador experimentação, tentativa e erro para avançar na jornada (estamos falando de um jogo da From Software afinal hehe). Não há praticamente telas de carregamento, tirando uma inicial para carregar o jogo ou para salvar/carregar um save do cartão de memória, somente estas. Toda exploração se dá por carregamento dinâmico das áreas e inimigos via streaming. Sim, tinhamos esta tecnologia em 1995.
O jogo tem um foco na exploração. Chegou na ilha, agora vire-se para explorá-la. O enredo não é jogado na cara do jogador, mas sim pequenas coisas que se vai pegando de conversas com NPCs ou informações encontradas em alguns locais, que se ligando vai levar a desvendar os mistérios da ilha.
Temos uma certa diversidade de ambientes aqui, desde áreas mais abertas, a cavernas, minas, ou as ruínas do castelo do antigo rei Harvine além de pequenos vilarejos. Nisto o jogo expande bastante de ser um dungeon crawler, foco no primeiro jogo, e que se passava em áreas fechadas apenas.




As batalhas se dão em tempo real. A dica é ficar rodeando os inimigos para tentar atacar de lado ou por trás, ou pegar timing certo para fugir do ataque se for encarar de frente. Alguns inimigos porém, como o caracol abaixo, ao avistarem o jogador lançam um ataque a longa distância, então nem todos é possível encarar de frente sem ser atacado. O combate não é muito técnico na verdade, mas funciona bem dentro da proposta do jogo. Inimigos podem ter fraquezas elementais, e também algum tipo de arma ser mais eficiente contra certos tipos (dependendo dos seus atributos slash, chop e stab).


Ao morrer sempre se inicia do início do jogo com level 1, é só ir em load no menu para carregar do último save. A partir de um certo ponto no jogo porém, isto muda, sem precisar iniciar do zero.
Temos o tradicional XP ao vencer monstros, gahar um level aumenta o HP e MP. Tanto ataque físico com armas e magia se evolui com o uso destes. As magias devem ser encontradas pela ilha ou ganha de NPCs, elas não são magicamente aprendidas em um level up. Há magias de ataque que se equipa (uma por vez), e magias para recuperar HP ou iluminar um ambiente escuro que é via menu. Tanto ataques físicos como uso de magias usam stamina (barras marrom e verde, respectivamente). Para efetividade dos ataques, deve se recuperar a stamina ao máximo. Magias só podem ser executadas com a barra verde no máximo porém. Para recuperar stamina basta ficar sem executar uma ação. Andar não gasta, agora correr sim.
Há algumas quests de NPCs, nada com marcadores ou coisa do tipo, tem de prestar a atenção no que eles falam para saber se alguém precisa de ajuda ou também descobrir algumas dicas. Conforme eventos ocorrem podem falar outras coisas, e podem ocorrer alterações na ilha também. A Meryl (abaixo) aparece randomicamente em alguns locais pré determinados e é importante pois identifica funções de itens.






Mapas podem ser encontrados ou comprados (não precisa gastar porém, procure pela ilha para encontrá-los). Detalhe: não há mapa completo. O mapa dos piratas por exemplo não mapeia as minas, temos o mapa das minas, que não mapeia certos outro locais, e assim em todos mapas. Eles se complementam, mas nenhum tem o mapeamento completo da ilha.
Para recuperar HP podem ser encontradas poços, uma fonte ou ervas, que podem ser compradas ou conseguidas de drops de inimigos. MP inicialmente é um problema recuperar. Única forma é com um item raro de encontrar e caro de comprar. Mas no decorrer do jogo terá uma forma fácil disto. Para tal, deverá ser restaurada uma fonte no centro da ilha.
Há também uma maneira de se teleportar para áreas que ficam distantes, para isto o jogador deverá adquirir uma chave e um portal, deixando a chave no pedestal presente em pontos de salvar, e ativar o portal para se teleportar para lá (usar o item, deixa por exemplo a Star key no pedestal, usa a Star gate para voltar para lá quando quiser). Fácil não? Pois então, primeiro precisará encontrar estes itens, tem no total 3 chaves distintas que podem ser usadas como portais. Achá-las pela ilha ou com NPCs, é outra história hehe. Detalhe, para se transportar, tem de ter 10 MP, é a única ação do jogo sem ser magias que gasta MP. Falando em chaves, temos locais que precisam ser acessado com chaves específicas, assim como baús que só podem ser abertos com tal chave. A maioria dos itens podem ser encontrados pela ilha, mas também pode se gastar o suado dinheiro e comprá-los (é tudo bem caro inicialmente). As chaves do tipo rhombus keys são chaves que são utilizadas em várias partes da ilha. Um cuidado especial quanto a elas, encontrei uma área onde potencialmente poderia travar o progresso no jogo. Pois as chaves requerem que se coloque uma em cada lado das portas, e se entrar com somente uma chave, nesta área em questão poderia se salvar e não ter como abrir a porta deste outro lado, que era a única saída. Logo, tem de se ter um certo cuidado ao salvar os jogos se estiver sem chaves e sem ter um pedestal de teleporte habilitado (e ter ao menos 10 MP para isto).


Viram os frascos acima? São nossos equivalentes aos Estus Flasks de Dark Souls. Use, fica vazio, recarregue nas fontes.


Há algumas armadilhas pela ilha, muitas dá para desabilitar com algum mecanismo próximo delas, algumas, use a coragem e encare se tiver HP suficiente para sobreviver se for atingido hehe.
E no mais é isto. Explorar com atenção, economizar nas compras, memorizar áreas de interesse que não consiga explorar no momento, seja por causa de uma porta trancada ou um monstro muito forte. E salvar bastante, estas são as recomendações principais que deixo aqui.
Áudio e gráficos
Em termos de gráficos o marketing do jogo na época ressaltava ser totalmente texturizado, é um jogo da metade da década de 1990, onde com as limitações da época conseguiram criar uma obra com uma ambientação única. Alguns npcs conseguem ter até um certo carisma, mesmo com a simplicidade dos gráficos e do enredo (eles não tem rosto detalhado, por exemplo).
O áudio é composto por músicas ambientes, cada região com o seu tema, que dá um certo toque a cada local. Não são composições que julguei marcantes, mas desempenharam seu papel, como por exemplo para dar um toque claustrofóbico em certas partes.
Concluindo
É uma obra única, com uma ótima ambientação. Apesar de ser um RPG de ação ele não se destaca por ter ação frenética, mas sim pela ideia de uma exploração cadenciada. É um jogo em que prestar atenção aos detalhes, memorizar áreas de interesse para voltar mais tarde é exigido, assim como paciência por parte do jogador para enfrentar diversas situações. Mesmo em uma jogada rápida de 20 minutos, algo se tira de proveito desta jogatina, seja para encontrar um item em algum canto que se tinha passado sem perceber, seja para descobrir que ainda não se pode adentrar certa área pois vai morrer em 1 ataque hehe. O combate pode soar estranho inicialmente, mas na minha opinião funciona bem dentro da proposta. Ele não é técnico, não exige necessariamente pegar timing para atacar ou coisa do tipo, se tiver bom equipamento, é possível sair enfrentando sem muito perigo uma boa parte dos inimigos mais comuns (nem todos, é claro). Ele envelheceu bem? Na opinião minha é perfeitamente jogável hoje, mas requer um pouco de mente aberta. É um jogo que data do início onde começaram a aparecer jogos 3D, no caso dele é praticamente todo 3D. A movimentação é um pouco lenta, o controle da câmera meio rudimentar, assim como o combate falado acima pode estranhar a primeira vista. Mas decidindo encarar, está aqui uma experiência memorável e diferenciada da maioria dos RPGs vistos em consoles na época.
Extra – King’s Field III: Pilot Style
Eu havia mencionado que a série tinha um pequeno jogo extra no início do post. Este jogo foi dado promocionalmente em um evento apenas de divulgação do King’s Field III. Ele se passa entre o final do segundo e o terceiro jogo (considerando a numeração japonesa).
Foi lançado somente em japonês, mas existe uma tradução fã feita dele. O objetivo do jogo é recuperar uma espada sagrada para o reino de Verdite, que foi roubada e perdida. É bem curto, mas é uma experiência completa, com duração em torno de 1 hora e meia, bem menos sabendo o que fazer. A jogabilidade é bem próxima da de King’s Field III, com melhorias e maior velocidade em relação ao segundo jogo que vimos aqui. Segue umas imagens para ilustrar, e até o próximo post. 🙂



