
* Esta análise foi feita com o código cedido pela Untold Tales (versão PS4/PS5)
Distribuidora: Untold Tales
Produtora: Demagog Studio
Plataforma: PS4 / PS5 / Xbox One / Xbox Series S / Xbox Series X / PC / Android / iOS
Mídia: Digital
Ano de Lançamento: 2021

Golf Club Wasteland é um jogo de golfe pós-apocalíptico.
EXPLORAÇÃO ESPACIAL
A Terra entrou em colapso, mas o apocalipse foi um problema apenas para os pobres.
Os ricos fugiram para Marte, mas não abandonaram seu planeta natal.
Eles retornam eventualmente para o que sobrou da antiga humanidade… para jogar golfe!

Escombros, ruínas e destroços do que fora a nossa sociedade jazem em meio à fauna mutante, modificada pelos resíduos tóxicos, ainda presente no planeta.
O planeta natal dos humanos agora serve como um gigantesco campo de golfe, com os restos da antiga civilização servindo de obstáculos.
CHARLEY, O GOLFISTA SOLITÁRIO
Você controla Charley, que voltou à Terra para uma partida solitária de golfe e pela nostalgia do planeta.
Através do diário de Charley, descobrimos um pouco mais sobre a sua história. Ao final do jogo, sua história é completa por ilustrações sobre sua ida ao planeta vermelho.

Ele foi o piloto que levou os primeiros moradores para Marte, abandonando a Terra assim que se soube que não haveria escapatória para a vida no planeta.
Para desbloquear as passagens do diário, é preciso cumprir certos pré-requisitos, como o número máximo de tacadas, o que permite acompanhar toda a história de Charley e do colapso terrestre.

Durante sua jornada, o piloto é observado por um garoto albino (ao menos parece um garoto), além de interagir com alguns animais locais, como uma vaca (cujo úbere brilha), uma girafa albina, esquilos e pássaros.
Alguns animais são indiferentes às ações do jogador, apenas desviando da bolinha e voando para longe, enquanto a vaca come a esfera e alguns pássaros podem pegá-la e soltar em outro local, ajudando no deslocamento.
Há ainda alguns “seres” mutantes, incluindo plantas.
PLAYGROUND PÓS-APOCALÍPTICO
O golfe pode ser uma atividade relaxante ou estressante, dependendo do jogador.
Um jogo de paciência, exige precisão nas tacadas e cálculo de trajetórias.
Aqui, no entanto, as coisas são um pouco mais complexas.

Prédios em ruínas constituem obstáculos sólidos, com diferentes alturas de plataformas, sejam de concreto ou mesmo sacadas de metal.
O vidro pode servir de obstáculo na trajetória da tacada ou como um frágil piso, podendo quebrar-se a qualquer momento.

A eletricidade ainda está funcional em alguns pontos, movendo escadas rolantes em shopping center ou mesmo abrindo e fechando portas de arranha-céus.
Cortinas de ferro podem ser abertas acertando interruptores com a bolinha e canos interligam partes do cenário, sendo poderosos atalhos.
Campos tóxicos, lagos e bancos de areia constituem armadilhas para o jogador de golfe.
Há inclusive partes subterrâneas, como o metrô.
GOLFE, O ESPORTE ARISTOCRÁTICO
O golfe é um esporte criado na Escócia medieval, tendo seu primeiro registro no século XV.
Acredita-se que sua origem seja a Paganica (jogo de camponeses), esporte romano praticado com uma bola de pele ou couro cheia de penas e uma vara curva.
O objetivo do golfe é sempre acertar a bolinha no buraco, no menor número possível de tacadas.
Ao fazê-lo, o jogador dá a tacada inicial do “tee” e o número ideal de tacadas até o buraco com a bandeira marcando é chamado de par.

Para melhor exemplificar:
Se um buraco está a 8 tacadas do tee, ao concluir em 8 tacadas, o jogador executou um par, ou 0.
Se o jogador precisar de uma tacada extra para encerrar, ele executou um bogey (+1).
Já no caso de um birdie, o jogador concluiu com uma jogada a menos do que o necessário (-1).
Eagle é a jogada com -2, Albatroz -3, Condor -4 e Phoenix -5.
O Hole In One acontece quando o jogador consegue acertar a bolinha, de uma só vez, direto do tee para o buraco, sem que a bola pare no green.

Como podemos observar na explicação acima, a pontuação no golfe é “invertida”, ou seja, o objetivo é concluir cada buraco no par (0); cada jogada a menos do que o esperado é uma vantagem, por isto a pontuação é negativa e cada jogada acima do esperado recebe pontuação positiva, pois se somam à quantidade esperada, possuindo efeito negativo para a pontuação.
MINIMALISMO
Em Golf Club Wasteland, no entanto, não é necessário saber todas estas regras.
O título possui três modos de jogo/dificuldades: História (sem número de tacadas limite), Desafio (o par é estabelecido, sendo que a bolinha explode ao final das jogadas) e Ferro (desbloqueado após finalizar o jogo na dificuldade Desafio, o Modo de Ferro quase não permite erros, com número bastante restrito de tacadas).

O gameplay é simples e fluído: você utiliza o analógico esquerdo para escolher força e direção da tacada e a executa com o botão X (PS4).
É possível visualizar a área ao redor movimentando a câmera com o analógico direito e dar zoom in e out com L1 e R1, para observar melhor o mapa e calcular a trajetória da bolinha.
Parece fácil, não?
Bem, o fator do vento não é tão influente como em outros títulos do esporte, estando presente apenas em alguns cenários.
As diferentes superfícies, no entanto, modificam a velocidade e aderência da bolinha.
Escadas podem facilmente desfazer seu progresso, assim como tinta e líquidos derramados podem acelerar a jogada, aumentando a trajetória e fazendo-o passar do objetivo. Água e líquidos tóxicos anulam a jogada, desperdiçando a tacada e os bancos de areia interrompem completamente a trajetória, reduzindo também as tacadas executadas neles.

Alguns animais também interferem com as jogadas, sendo ao comer a bolinha ou empurrá-la.
Algumas plataformas móveis e portas automáticas podem interromper e/ou bloquear a passagem. De igual forma, é possível utilizar o cenário ao seu favor, rebatendo a bolinha em paredes ou aproveitando rajadas de vento para levar o objeto mais longe.
RÁDIO NOSTALGIA DE MARTE
Durante a visita de Charley ao campo de golfe, é possível ouvir a Rádio Nostalgia, transmitida diretamente de Marte.

A rádio conta com uma série de músicas de synthwave, bastante relaxantes e que combinam com a solidão distópica da Terra pós-apocalíptica e suas ruínas.
Organizada pelos músicos Igor Simić (Sérvia) & Shane Berry (Irlanda), a trilha sonora é embalada pelo estilo eletrônico que, embora não seja exatamente o meu estilo musical, casa muito bem com o jogo, tornando tudo mais imersivo.
Além da música, ouvintes contam suas histórias sobre a vida na Terra e tecem comentários sobre como é viver no planeta vermelho, onde os recursos são escassos, incluindo banhos de 30 segundos (pois não chove em Marte).
BELEZA DISTÓPICA
Minimalismo é a palavra chave de GCW e isto não é diferente em sua arte.
O gráfico simples realça as cores do uniforme espacial de Charley, bem como os elementos “extras” de cada cenário.

O “ar” possui um tom azulado no agora inabitado planeta Terra.
Uma aura fantasmagórica e desolada cobre as áreas abertas arruinadas, o concreto cinza contrastando com o neon colorido dos letreiros.
Carrinhos de supermercado, empilhados em uma inútil montanha de ferro retorcido.

Este clima de abandono e solidão permeia todo o jogo.
A única companheira de Charley é a Rádio Nostalgia, que toca continuamente enquanto ele navega com seu jetpack pelas ruínas da humanidade, avançando em seu mórbido passatempo, executado-o sobre o que um dia foi a realidade de seu povo.
TACO PLATINADO
A platina de Golf Club Wasteland possui um troféu realmente trabalhoso e que será o seu maior obstáculo: concluir o jogo no Modo de Ferro, com jogadas extremamente limitadas, sendo desbloqueado apenas após finalizar o jogo no Modo Desafio.

O restante da lista de troféus consiste em interagir com animais e objetos, sempre através das tacadas, além de troféus de progresso da história.
A dificuldade, claro, depende também de sua habilidade no esporte, calculando corretamente força e trajetória necessárias nas jogadas.
RESUMO DA ÓPERA:
Golf Club Wasteland é uma curiosa (e grata) surpresa no gênero dos jogos de golfe (ao qual eu sou um apreciador).
Escapando do lugar comum de ser apenas mais um jogo de golfe arcade, GCW possui uma narrativa intrigante, embalada pelas ondas da Rádio Nostalgia de Marte, com a trilha sonora de synthwave e as histórias dos antigos moradores do planeta Terra, agora residentes em Marte.
Enquanto eles relatam suas antigas vidas na extinta Terra (ou reclamam da sua nova vida no planeta vermelho), a desconexão de tais milionários com a realidade da raça humana “plebeia”, agora já extinta, fica cada vez mais evidente.

Não apenas moram em Marte, como se tornaram alienígenas de sua própria raça, tamanho o distanciamento em relação aos problemas dos meros mortais, incapazes de pagar pela salvação saindo do planeta.
O minimalismo do gameplay alia-se ao gráfico simples e colorido, com uma aura fantasmagórica de um planeta devastado, ainda com suas estruturas parcialmente de pé e preenchidas por uma “nova” vida, na fauna e flora modificadas pela mudança climática e ecológica.
Um jogo simples em essência, mas que nos leva a reflexões enquanto ouvimos músicas e histórias relaxantes, jogando golfe sobre uma civilização morta.
Poético e contemplativo, Golf Club Wasteland é uma experiência transcendental em um jogo de, veja você, golfe!