
* Esta análise foi feita com o código cedido pela DANGEN Entertainment (versão PS4/PS5)
Distribuidora: DANGEN Entertainment
Produtora: X PLUS Company Limited
Plataforma: PS4 / PS5 / Xbox One / Xbox Series X / Xbox Series S / Switch / PC
Mídia: Digital
Ano de Lançamento: 2021
Smelter é um jogo de plataforma e também um jogo de estratégia e microgerenciamento, onde Eva deve procurar Adão após a expulsão do Éden, ao lado de Smelter, que precisa expandir seu reino pelas Rumbly Lands.
O Mito da Criação Abraâmica
A criação dos primeiros humanos por Javé (YAHWEH) nas três principais religiões atuais possui pequenas diferenças.
Adão é feito à imagem e semelhança de Deus e Eva é feita a partir de uma costela de Adão sendo, portanto, subserviente ao mesmo.
Eva é tentada pela Serpente a comer a maçã do conhecimento e a oferece a Adão, sendo o motivo da expulsão de ambos do Éden na versão cristã.

No islamismo, tanto Adão quanto Eva são responsáveis pelo pecado original.
A maçã revela à dupla o conhecimento sobre o Bem e o Mal e, consequentemente, representa a perda da inocência.
No entanto, em algumas tradições judaicas mais antigas (Talmude), há uma mulher antes de Eva.
Lilith é feita à imagem e semelhança de Deus, sendo a contraparte equivalente a Adão mas, por não aceitar a submissão é banida do Éden, ao passo que Eva é criada da costela de Adão para que seja submissa ao mesmo.
Lilith e O Sagrado Feminino
Há diferentes versões do destino de Lilith, sendo ela banida para o Limbo ou a Escuridão e tornando-se a responsável por parir demônios (após a cópula com Samael, o arcanjo caído que se torna a Serpente do Paraíso e, portanto, Satanás) ou sendo responsável por roubar bebês.

Sua origem parece remontar à Inana ou Ishtar (respectivamente mitologias suméria e babilônica), deusa do amor, erotismo, fecundidade e fertilidade.
Sob o nome Ishtar, é associada à Afrodite (ou Astarte).
Ishtar é também o nome pelo qual ficou famosa no épico Gilgamesh (o primeiro conto escrito da humanidade).

Lilith parece uma corrupção do Sagrado Feminino, nome que se dá à crença nas deidades femininas comuns nos primeiros cultos e religiões.
Sendo a mulher aquela que gera e dá à luz à humanidade, era comum às primeiras civilizações cultuarem figuras femininas como principais ou, conquanto, equivalentes em poder às figuras masculinas.

As religiões abraâmicas (judaismo, cristianismo e islamismo) suplantaram o Sagrado Feminino com a cultura de um só deus, sendo ele representado por uma figura masculina.
Neste ponto, Eva como a responsável pelo pecado original e, portanto, pela corrupção da humanidade, torna-se um ponto central para a conspurcação do Sagrado Feminino na sociedade contemporânea.
Por este motivo Lilith tornou-se um símbolo mitológico do feminismo.
Adão e Eva Às Avessas
O jogo começa com Adão e Eva vivendo tranquilamente nos Jardins do Éden, até Adão comer o Fruto Proibido.
Neste momento Deus lança uma explosão (old school Jeová) e lança Eva num abismo.

Eva acorda em uma misteriosa caverna e não encontra Adão, e sim Smelter, uma criatura voadora que está presa em uma ante-sala da caverna.
Após libertar Smelter, este sugere cooperação, encaixando como um capacete na cabeça de Eva, que passa por uma transformação (ao melhor estilo Sailor Moon).
Um Misto de Megaman e Metroidvania
Eva percorre fases sidescrolling, utilizando Smelter como armadura, adquirindo novos poderes.
As fases são adaptadas ao poder equivalente, mas a partir de certo momento, quando é possível alternar rapidamente entre eles, ficam acessíveis segredos que requerem habilidades extras e upgrades da armadura em questão.

O gameplay nestas fases assemelha-se ao de Megaman, sendo até mesmo o ato de escalar com pulos “quicando” na parede; em algumas destas sessões, existem desafios extras, como fugir de pilares com espinhos enquanto a tela se move junto ou evitar os níveis de água (água?) que sobem e ferem Eva.

Há segredos como coletáveis (gemas verdes) e destrutíveis (Moxies, minérios azuis), além de desafios em portas de pedra.
Estes desafios consistem em quatro tipos: não ser visto, não morrer, não ser atingido e completar o percurso dentro do tempo limite.
Uma mini sessão com contador de tempo é ativada e, ao final dela, Eva encontra uma moeda/insígnia, que servirá para upgrade em uma das habilidades de Smelter.
Expandindo Seu Reino
Entre as fases de plataforma, você controla Smelter individualmente, em um RTS (Real Time Strategy, Estratégia em Tempo Real).
Sobrevoando o mapa, ele precisa construir estruturas para aumentar seu poder sobre as terras e avançar para novos terrenos.

A dinâmica se dá da seguinte forma:
Casas – a moradia dos Zimmers, necessárias para expandir a população;
Santuários Orcharion – responsáveis pela produção de maçãs verdes (a comida dos Zimmers);
Barracas – morada dos Zimmers guerreiros, que defenderão estruturas próximas;
Torres – semelhante às barracas, mas estas abrigam Zimmers arqueiros, igualmente necessários para proteção de estruturas.

É importante observar o equilíbrio entre estruturas e itens para manter o reino próspero.
Maçãs são importantes para criar novos Zimmers; caso o número fique negativo e não sejam construídos novos Santuários, a população começa a lentamente morrer de fome.

Já as Casas são importantes para gerar novos Zimmers, que servirão para ocupar Barracas, Torres e Santuários.
A expansão se dá através da construção de estradas e estruturas, ocupando cada vez mais os espaços do mapa, não deixando que o inimigo destrua as construções.
Caso uma estrutura seja danificada, ela pode ser reparada posicionando Smelter sobre a mesma e apertando R1 (no caso do PlayStation).

Smelter em sua forma natural, enquanto monstro voador, pode disparar diferentes projéteis nos inimigos e sua mobilidade aérea ajuda durante as invasões de inimigos, que atacam em massa quando algum evento de expansão é iniciado.
Tais eventos consistem em ativar pilares e protegê-los e/ou levar energia para eles enquanto um dos generais Zimmer e seu grupo concentram-se nos pilares para desativar o campo de proteção de algum local (que se tornará uma fase 2D visitável).
O mesmo se dá com canhões para destruir muros intransponíveis.
Para destruir as rochas/montanhas que impedem a passagem de Smelter para outra parte do mapa, ele conta com os diferentes tipos de projéteis, obtidos nas fases 2D, baseados nas armaduras de Eva.

Desta forma, ambos os modos de jogo se retroalimentam: enquanto Smelter libera novas fases e upgrades das habilidades da armadura de Eva no RTS, Eva conquista novos tipos de armadura/projéteis para Smelter acessar novas áreas no RTS.
Unidos Como Um Só Guerreiro
Eva utiliza Smelter como armadura, possuindo três estilos, cada qual com suas habilidades e armas próprias:
Gurabi – elemento terra, funciona com socos e possui a habilidade de escudo de pedra, que serve para não ser carregado com vento ou mudanças de gravidade;
Eremagu – lança golpes elétricos como uma espada e saltos giratórios que causam dano de choque;
Nutoro – dispara tiros de energia e permite a Eva planar.

As demais habilidades e evoluções de cada estilo são obtidas através da conquista de pontos específicos do mapa na expansão territorial de Smelter.

Quando um inimigo é nocauteado, ficando próximo da morte, envolto por uma aura verde, é possível usar a habilidade de Smelter de lançar uma garra (L1) para absorver o inimigo, recuperando a vida de Eva. Da mesma forma, tal habilidade serve para utilizar postes elétricos que impulsionam Eva, vertical ou horizontalmente, ou mesmo atravessar paredes.

Além dos ataques normais de cada estilo, ao encher a orbe verde ao lado da barra de HP, é possível usar o próprio Smelter em forma “espiritual” para um único ataque de grande dano.Através de upgrades, uma barra secundária vai crescendo, permitindo mais usos do ataque especial.
A “Fauna” Do Pré-Mundo
O título possui uma grande variedade de inimigos, de dinossauros, lagartos e dragões, passando por cogumelos humanoides, morcegos e insetos, robôs e outras criaturas “eletrônicas”, além de soldados de pedra, etc.

Cada inimigo, por mais simples que pareça, possui função e posição determinantes no mapa. Não se engane, TUDO em Smelter é calculado milimetricamente, seja para ser uma ameaça ou um simples empecilho.
Este padrão pode ser notado, especialmente, durante os desafios. Estes posicionamentos e quantidades de inimigos denotam o cuidado dos desenvolvedores com cada aspecto do jogo.

Os chefes são grandes desafios, mas há formas diversas de enfrentá-los (com apenas uma exceção).
Você pode escolher como enfrentá-los, baseando-se na sua afinidade com cada elemento de ataque e seus upgrades.
Smelter aqui faz grande diferença com seu ataque especial, causando bastante dano.

A mobilidade durante tais combates também é importante, pedindo constante uso dos pulos duplos e dash ou outras habilidades.
Mas sim, se você for habilidoso o suficiente, pode derrotar chefes sem tomar dano ou sem usar a maior parte dos truques disponíveis; se você quiser ficar frustrado com a habilidade alheia, assista alguns vídeos no Youtube das batalhas contra chefes.

A Arte do Mundo Primordial
Smelter conta com belíssimos gráficos pixelados emulando 16-bits.
Personagens expressivos e carismáticos são encontrados ao longo da aventura, com animações bastante fluídas.
Os cenários nas fases variam entre cavernas, templos, cidades e áreas mais tecnológicas.
Controlando Smelter, você sobrevoa o mapa geral, visualizando áreas com vulcões, montanhas, árvores e lagos, que aos poucos vão sendo substituídos pelas construções de seu império.

A trilha sonora mistura guitarra e sintetizador, composta por Evader.
Os temas de abertura e encerramento são compostos por Manami Matsumae (Megaman e Shovel Knight).
Essa combinação é garantia de qualidade e músicas viciantes, com temas dinâmicos e agradáveis. Ao pausar o jogo, inclusive, a trilha sonora desacelera e fica com um efeito semelhante ao mono, como se a caixa de som estivesse abafada (uma gostosa sutileza).
Abaixo segue um pot-porri com algumas das faixas:
Desafios e Checkpoints
Grande parte do desafio do título se dá pela ausência de saves durante as fases 2D, ou seja, os checkpoints são válidos apenas enquanto o jogo estiver ativo.
Caso feche o jogo durante uma fase de plataforma ou o jogo seja reiniciado, o progresso da fase em si é perdido, o que me aconteceu na luta final, por conta de um patch lançado enquanto eu deixei o console em stand by (ok, eu deveria ter seguido jogando sem instalar o patch, mas distrações acontecem).

Já durante o modo RTS, é possível salvar manualmente a qualquer momento, então, se pretende parar de jogar em breve e acabou de liberar uma nova fase de plataforma, é recomendável salvar antes de adentrá-la.

A platina consiste em completar todos os desafios de cada região (um troféu para cada), obter todos os upgrades para cada poder (um troféu por poder), coletar todas as maçãs em todos os cenários (um troféu por mapa), quebrar todos os depósitos de Moxie em todos os cenários, troféus de upgrade de vida de Eva e da energia de Smelter, alguns troféus relacionados a derrotar números de inimigos com determinadas armas, coletar todos os esquemas (blue prints) de uma arma secreta, troféus relacionados a derrotar os chefes (um para cada chefe) e zerar o jogo.
Concluir todos os desafios de todas as regiões é, definitivamente, o troféu mais complexo de ser obtido, pedindo grande estratégia e reflexos.
RESUMO DA ÓPERA:
Smelter é uma curiosa mistura entre plataforma de ação 2D e jogo de estratégia com visão aérea (RTS). O tipo de combinação que é difícil de imaginar que um dia existiria, mais ei-la aqui, muito bem executada.
O fato do título conter dois estilos em um só abrilhanta o trabalho do estúdio japonês X Plus Company Limited.
A arte em 16-bits é composta por belos e complexos cenários, além de carismáticos personagens (especialmente com as expressões faciais ao melhor estilo manga/anime durante os diálogos).
A trilha sonora é cativante e possui temas que facilmente irão grudar no seu cérebro (tanto pelo ritmo quanto pela quantidade de vezes em que irá ouvi-los ao morrer e repetir continuamente alguns trechos).
Falando do desafio, ele possui boa progressão, ficando hardcore próximo ao final, especialmente nas lutas contra chefes.
Já as partes em RTS, que parecem muito difíceis antes do jogador entender bem o equilíbrio das forças, começam a tornar-se mais naturais com o decorrer da aventura, embora também haja trechos bastante desafiadores.
Uma obra de amor aos jogos (e fãs) de plataforma 16-bits e RTS, Smelter possui uma qualidade acima da média, colocando-o em alto patamar nos lançamentos de 2021.
Apesar de ter sido lançado ainda antes do meio do ano, figura facilmente entre os candidatos a Jogo do Ano.
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