Review / Tutorial de Watch Dogs Legion

* Esta análise foi feita com o código cedido pela Ubisoft (versão PS4)

Distribuidora: Ubisoft
Produtora: Ubisoft Toronto
Plataforma:  PS4 / PS5 / Xbox One / Xbox Series X / Xbox Series S / PC / Google Stadia
Mídia: Física e Digital
Ano de Lançamento: 2020

Watch Dogs Legion é um jogo open world de stealth e ação, com foco no hackeamento.
Como diferencial em relação aos dois jogos anteriores, agora é possível recrutar praticamente qualquer NPC do jogo e não há um protagonista fixo.

Além do tema hacker, foco da franquia, o jogo aborda também o tráfico humano, venda de órgãos no mercado negro, cyberterrorismo e manipulação de informações pelo governo e pela mídia.

God Save The Queen

O jogo inicia com um agente da DedSec, Dalton Wolfe, entrando no Palácio de Westminster, a sede do Parlamento Inglês, que está prestes a ser explodido.
Dalton veste terno e possui um estilo mais pomposo, diferente de outros membros da DedSec, com um visual mais James Bond.

Guiado pela voz de Sabine Brandt, também da DedSec, e a Inteligência Artificial Bagley, o agente consegue impedir a detonação das bombas.
No processo, ele descobre e enfrenta intrusos armados, pertencentes ao grupo hacker rebelde Zero Day, cujo líder o confronta através de uma projeção holográfica, pouco antes de ordenar a sua morte através de drones.
O líder do ZD então aciona uma série de detonações remotas em outros pontos de Londres.
A sede da DedSec é invadida por agentes do Zero Day e Sabine desativa Bagley para evitar sua destruição.

Dalton é confrontado pelo líder do Zero Day


A DedSec é culpada pelo ataque e o governo contrata o grupo privado militar Albion para instaurar a lei marcial em Londres, restringindo a circulação e liberdade dos moradores da cidade, bem como revogando a privacidade através do sistema ctOS (central Operation System / sistema central de operações, presente em toda a franquia).
Com o grupo praticamente extinto na capital, Sabine precisa escolher o primeiro agente que será responsável pelo recrutamento de novos membros e também reativar Bagley.

Anarchy In The U.K.

Como dito na introdução, a novidade em relação aos dois primeiros títulos é a substituição de um protagonista fixo pelo conceito de que todo NPC do jogo (ou quase todos) pode ser recrutado como personagem jogável.

Após a escolha do primeiro agente na introdução, é possível recrutar novos membros através de missões de confiança, onde um favor é feito para o personagem em questão.
A dificuldade no recrutamento depende da simpatia do personagem em relação à DeadSec, status que pode ser verificado ao escanear o perfil pelo celular

Ao escanear NPC’s, as habilidades e equipamentos serão exibidos


Cada personagem possui habilidades específicas, dependendo da sua profissão/ocupação: um advogado consegue soltar aliados da cadeia automaticamente; uma paramédica cura personagens com ferimentos graves; um manifestante pode incitar revoltas usando um megafone; etc.
A variedade de ocupações é elevada e um dos pontos de curiosidade do jogo.

Armas e equipamentos podem ser trocados via menu, conforme comprados com pontos de experiência, envolvendo armas de choque, armas letais, controle de diferentes tipos de drones, hack em drones, perfil de usuários mais detalhados, soqueira com choque, camuflagem invisível, etc. Alguns equipamentos podem ser melhorados até duas vezes após a compra.

Enquanto alguns combatem não-letalmente, outros são especialistas em matar


O dinheiro serve para comprar diferentes roupas, acessórios e máscaras. Note que eu diferencio máscara dos demais acessórios, pois elas são um item à parte; mais do que simples estética, as máscaras oferecem proteção ao invadir uma área, como a famosa bandana no rosto dos dois primeiros jogos (ou o capuz em Assassin’s Creed), porém aqui com uma cobertura completa do rosto, sendo capacete com arte holográfica, cabeça de porco, elmo espartano, máscara de papel machê, dentre muitas outras.
A máscara é sempre equipada automaticamente ao entrar em uma área restrita ou na rua, ao sacar uma arma.

London Calling

Além das missões principais, distribuídas entre as quatro principais facções inimigas (a seguir), existem as missões de recrutamento e vingança.
As missões de recrutamento são basicamente missões para ganhar a confiança de um novo recruta (salvo pessoas que odeiem a DedSec); já as missões de vingança servem para salvar algum agente preso.

O stealth é sempre uma boa abordagem durante as missões (embora esse uniforme não seja muito discreto…)


Com alguma frequência seus agentes inativos serão pegos como refém (quanto mais agentes recrutados, maior a probabilidade de acontecer) e precisarão ser libertados em missão, isso também acontece quando um agente é derrotado (se você não ativou o modo Permadeath) durante missão.

Beat The Bastards 

Os inimigos consistem em quatro facções:
Albion, a empresa militar privada que está “protegendo Londres”;
Clã Kelley, uma gangue que opera através da “dark web” e trafica órgãos;
SIR, a unificação dos sistemas de inteligência britânicos (Signal Intelligence Response);
Zero Day, grupo hacker responsável pelo atentado na cidade

O combate direto se dá contra membros da Albion, os Kelley e, eventualmente, policiais.
O sistema de luta é uma novidade na franquia, consistindo em ataque, quebra de defesa e esquiva.
A esquiva no tempo perfeito resulta em câmera lenta e uma melhor janela de contra-ataque.
É possível interferir no atacante, com um hack através do celular, que atordoa temporariamente, possibilitando o nocaute.
Alguns agentes possuem o hack de choque, que nocauteia automaticamente.

Recrutar agentes lutadores nem sempre é uma tarefa fácil


Já no avanço stealth, é possível distrair o adversário fazendo o celular do mesmo tocar para pode passar despercebido ou nocautear sem precisar entrar em combate. Também é possível travar a arma do personagem temporariamente, impedindo que o mesmo execute disparos de arma de fogo.

Afora inimigos humanos, torretas de combate e diversos drones estão presentes.
Com melhorias é possível desabilitá-los, invadi-los (seja para controle de supervisão, ativação de outros dispositivos ou ataque) ou mesmo fazê-los virarem-se contra seus mestres.

O drone de carga é uma boa opção para entradas aéreas


Existem basicamente quatro tipos de drone: vigilância, antimotim, de carga e de entrega.
O drone de carga é bastante útil em diversas situações, seja infiltração ou coleta de itens.
Após hackeá-lo, ele é um ótimo meio de transporte para acessar andares superiores. Esta habilidade está inicialmente bloqueada como upgrade, sendo exclusiva apenas para funcionários da construção civíl.

Ainda na infiltração, para acessar dutos de ventilação ou pequenas passagens em paredes, a aranha-robô (vinda diretamente de Watch Dogs 2) é uma ótima opção. Ela pode atordoar inimigos desavisados saltando em seus rostos e os eletrocutando e, após receber upgrades, camuflar-se, tornando-se invisível temporariamente. A aranha também serve para hack físico em pequenas entradas e hacks a pequenas distâncias.
Outro upgrade útil é o que camufla temporariamente inimigos abatidos, da mesma forma que a invisibilidade da aranha ou do agente.

A aranha-robô retorna de Watch Dogs 2


Eventualmente, agentes mais habilidosos são detectados por Bagley no mapa, por um curto período de tempo; tais agentes possuem habilidades raras.

Entre as vantagens e desvantagens, é possível destacar alguns exemplos que presenciei:
– um personagem com vício em jogo constantemente ganhava e perdia ETO’s (o dinheiro do jogo);
– uma das minhas melhores agentes possuía facilidade em morrer, o que ela fez durante uma longa queda acidental, mesmo sem o permadeath ativo (me julgue!);
– a estátua viva que pode enganar os agentes da Albion durante fuga;
– o personagem que hipnotiza guardas
– a coreógrafa de wuxia, com finalizações especiais de artes marciais;
– alguns personagens com gunfu, as finalizações com acrobacias e armas de fogo

Complete Control

WDL se passa em uma Londres futurista, não muito distante de nossa época, mas com uma tecnologia mais avançada.
Além do uso massivo de drones e da existência de camuflagens invisíveis, veículos automáticos estão circulando em meio aos pilotados por humanos.

Painéis holográficos com mensagens da Albion estão espalhados por monumentos  da capital.
Todos na cidade usam pequenos “chips” próximos da orelha direita, conectados ao telefone, permitindo a comunicação direta, sem precisar levar o celular ao ouvido.

A Albion controla as ruas de Londres, verificando identidades e conduzindo prisões


A Londres de Legion é uma amálgama da distopia de 1984 (George Orwell) e o futuro cyberpunk dominado por corporações de Neuromancer (William Gibson). A explosão do Parlamento Inglês, planejada no começo do jogo remete ao “anarcoterrorismo” de V de Vingança (Alan Moore), onde o governo pode estar envolvido para utilizar o ato como uma desculpa para o controle total da cidade. 

Mas nem só de modernidades vive a cidade; pubs estão espalhados pelo mapa, com bebidas e jogos de dardo.
A cidade é bem representada por seus diversos monumentos e construções históricos, como o Palácio de Buckingham, a Torre de Londres, a London Eye (roda gigante), a Tower Bridge, entre outros.

Eyes Without A Face

A mecânica de recrutar qualquer NPC é tanto o ponto forte quanto o ponto fraco do jogo.
Por um lado, tal premissa agrega à experiência de jogo, com o uso de personagens com diferentes habilidades e atributos, gerando diferentes abordagens e podendo gerar momentos cômicos ou mesmo modificar a dificuldade de uma invasão ou combate dependendo do personagem habilitando no momento.

Recrutar idosos é sempre divertido, até o momento em que eles são detectados e precisam correr…


Em contrapartida, a falta de um personagem fixo causa estranhamento e deixa a história mais focada na causa e menos em seus protagonistas.
Além disto, os NPC’s, embora bem modelados e com diversas customizações de roupas disponíveis, não possuem o mesmo nível de detalhamento de um personagem próprio.

O resultado não é ruim, mas a torna a experiência mais genérica, embora compatível com a narrativa, e parece o caminho natural de evolução da série.

Hollidays In The Sun

Graficamente, Londres é muito bem representada em seus pontos turísticos e na “claustrofobia” das ruas apertadas, onde pilotar carros torna-se um desafio maior (aumentado pela mão inglesa), fazendo das motos o veículo ideal por terra (há iates na parte aquática). A dirigibilidade é a melhor da série, tendo evoluído consideravelmente desde o primeiro título.

A dirigilidade é uma das melhores evoluões na série


Os personagens, agora todos NPC’s, possuem bastante diversidade de raças e indumentárias mas, como citado anteriormente, apresentam a característica genericidade dos personagens de mundo aberto.

Já a trilha sonora possui uma excelente variedade de bandas e artistas, muitos deles britânicos, entre Anaal Nathrakh, Architects, Bach, Blur, Bring Me the Horizon, Fatboy Slim,   Gorillaz, Jamiroquai, Lily Allen, Mozart, Muse, Strauss, The Chemical Brothers, The Libertines, The Prodigy e Wagner, para citar alguns.

Além das rádios de música, existe uma estação com podcasts sobre os temas do jogo.
Não apenas os podcasts, como todos os personagens do jogo possuem um excelente trabalho de dublagem em inglês (não joguei com o áudio em português, embora exista também esta opção).

RESUMO DA ÓPERA:
Legion é um importante passo na evolução e consolidação do estilo da franquia.
Apesar da falta de um protagonista causar uma sensação genérica nos diversos NPC’s recrutáveis, as diferentes habilidades e vantagens ou desvantagens compensam tal aspecto, criando situações únicas.

O sistema de combate corpo-a-corpo foi uma boa inclusão, bem como a melhoria na dirigibilidade.
Para os corajosos de plantão, o modo Permadeath pode ser habilitado, criando mais tensão nos momentos de perigo, onde qualquer personagem pode ser perdido definitivamente (sem este modo ativo, alguns personagens ainda são passíveis de morte, mas a grande maioria sofre lesões ou prisões que os tiram de atuação por um período de minutos variado).

Os gráficos ficam na medida com relação aos personagens, mas destacam-se na bela reprodução de uma Londres futurista.
A história é recheada de espionagem e reviravoltas, além de aprofundar-se em temas mais sombrios da distopia londrina (destaque para o arco de Skye Larsen).

O modo online será lançado futuramente (ainda em Dezembro de 2020).

Watch Dogs Legion é o jogo que define o ritmo da franquia, que começou um tanto perdida e foi achar-se no segundo título.
Uma experiência curiosa e diferente dos demais open worlds, Watch Dogs Legion merece atenção; embora a versão testada aqui seja a de PS4, o jogo recebe melhorias gráficas na nova geração, com uso do já famoso ray tracing.

PONTOS POSITIVOS:
– surpresas ao recrutar diferentes agentes
– história envolvente
– uma distopia bem construída
– trilha sonora primorosa
– combate corpo-a-corpo dando melhor ritmo ao jogo

PONTOS NEGATIVOS:
– a falta de um protagonista fixo
– os convencionais bugs de mundo aberto
– mão inglesa (que você percebe sempre quando está quase batendo o carro)

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