DESCOBRINDO FRANQUIAS – Série Atelier – Atelier Arland Series Deluxe Pack

Saudações! Hawk_666 falando aqui. O Descobrindo Franquias a seguir vai ser de uma série muito querida no Japão, mas que sofre muito preconceito no ocidente, sobretudo pelo nome e pelo estilo artístico: a série Atelier. Para iniciarmos essa jornada, vamos começar analisando a trilogia remasterizada Atelier Arland Series Deluxe Pack. Boa leitura!

DO QUE SE TRATA A SÉRIE ATELIER?

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Não, não são jogos sobre costura para meninas. Atelier é uma popular série de RPGs desenvolvida pela produtora japonesa Gust. A série tem como mecânicas principais a alquimia, a administração de tempo restrito para realização de tarefas e o relacionamento entre os personagens (e em alguns jogos da série, grande foco em batalhas também). A série teve início em 1997 com Atelier Marie para Playstation 1, e desde então conta com 19 jogos canônicos e outras dezenas de jogos Spin-Off e outros materiais para diversas plataformas, em sua maioria consoles da Sony.

A série não tem ligação entre todos os 19 jogos, mas é dividida em sagas. A saga Arland, por exemplo, possui 3 jogos lançados, todos se passando no mesmo universo, com os mesmos personagens interagindo entre si e seguindo uma linha lógica tanto de gameplay como de enredo, e mesmo assim, não é estritamente necessário jogar todos da mesma saga – é possível jogar e curtir perfeitamente somente Atelier Meruru (o terceiro jogo da saga Arland), por exemplo. Por se tratar de uma trilogia com os primeiros jogos em 3D da série e com vários elementos clássicos que tornam um Atelier tão querido e viciante, a saga Arland é uma ótima forma de conhecer a série.

A HISTÓRIA DA ALQUIMIA

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A alquimia era uma prática existente em vários âmbitos (Misticismo, Ocultismo, Química, Filosofia etc) e presente em vários locais e épocas distintas (China, Índia, Egito, Roma etc, em épocas sobretudo Antes de Cristo). Em todos os lugares, um dos principais objetivos da Alquimia era a busca pela vida eterna. O conceito ocidental como conhecemos nos dias atuais descreve que a prática tinha como objetivo a criação da Pedra Filosofal, que tornaria possível a transmutação de metais comuns para o ouro e para a criação do Elixir da Vida Eterna, assim como a criação de homens artificiais, conhecidos como homunculus.

Muitos estudiosos acreditam, no entanto, que esses objetivos seriam na verdade metáforas para a elevação espiritual da pessoa, uma busca em aprimorar seu eu interior. Faz sentido, se considerarmos que a transmutação do metal comum para o ouro signifique um indivíduo com valores mais aprimorados, valiosos, e a busca pelo Elixir signifique um indivíduo em sua plena saúde mental e física, mais duradoura.

Contudo, os experimentos factuais realmente existiram, e devido a eles, temos o que conhecemos hoje como a química moderna. Grande parte dos elementos da tabela periódica atual nós só conhecemos porque houve fusão nuclear de átomos. Fora isso, o conceito básico de obtermos uma matéria nova a partir da combinação de outras é utilizada até hoje em vários âmbitos como na medicina, com os remédios, e na higiene, como as colônias e sabonetes. Até a culinária, se analisarmos a forma de preparo dos alimentos, é um conceito básico da alquimia.

Na cultura pop, temos como um dos principais representantes a animação japonesa Full Metal Alchemist, que trabalha todos esses conceitos de homunculus e Pedra Filosofal. Nos games temos, é claro, a série Atelier, mas também centenas de outros títulos que trabalham esse conceito de adquirir coisas novas a partir da combinação de outras.

A SAGA ARLAND

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Originalmente lançada para Playstation 3, a saga Arland da série Atelier é a trilogia com os primeiros jogos em 3D da série, iniciado por Atelier Rorona (2009 no Japão) e seguido por Atelier Totori (2010 no Japão) e Atelier Meruru (2011 no Japão). Posteriormente, foi lançado um remake de Atelier Rorona para Playstation 3 e Playstation Vita, chamado de Atelier Rorona Plus (2013 no Japão), contendo atualizações gráficas e de performance, além de conteúdo adicional. Atelier Totori Plus (2012 no Japão) e Atelier Meruru Plus (2013 no Japão) também foram lançados para Playstation Vita. Não são remakes como Atelier Rorona Plus, mas foram lançados para o portátil da Sony com extras.

A saga Arland é mais importante para a Gust do que aparenta. Ela é um reboot para a série depois de 5 jogos canônicos seguidos para Playstation 2 focados em batalhas e outros elementos clássicos de RPGs (trilogia Iris e duologia Mana Khemia), deixando a administração de tempo, sistema de alquimia profundo e enredo descompromissado em segundo plano. As sagas Iris e Mana Khemia deram visibilidade para a Gust e para a série Atelier no ocidente, além de terem contribuído muito para a desenvolvedora amadurecer em sistemas de batalha e trilha sonora, mas ao mesmo tempo desagradaram e muito os fãs hardcore da série. Para não caírem no esquecimento como sendo “mais um RPG” no mercado e aproveitando a transição tecnológica do Playstation 2 para o Playstation 3, a Gust criou a saga Arland, resgatando tudo que tornou a série Atelier tão querida e famosa ao longo de sua existência, mas sem deixar totalmente de lado o que aprenderam com os títulos anteriores.

Atelier Arland Series Deluxe Pack é um pacote contendo três remasterizações (com todos os extras inclusos) para Playstation 4, Steam e Nintendo Switch: Atelier Rorona DX, Atelier Totori DX e Atelier Meruru DX. Os jogos foram desenvolvidos e remasterizados pela produtora japonesa Gust e distribuídos pela japonesa Koei Tecmo Games em 2018. Além do pacote com os três jogos, eles estão disponíveis de forma individual em formato digital. Infelizmente, apenas no Japão existem edições em mídia física.

A versão analisada para a produção desse texto é a digital para Playstation 4.

Informações técnicas

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O Deluxe Pack traz uma experiência técnica superior em relação aos lançamentos originais para Playstation 3. Todos os três jogos do pacote rodam sem quedas de framerate e 1080p nativos, os loadings foram drasticamente reduzidos e os pop-ins suavizados de forma considerável. Além disso, em todos os jogos é possível alternar a dublagem entre o inglês e o japonês e customizar a trilha sonora ao seu gosto, tendo todas as faixas de todos os jogos do pacote à disposição.

Melhorias a parte, temos a mesma apresentação das obras originais: jogos com uma ótima ambientação européia (com inspirações sobretudo italianas e inglesas), personagens que impressionam por serem praticamente artworks animadas de tão detalhados, trilha sonora que evolui de melodias alegres e calmas de Atelier Rorona a Rocks épicos de Atelier Meruru e um excelente trabalho de dublagem, tanto na versão japonesa como na ocidental. Sendo a mesma apresentação, isso quer dizer que temos também as mesmas animações truncadas dos personagens, problemas de colisão de objetos e um trabalho pobre de iluminação.


Música de batalha contra chefes de Atelier Meruru

História

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A saga Arland começa em Atelier Rorona. No jogo, a protagonista Rorona trabalha para o reino de Arland, para provar o valor e a utilidade de seu atelier de alquimia para a população. Em Atelier Totori, a protagonista Totori, com a ajuda da alquimia e de seus amigos, sai de seu vilarejo pesqueiro, vizinho de Arland, em uma aventura atrás de sua mãe desaparecida. Por fim, em Atelier Meruru, a protagonista Meruru, a princesa do pequeno reino de Arls (e adivinha, também vizinho de Arland), deve usar a alquimia para ajudar sua nação a prosperar. Os jogos alinham sua cronologia com a ordem de lançamento, pois conhecemos a jovem Rorona no primeiro jogo, que depois se torna mestre de Totori no segundo, que por sua vez, passa seus conhecimentos para Meruru no terceiro título. Em geral, a saga transmite um clima leve, alegre e cômico, agradável de se acompanhar.

Fluxo de jogo

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A grande maioria dos jogos da série Atelier seguem o fluxo: coleta de itens -> batalhas -> alquimia -> eventos com personagens e história -> repete o ciclo. Na saga Arland isso não é diferente.

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A exploração consiste em desbravar grandes terrenos repletos de materiais de alquimia e inimigos, segmentados em um mapa mundi no melhor estilo Super Mario World. Esses terrenos geralmente não possuem um design muito complexo, sendo na maioria das vezes apenas grandes arenas ou corredores. Isso se deve ao fato da proposta do jogo, focada em alquimia – uma dungeon muito complexa deixaria a jogatina cansativa e extensa demais, pois o principal propósito da exploração é coletar os materiais para a alquimia, e não resolver puzzles ou se perder no caminho.

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No meio da exploração, você se depara com muitos inimigos. Acertando os inimigos ainda no modo exploração, é possível começar a batalha com alguma vantagem, da mesma forma que, se um inimigo te pega de surpresa, ele é que começa com vantagem. As batalhas são o velho arroz com feijão dos RPGs por turnos, mas com algumas peculiaridades, como o sistema de assistência entre os membros da equipe para atacar fazendo combos ou para proteger a protagonista, tomando o golpe do inimigo no lugar e reduzindo o dano. Com itens de ataque e cura que fazem efeito por vários turnos, golpes que retardam o turno do inimigo e até mesmo um sistema de golpes especiais no melhor estilo Limit Breaks da série Final Fantasy, apesar de simples, as batalhas da trilogia Arland são completamente funcionais e consideravelmente frenéticas, proporcionando uma experiência agradável e que não enjoa.

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Com todos os materiais coletados tanto na exploração como nas batalhas, você pode voltar para a cidade. Nela, você encontra diversos NPCs, lojas e seu atelier. Após comprar e vender o que precisa, você pode finalmente começar a produção de itens com alquimia – e é aqui que o jogo brilha. O sistema de alquimia da saga Arland é simples e fácil de entender para quem joga casualmente, mas profundo, complexo e com infinitas possibilidades para os mais experientes. A mecânica é simples: misture dois ou mais materiais, sejam eles matérias-primas ou outros materiais já produzidos com alquimia, e crie algo totalmente novo. Você produz literalmente tudo com o sistema: itens necessários para a história, materiais para novas armas e equipamentos, itens de ataque, itens de cura e até itens com fins de venda. Mas é claro que não acaba por aí, pois cada item possui dois pontos que podem influenciar drasticamente no produto final: o primeiro é a qualidade do material e o segundo são suas características únicas. A qualidade, sendo alta ou baixa, pode influenciar na funcionalidade do item e o quanto ele vale nas lojas, enquanto as características únicas transformam o item que as herdaram, fazendo desde bombas que se auto-usam nos inimigos quando a personagem toma dano até itens com usagem infinita. Além disso, cada receita de item permite que você produza o que deseja com diversos materiais diferentes, gerando o mesmo item com propósitos distintos. Por exemplo, um item de cura comumente utilizado para recuperar HP pode ser produzido com foco em cura de MP, ou em alguns casos, curar HP e MP ao mesmo tempo. Quanto mais itens a protagonista produz com alquimia, mais ela adquire experiência no sistema, e mais técnicas avançadas e recursos ela vai adquirindo, fazendo com que receitas antes impossíveis se tornem possíveis ou até mesmo receitas demoradas se tornem mais rápidas. Todas essas camadas de dificuldade e complexidade, a possibilidade de você criar até mesmo um material especial para uma receita ainda mais complexa, e configurar o produto final exatamente do jeito que você quiser, fazem do sistema de alquimia da série um exemplo a ser seguido por qualquer jogo que adota um sistema de crafting/synthesis.

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Além das atividades já descritas, é possível também interagir com diversos personagens da cidade. Realizando sidequests, produzindo itens especiais para eles e levando eles para as aventuras e batalhas (em casos de personagens jogáveis), você aumenta o nível de amizade entre a protagonista e os personagens. Isso, por sua vez, desencadeia em novos eventos que contam um pouco mais da história deles ou até mesmo do jogo, e pode afetar até mesmo no final. É uma interessante forma de aliar gameplay e enredo, pois aprofundar o relacionamento com qualquer um deles depende diretamente do que você faz ou deixa de fazer para cada personagem.

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Por fim, o que liga todo o gameplay em um fluxo lógico é o sistema de Deadline. O jogador tem, em média, 4 anos para fazer o que o jogo exige para prosseguir no enredo. A principio pode parecer muito, se toda e qualquer atividade não consumisse dias – ir para qualquer lugar fora da cidade consome dias, coletar itens consome dias, batalhas consomem dias, trabalhar na alquimia consome dias e trabalhar em eventos com personagens consome dias. Quando você perceber, o limite de tempo estabelecido está batendo na porta. Cada jogo da trilogia possui um sistema específico. Em Rorona, o reino de Arland manda a protagonista utilizar a alquimia para ajudar a cidade todo trimestre, caso contrário seu atelier será fechado. Enquanto realiza as solicitações oficiais, é possível também realizar outras secundárias como explorar certas regiões ou matar certos inimigos para ganhar itens e outros bônus. Em Totori, a protagonista deve literalmente se aventurar em novas terras e explorar ao máximo o sistema de alquimia para aumentar seu ranking de Aventureira, que serve para liberar mais áreas para explorar. Em Meruru, a protagonista também explora o mundo e usa a alquimia para subir de ranking de influência em seu reino, para assim ter voz para implementar novos projetos para a cidade prosperar e facilitar seu dia a dia. O quanto o jogador se dedica a essas atividades oficiais influencia na dificuldade do jogo – quanto mais rápido os objetivos são cumpridos, melhores as recompensas e mais tempo o jogador tem para subir os níveis de alquimia e batalha, além de produzir itens e equipamentos melhores. Resumindo: quem se dedica mais, sofre menos em geral. O sistema também possibilita a existência de dezenas de finais por jogo, dependendo do que você fez ou deixou de fazer, e isso inclui até um final ruim, em caso de não conseguir cumprir o mínimo exigido pelo jogo. Apesar de intimidador, o sistema de deadline é muito divertido, pois trabalha bem o senso de administração de tempo do jogador, e o faz pensar sempre um passo a frente do que já está fazendo.

Considerações finais

A série Atelier é muito além do estilo artístico de meninas de animes e do nome. É um RPG com um bom sistema de batalhas e uma ótima trilha sonora, um enredo relaxante e personagens carismáticos, talvez o sistema de alquimia mais complexo e completo da indústria de games e um sistema de deadline cruel para os desavisados, mas que é prazeroso e recompensador para os mais dedicados. E a trilogia Arlard é uma ótima forma de conhecer essa série.

Prós:

+Sistema de Alquimia profundo, complexo e completo
+Sistema de Deadline intimidador, mas prazeroso
+Dificuldade geral do jogo, que depende totalmente da dedicação do jogador
+Trilha sonora que vai do agradável ao empolgante
+Sistema de batalhas funcional e frenético

Contras

-Movimentação de personagens e iluminação precários

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