Review / Tutorial de Night Book

* Esta análise foi feita com o código cedido pela Wales Interactive (versão PS4/PS5)

Distribuidora: Wales Interactive
Produtora: Good Gate Media / Wales Interactive
Plataforma: PS4 / PS5 / Xbox One / Xbox Series S / Xbox Series X / Switch / PC / macOS
Mídia: Digital
Ano de Lançamento: 2021

Night Book é um FMV (full motion video) de suspense/terror sobre uma tradutora trabalhando remotamente como intérprete de francês e Kannar, enquanto vigia o pai pelo sistema de segurança da casa.

INTERPRETAÇÃO X TRADUÇÃO

Loralyn é uma intérprete de francês que está trabalhando em casa, no turno da noite, iniciando no caminho da tradução simultânea.
Grávida de Pearce, seu noivo, que está fora da Inglaterra negociando a construção de um empreendimento turístico nas ilhas Godshands.

Cody avalia Loralyn em sua nova jornada

Trabalhando remotamente para a empresa Glossa Lingua, sua intermediadora é Cody, sua chefe, que está avaliando seu desempenho na nova função.

Durante o jogo, há duas opções de trabalho: ajudar Max a falar com sua mãe, Jacqueline DuBois, ou mediar uma negociação sobre uma venda entre Carl e Théron.

KANNAR, O IDIOMA SAGRADO

Além do francês, Loralyn é fluente em Kannar, o idioma sagrado das ilhas Godshands, criado para falar com os espíritos.

Max mostra empolgado o livro escrito em Kannar para a mãe

O pai de Loralyn, Alecis, conheceu o arquipélago no passado, não tendo boa opinião sobre o local e sobre o fato do futuro genro estar trabalhando lá.
Atormentado por visões, ele permanece em um quarto isolado, sem contato direto com a filha, apenas via sistema de segurança ou através do telefone.

Carl oferece o livro à Théron

Durante o trabalho, Loralyn irá se deparar com um livro escrito em Kannar em duas situações diferentes: Max, querendo ler para demonstrar à mãe conhecimento sobre seu local de origem e Carl tentando vender o livro para Théron, que aparenta ser um estudioso/colecionador de artefatos.

BLACKSKY OS E TRABALHO REMOTO

O jogo se passa nas telas do sistema operacional BlackSky, no computador de Loralyn, por onde ela acessa o aplicativo Glossa Lingua, para trabalhar, e o sistema de câmeras de segurança, que Pearce implementou na casa e pelo qual também se comunica com a esposa.

O sistema compreende ainda um programa de conversas por texto (semelhante ao Skype), por onde alguns arquivos de texto podem ser enviados, e o e-mail pessoal.

Pearce conversa com Loralyn enquanto tenta finalizar o empreendimento nas ilhas Godshands

Gravado durante a pandemia, Night Book foi filmado também remotamente, sendo que nenhum ator contracena diretamente com o outro.
Uma forma inteligente de lidar com a situação atual em que vivemos, todas as interações se dão através de chamadas de vídeo no computador ou celular, casando bem o roteiro com a técnica de interpretação indireta.

DELICADAS ESCOLHAS

A Wales Interactive é provavelmente a maior empresa da indústria a trabalhar com o sistema FMV atualmente.
O Full Motion Video foi popular nos anos 90, embora a qualidade dos jogos da época fosse duvidosa, especialmente por lidar com muitas ações diretas dos personagens.

As decisões podem mudar o rumo de uma conversa (e a relação com o personagem em questão)

Em NB, assim como em outros jogos (tanto publicados quanto desenvolvidos pela Wales), o jogo se dá através de escolhas de ações e/ou pensamentos dos personagens.
Cada escolha afeta diretamente Loralyn ou algum dos personagens envolvidos, com diferentes consequências que levam a novos eventos, numa intrincada teia de conexões, desencadeando em múltiplos finais.

Imagem cortada para evitar spoilers

São 15 finais, compreendendo 244 escolhas possíveis, o que garante algumas boas horas de replay.
Os diferentes eventos e finais não apenas afetam o rumo dos personagens, como explicam algumas de suas ligações.

ESPÍRITOS ANCESTRAIS

O arquipélago de Godshands possui um folclore local que fala sobre os espíritos protetores dos manguezais.
O livro que dá nome ao jogo possui ligação com o folclore local, por estar escrito na língua sagrada local, o Kannar.

Alecis como embaixador da entidade

Ao ler um trecho do livro durante o trabalho de tradutora, Loralyn acaba por invocar um (ou seriam mais?) destes espíritos, que passa a interagir com o seu pai, já perturbado pela antiga visita ao arquipélago.
Alecis pode ou não estar trancado em seu quarto, dependendo de sua escolha no início do jogo, mas é usado como “porta-voz” da entidade, que quer afastar o empreendimento das ilhas.

INTERPRETANDO À DISTÂNCIA

Por se tratar de um jogo em vídeo, obviamente fica difícil de falar em gráficos, já que são atores reais e não representações tridimensionais. 

O sistema BlackSky, por onde a maior parte do jogo acontece, possui uma interface limpa e prática, mais prática do que os sistemas operacionais do mundo real, eu diria…
O título se passa em alguns cômodos da casa, bem como no escritório de Cody, a sala de Pearce e os locais de onde falam online os usuários do Glossa Lingua.

Alecis isolado em seu quarto, um homem atormentado por estranhas visões

O quarto onde Alecis se encontra possui diversos símbolos nas paredes e uma cama, um pequeno cômodo por onde o atormentado homem vaga, batendo nas paredes e encarando a câmera.
Loralyn transita entre alguns cômodos, ficando mais na sala, onde seu computador está e por onde interage com os clientes.

Julie Dray dá um show de interpretação como Loralyn

O jogo conta com boas interpretações, especialmente de Alecis, interpretado por Mark Wingett, cujo desespero e terror pela entidade que o assombra transparecem em seu rosto cansado, com olhos injetados e expressão doentia, principalmente nos closes pelo celular, e Loralyn, interpretada por Julie Dray, cujas expressões de choro e gritos de pavor impressionam, além de demonstrar preocupação com a gravidez, acariciando constantemente a barriga.

Dica de saúde: não invoque espíritos durante a gravidez!

O jogo não possui tanto foco em trilha sonora, por focar-se mais na interpretação dos atores em três idiomas: inglês, francês e kannar (idioma fictício).
Conciliar a leitura das legendas em português com os diferentes idiomas sendo falados pode ser um desafio no início do jogo, mas é conduzido naturalmente no decorrer do mesmo.

A atriz belga Myriam Acharki interpreta Jacqueline DuBois, mãe de Max

PLATINANDO DESTINOS

A platina engloba alguns dos finais e certas escolhas durante a trama, mas não entrarei em detalhes por conta de spoilers.
Apesar de não ser uma platina complicada, envolve múltiplas runs e um pouco de teste para descobrir como acessar determinadas cenas.

Loralyn provando que as mulheres realmente conseguem executar múltiplas tarefas

Conforme joga, você pode avançar cenas já assistidas com o R1 (PlayStation), evitando precisar reassistir todas as cenas repetidas, mas cuidado: avançando você pode acidentalmente escolher a primeira opção marcada, então não fuzile o botão para evitar este tipo de erro.

RESUMO DA ÓPERA:
Night Book é um interessante thriller envolvendo espíritos malignos, um livro mágico, um homem atormentado e uma filha preocupada.
A trama possui curiosos desdobramentos e as ligações entre personagens são reveladas através de múltiplas runs.

A interpretação à distância é uma forma elegante de lidar com a Covid, ao mesmo tempo em que combina bem com o formato do roteiro, focando diretamente nas expressões dos atores, causando um forte impacto dramático.

As decisões com tempo (que pode ser desativado na opção para streamers) são simples, porém determinantes. Há mais caminhos escondidos do que o título aparenta a princípio, dependendo da linha de diálogo e leitura de textos escolhidas pelo jogador.

Uma ótima pedida para os fãs de suspense, Night Book possui várias horas de diversão ao se tentar desbloquear todas as possibilidades.
Provavelmente o melhor título da Wales Interactive (embora eu ainda goste muito de Late Shift e The Complex), apostando num caminho mais místico.

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