Espionagem virtual, acesso de dados restritos, troca de informações privilegiadas.
Quando a Internet surgiu, a ideia do intercâmbio de conhecimento entre usuários, empresas e universidades era algo quase utópico.
A Internet como conhecemos não foi pensada para ser segura e, como não poderia deixar de ser… bem, a humanidade aconteceu.
Inicialmente hackers e crackers agiam unicamente por conta própria, pela simples curiosidade e desafio.
Mas a Internet evoluiu e com elas seus usuários e interesses.
Não apenas surgiram golpes por indivíduos mal intencionados, como a troca e venda de informações pelas grandes corporações tornou-se algo maior.
Os governos perceberam que o rastreio de atividades e espionagem dos usuários era algo “necessário” e que a privacidade tornara-se obsoleta.
Empresas passaram a monitorar os interesses dos compradores para oferecerem “uma melhor experiência”, atos de cyberterrorismo passaram a ser executados por membros anônimos da sociedade e também em guerras virtuais entre grandes nações.
O nascimento e expansão das redes sociais transformaram opiniões em armas de massa de manobra para política e interesses escusos. Uma rede paralela para todo tipo de mercado ilegal surgiu, uma “Internet secreta dentro da Internet”.
Este é não só o nosso mundo, como também o mundo da franquia sobre a qual falaremos desta vez:
WATCH DOGS
Lançado para PlayStation 4, Xbox One, PC, PlayStation 3, Xbox 360 e Wii U em 2014, Watch Dogs é um jogo open world passado na cidade de Chicago, que recebeu integração total dos sistemas através da rede ctOS.
Seu principal diferencial em relação aos outros jogos open world é a capacidade do protagonista Aiden Pearce, um hacker que pode invadir sistemas e vasculhar a vida de cada cidadão através de seu celular.
Além do tema hacker, o jogo também aborda tráfico de drogas e tráfico de escravas sexuais.
CULTURA HACKER
Embora haja muita controvérsia na comunidade perante o uso dos termos hacker e cracker, popularmente o termo hacker é mais utilizado.
Originalmente usado por modelistas de trens do Tech Model Railroad Club nos anos 50, no sentido de gambiarra, o termo hack referia-se a alterações nos controles de ferroramas.

A partir de 1960, programadores passaram a usar o termo hack como truques de programação utilizando recursos pouco prováveis; a partir deste ponto, hack tornou-se algo referente a decifrar.
Com a popularização da internet a partir dos anos 90, os primeiros hackers como conhecemos hoje surgiram e com eles uma série de classificações para diferenciá-los em seus estilos e filosofias:
White Hat: alguém que procura falhas nos sistemas de segurança e geralmente comunica o problema para a empresa;
Black Hat: também chamado por vezes de cracker, o BH costuma envolver-se em atividades ilegais e/ou criminosas;
Grey Hat: o hacker que invade os sistemas pelo simples desafio do fato, sem causar maiores problemas;
Elite e Newbie: respectivamente os hackers com muita habilidade e os novatos, embora sejam termos menos usados;
Blue Hat: é o hacker contratado por empresas para testar e encontrar falhas de segurança antes dos lançamentos de produtos e sistemas;
Lammer: alguém que utiliza scripts prontos, mas não possui habilidade para criar suas próprias soluções, tentando passar uma falsa imagem de hacker experiente;
Phreaker: especialista em telefonia móvel ou fixa. John Draper é o membro mais conhecido desta categoria, tendo aprendido a fazer ligações gratuitas de telefones públicos com um apito que vinha como brinde em uma caixa de cereal;
Hacktivist: o hacker que envolve-se em causas sociais, políticas, ideológicas e até mesmo cyberterrorismo (o protagonista do primeiro jogo, Aiden Pearce encaixa-se parcialmente nesta descrição);
Nation States Professionals: os hackers a serviço de governos, envolvidos em roubos de dados e espionagem. Encaixam-se em diversas das descrições acima, mas diferenciam-se por trabalhar para algum país.
AIDEN PEARCE X ctOS
Em 2012, a empresa Blume, através do ctOS (central Operation System / central de Operação de Sistemas) integrou todos os sistemas de funcionamento de Chicago, inclusive os celulares de todos os cidadãos, com a premissa de facilidade de acesso e maior segurança digital.
Aiden Pearce participa de um roubo digital de banco, junto de seu mentor, Demien Brenks, quando disparam um alarme criado por outro hacker.
Temendo pela segurança, Aiden leva sua única família, irmã e sobrinha para uma viagem pelo país.
Maurice Vega, um assassino contratado dispara um tiro contra o carro de Pearce, que bate. Sua sobrinha, Lena, entra em coma para morrer em curto período de tempo.
Um ano após o incidente, Aiden descobre o paradeiro de Vega e o entrega ao seu “sócio”, Jordi Chin. Jordi é um mercenário sem escrúpulos, capaz de tudo para finalizar a missão e coletar o pagamento; durante missões do jogo, seu comportamento sugere algum grau de psicopatia, com gosto pela tortura. Chin usa um terno cinza sobre uma camisa bordô que, apesar de chinês, curiosamente o remete à roupa de Kazuma Kiryu, protagonista da série Yakuza.


Durante a investigação, Brenks contata Aiden para que ele ajude a localizar o hacker responsável pela falha do roubo. Pearce recusa-se e Brenks sequestra sua irmã, forçando Aiden a voltar atrás em sua decisão.
Ele então une-se à Clara Lille, hacker do grupo DedSec na luta contra a Blume.

Ao invadir os servidores da Blume, eles descobrem que os cidadãos de Chicago estão sendo vigiados através do ctOS, com inúmeras horas de vídeos e conversas gravadas por televisores, câmeras e celulares.

Dada a quantidade de conteúdo encriptado, eles precisam da ajuda de Raymond ‘T-Bone’ Kenney, lendário hacker que causou um blackout de 2003 no Noroeste dos EUA e parte do Canadá (fato real), para provar o perigo da implementação da ctOS (T-Bone foi responsável pela criação do sistema).
EXÉRCITO DE UM HOMEM SÓ
Aiden é não somente um hacker brilhante, como também um combatente urbano experiente.
Em seu arsenal conta com pistolas, metralhadores, rifles, lançadores de grana e um bastão tático retrátil (para ações não-letais).

Ele pode criar explosivos e bombas de EMP em tempo real com poucos componentes.
Através de seu celular, pode investigar rapidamente o perfil de qualquer NPC, sacar dinheiro de caixas eletrônicos, acionar sistemas da cidade para atacar inimigos através de armadilhas ou mesmo abrir caminhos que o ajudem a avançar.
O sistema de stealth é um dos pontos altos do jogo, tendo seu estilo de movimentação influenciado o gameplay de Assassin’s Creed Unity.
Os abates não-letais são geralmente executados com o bastão retrátil.
Aiden conta com reflexos rápidos, representados através de um efeito em câmera lenta, que ajuda durante os tiroteios.
A árvore de evolução conta com três ramos: Hacking, Combate e Direção.
GAMEPLAY E ATIVIDADES
Aiden pode dirigir carros, pilotar motos e lanchas.
As perseguições policiais são bastante persistentes, inclusive na água.
Além de carros e barcos, a polícia conta com helicópteros para não perder o jogador de vista.
Durante tais perseguições, sinais de EMP para atrapalhar policiais nos carros e helicópteros, além de levantar barreiras eletrônicas, içar pontes e explodir bueiros são opções para despistar e fugir.
Além das missões de história e atividades de personagens específicos, o jogo conta com missões secundárias sobre invasão e hackeamento de dados em bases com ondas de inimigos, assaltos a carros-fortes e nocaute/execução de alvos móveis.

Além destas, minigames no celular de Aiden permitem controlar uma aranha-robótica, coletar moedas no melhor estilo Mario, dentre outras, através de realidade aumentada.
O modo online conta com seis atividades:
Online Hacking – um jogador precisa hackear o outro permanecendo indetectável no cenário;
Invasion – um jogador invade o jogo de outro para caçá-lo;
Online Tailing – siga um jogador e permaneça indetectável;
Online Race – auto-explicativo, uma corrida entre jogadores;
Online Decryption – jogadores (individualmente ou em equipe) devem decriptar dados antes dos adversários;
CtOS Mobile App – um jogador coloca barreiras policiais através do próprio celular ou tablet contra outros jogadores nos consoles ou PC.
POLÊMICAS E CRÍTICAS
Watch Dogs foi um jogo aclamado em sua revelação na E3 2012, com gráficos impressionantes que fizeram muitos questionar o seu lançamento para a geração vigente (PS3 e Xbox 360), tendo mais tarde sido anunciado para as novas plataformas.
O downgrade visual do jogo causou uma grande polêmica próximo e durante o lançamento. A Ubisoft veio a público pedir desculpas pelo resultado entregue.
Além da parte visual, o jogo sofreu críticas por parte dos jogadores e da crítica especializada devido ao caráter sério e vingativo do protagonista.
Muitos jogadores alegaram falta de carisma por parte de Pearce, obcecado pela vingança.
BAD BLOOD
DLC focado em T-Bone, Bad Blood se passa em 2014, um ano após os eventos do jogo.
Kenney precisa remover todos os traços de suas atividades dos servidores da Blume, quando descobre que seu antigo colega, Tobias Frewer foi sequestrado por um grupo de mercenários.
T-Bone logo descobre que ele também é alvo de um grupo mercenário.
WATCH DOGS 2
Lançado para PlayStation 4, Xbox One e PC em 2016, Watch Dogs 2 se passa em São Francisco e gira em torno das empresas do Vale do Silício.
Ouvindo as reclamações sobre o jogo anterior, a Ubisoft trouxe um novo protagonista, Marcus Holloway, jovem hacker negro, com um estilo mais suave em relação ao sisudo Aiden Pearce.
Não apenas o protagonista, mas o clima geral da história e demais personagens é perceptivelmente mais leve em relação ao primeiro jogo.
São Francisco é uma cidade mais alegre e colorida em contrapartida à cinzenta e sombria Chicago.

Como temas secundários e paralelos, WD2 aborda o fluxo de informações das grandes redes sociais, racismo e identidade de gênero.
O VALE DO SILÍCIO
Localizado na baía de São Francisco, o Vale do Silício (Silicon Valley) é um grande polo de tecnologia, especialmente nas áreas de eletrônica, informática e circuitos eletrônicos.
O Vale abrange as cidades de Palo Alto, São Francisco, Santa Clara e parte de São José.

O nome do local foi utilizado pela primeira vez pelo jornalista Don Hoefler, em 1971, na revista Electronic News, referindo-se ao uso de silício nos componentes de chips de empresas de alta tecnologia da época, como AMD e Intel.
A Universidade de Stanford teve papel importante no incentivo e desenvolvimento de empresas de tecnologia na região, como a Hewlett-Packard (a famosa HP, sim, essa da impressora mesmo), a Xerox e outras empresas do ramo.
A Universidade foi responsável também por um dos nós originais que compunham a ARPANET, antecessora da atual Internet, tendo surgido no ARPA (Advanced Research Projects Agency / Agência de Pesquisa Avançada de Projetos), que pertencia ao Departamento de Defesa dos EUA.
A ARPANET foi a primeira rede a usar comutação de troca de pacotes de dados e protocolo TCP/IP, utilizados até hoje na Internet.
Com o tempo o Vale foi transformando-se e abrigando não apenas empresas de hardware, mas também software e grandes sites, como o Facebook, Google, etc…
MARCUS HOLLOWAY E A DEDSEC
Em 2016, São Francisco é a primeira cidade a receber a integração do sistema ctOS 2.0, da empresa Blume.
Marcus é acusado pelo sistema de previsão de crimes do ctOS 2.0 como o responsável por um roubo digital do qual não fez parte.
Ele invade o prédio da fazenda de servidores da Blume para apagar seu registro, ato que se torna sua entrada no grupo hacktivista DedSec.

A DedSec da Califórnia investe na promoção através das redes sociais e o número de seguidores a utilizaram o app da DedSec em seus celulares, o que vai desbloqueando novos upgrades para o personagem.
Cada ação executada no jogo resulta em um número de novos seguidores.
No entanto, eles percebem uma diferença nos números de seus seguidores e descobrem que o CTO (Chief Technical Officer, o Diretor Técnico) da Blume, Dušan Nemec, está usando a DedSec para vender o ctOS 2.0 como uma alternativa para os que temem ser hackeados.
Forçados a deixar temporariamente a cidade, o grupo vai para um festival hacker no deserto, onde conhecem T-Bone, que se une à causa do grupo.

Agora Marcus, T-Bone, Sitara Dhawan, Josh Sauchak, Horatio Carlin e Wrench precisam combater o avanço rápido do ctOS 2.0 e expor o sistema corrupto que a Blume esconde sobre políticos, juízes e empresas do Vale do Silício, enquanto enfrenta grupos rivais de hackers e gangues, além do FBI.
O GUERREIRO PACIFISTA
Um dos aspectos que diferenciam Marcus de Aiden é o maior uso de armas-não letais.
É possível finalizar o jogo praticamente sem matar nenhum inimigo (com exceção de uma missão com Wrench).
Dentre o arsenal disponível, Marcus conta com as convencionais: pistolas, rifles, rifles sinpers, metralhadoras e lançadores de foguete, dentre outros; já no lado das não-letais, variações das mesmas citadas anteriormente com munições de choque e atordoamento, além da Thunder Ball, a arma própria de Marcus, uma bola presa por uma corda, com grande poder de concussão.
Além de poder pegar armas dos inimigos, é possível imprimir a maior parte delas numa impressora 3D, na sede da DedSec.

Holloway também possui diversos gadgets, como um carrinho com controle remoto que conecta portas USB, uma aranha robótica que escala paredes e um pequeno drone voador que pode passar por tubos de ventilação.

A árvore de habilidades de Marcus conta com BotNets (a quantidade de hacks possíveis com a bateria); City Disruption (armadilhas e demais sistemas da cidade); Marksmanship (habilidades com armas de disparo); Remote CTRL (gadgets); Social Engineering (afetam pessoas, incluindo ataques de gangues e marcação de um indivíduo como suspeito); Thinkering (uso de choque e eletrocução) e Vehicle Hacking (desbloqueio e sabotagem de veículos alheios).
GAMEPLAY E ATIVIDADES
A essência do gameplay de WD2 é bastante semelhante, em estrutura, à de WD1.
No entanto, diversas melhorias foram feitas em relação ao gameplay: o combate foi melhorado, a dirigibilidade dos veículos foi consideravelmente melhorada (um dos pontos bastante criticados no primeiro título) e a variação dos conteúdos adicionais foi expandida.
Em contrapartida, o mapa ficou mais enxuto, sem tantos ícones e atividades quanto no jogo anterior e em outros títulos da Ubisoft (AC Unity havia extrapolado este quesito).

Dentre as atividades extras, as Side Operations, séries de sidequests interligadas em pequenos arcos estão disponíveis.
Assim como no primeiro jogo, o modo online pode ser acessado rapidamente (caso esteja ligado) pelo celular ou dirigindo-se até pontos roxos no mapa, para missões rápidas.
O jogo conta com os seguintes modos online:
Seamless Coop – o modo padrão, caso o online esteja ativado no seu jogo. Você encontrará outros jogadores aleatoriamente, podendo realizar missões coop randômicas;
Bounty Hunter – você caça ou é caçado por outros jogadores;
Hunted Bounty – com o modo online ativo, caso atinja um nível alto de procurado pela polícia, você aparecerá como alvo no mapa de alguns jogadores, tendo de fugir ou derrotá-los;
Hunter – semelhante ao Hunted Bounty, mas aqui você é um dos caçadores que procura alvos com altos níveis de procurado;
Hacking Invasion – semelhante ao do primeiro jogo, nele você entra no jogo de alguém para hackeá-lo ou é invadido no seu jogo e precisa achar o hacker;
Coop – missões específicas para serem jogadas com um amigo online.
DLC’s
WD2 recebeu os seguintes conteúdos adicionais:
T-Bone Content Bundle – nova dificuldade para missões coop, além de skins e o caminhão de T-Bone com o visual do primeiro jogo;
Human Conditions – dlc com três novas histórias sobre os escândalos do mundo tecnológico de São Francisco;
No Compromisse – Marcus enfrenta a Máfia Russa no underground da cidade. Também inclui o modo coop Showd0wn;
Root Acess e Psychedelic – ambos dlc’s com skins novas
WATCH DOGS E ASSASSIN’S CREED
Ambos jogos da Ubisoft foram confirmados através de citações e pequenos easter eggs como sendo passados no mesmo universo.
Em WD1 é possível ver revistas com imagem de AC3 na capa (AC é um jogo criado pelas indústrias Abstergo dentro da franquia AC). Também é possível achar AC1 na estante da casa da irmã de Aiden, além de localizar um pai e um filho conversando enquanto o menino joga AC durante uma invasão de servidor.
Em Watch Dogs 2 existem pôsteres do filme de AC no prédio da Ubisoft, além de uma conversa que você intercepta entre um diretor de marketing da Ubisoft e uma executiva, preocupada com o vazamento de trailer. A mulher cita o ocorrido com AC Syndicate e Osiris (referência ao deus egípcio e easter egg sobre AC Origins, que ainda não havia sido anunciado).
Alguns funcionários da Abstergo podem ser descobertos através da invasão de celulares nos dois WD.

Em AC Black Flag é possível achar um e-mail da Blume onde a empresa faz uma oferta do sistema ctOS para a Abstergo.
Ainda em Black Flag, o CEO da Abstergo Entertainment (ramo da empresa responsável pelos jogos eletrônicos), Olivier Garneau, vai para Chicago encontrar um acionista e some da campanha.
Em WD1, em uma das sidequests, você hackeia o celular de Olivier e descobre um conversa dele com um assassino, com direito ao “Resquiescat in pace” de Ezio. Durante a missão, você acaba matando os guardas e o próprio Garneau, para então descobrir que ele era um alvo da Irmandade, fato que é confirmado por uma imagem de câmera de segurança em AC Black Flag.
O QUE VEM POR AÍ: WATCH DOGS LEGION
Lançado em 2020, Legion passa-se numa Londres distópica, com brutalidade policial e protestos.
Como destaque, é possível recrutar praticamente qualquer NPC.
A análise do jogo será feita futuramente no site.
