Bushido.
O código de honra dos samurais, que determina seu modo de viver, pensar, agir e morrer, possui influências do confucionismo, budismo e xintoísmo.
Estrito em seus costumes, o “caminho do guerreiro” não admite a desonra e a vergonha.

Um samurai preferia morrer de maneira honrada a viver a vergonha de uma derrota, chegando ao ponto de cometer o seppukku (harakiri), o suicídio ritual por desentranhamento.
No Campo de Spoilers de hoje falaremos sobre a decisão final de Jin Sakai, em Ghost of Tsushuima.
A partir deste ponto, esteja avisado, falaremos sobre o final do jogo!!!

Após um ataque dos invasores mongóis, selvagens e sem honra, pela visão dos japoneses, Jin é ferido gravemente, mas salvo por aldeões.
Este é o seu ponto de ruptura com o bushido e seu ingresso à persona do Fantasma de Tsushima, utilizando métodos furtivos e contrários às regras de conduta samurai.
Embora não seja citado como um durante o jogo, o Fantasma comporta-se como um shinobi (ninja), utilizando todos os métodos disponíveis para vencer, incluindo o assassinato.
Jin, órfão na infância e acolhido por seu tio, lorde Shimura, rompe os laços com as tradições de seu país.
Shimura tenta dissuadi-lo de percorrer um caminho desonroso, mas Jin está disposto a fazer o que for necessário para derrotar Khotun Khan e a horda mongol.
Como agravante, Shimura é um favorito do xogum, sendo nomeado jito, um representante local do governo e senhor de terras.
Ao ser adotado oficialmente, irá Jin irá substituir o nome da família Sakai pelo nome Shimura mas, para isto, ele precisa retomar o caminho do guerreiro e abandonar sua busca por vingança.

Lados opostos entre ambos, cabe ao jogador a decisão final sobre o destino de Shimura: poupá-lo em combate e fazê-lo carregar a vergonha da derrota ou executá-lo por uma morte honrosa.
Esta decisão me pareceu estranha quando foi apresentada.
Até então, o jogo não possuía escolhas, mas justo após a luta final, surge uma opção um tanto quanto inusitada.
De um lado, temos a tradição japonesa e a honra do samurai postos em cheque pelas ações de Jin.
Entretanto, Jin lutou contra o sistema tradicional que falhou em derrotar os mongóis e foi preso por isto, tendo sido traído tanto por seu pai adotivo quanto pelo xogum.
Nos momentos finais, eu escolhi prontamente acabar com a vida de Shimura, concedendo de volta sua honra e me tornando procurado pela morte do jito.
A decisão parecia bastante óbvia e a simples existência do final onde Jin foge e deixa o tio vivo me era esdrúxula: um samurai jamais faria isto.
Mas ao assistir pessoas finalizarem o título, no Youtube, qual não foi a minha surpresa ao ver a maioria dos jogadores ocidentais optando por preservar a vida de Shimura?
Há de se entender, é claro, que o final mais coerente (na minha opinião), condiz com a mentalidade do samurai e do japonês em geral, embora o jogo seja ocidental.
E também que a ação de preservar a honra de Shimura em seus momentos finais, contraria as ações de Jin, que já havia desviado do bushido.
Ao executar Shimura, Jin restitui a dignidade do tio, assumindo indiretamente a culpa pelos próprios atos, e também se redimindo de seu desvio de conduta.
Já ao fugir e deixar o tio vivo, Jin acaba por humilhar mais uma vez o tio perante o xogum, o que dificilmente seria a atitude de um samurai.
Lorde Shimura, enquanto jito, está desmoralizado perante o xogum e precisa da morte pelas mãos de Jin, agora seu inimigo, para recuperar o status.
O “final ocidental” sempre me pareceu covarde, mas é o mais escolhido pelos ocidentais e confirmado pelo diretor como canônico.
Claro, eu também sou um ocidental, afinal de contas, mas devido ao meu apreço e (parco) conhecimento pela cultura japonesa, compactuo com alguns de seus valores e entendo o peso de certas decisões.
No fim das contas, a escolha do estúdio em dar a opção foi acertada.
Eu certamente teria detestado o final se precisasse preservar a vida de Shimura…